A liturgia da Igreja, na celebração da Semana
Santa, recebeu influências da liturgia do século IV, de Jerusalém. Esta é
chamada de mãe e mestra de liturgia. Tem a característica geográfica. Celebra
as festas ligadas ao lugar onde ocorreram os fatos. Procura reproduzi-las nos
gestos e palavras. Deste modo celebrava a memória do Senhor, tornando presente
seu mistério e sua força de redenção. A Procissão de Ramos é feita de Betfagé a
Jerusalém. Pude participar dela. É magnífica, sobretudo pela fé e entusiasmo
demonstrados pelos cristãos de origem palestina, cantando em latim e árabe:
“Canta Sião (Jerusalém) a teu Salvador”! A liturgia de hoje tem dois momentos:
a festiva procissão e a missa voltada já para a Paixão. Esse duplo momento quer
significar a glória da Ressurreição à qual Jesus chegou por sua Paixão. A
procissão nos traz a figura do rei pacífico que vem montado em um jumentinho,
como fez Davi e Salomão (1Rs
1,38), diferente da glória dos reis. O rei de Israel glorioso era Deus e
não o homem que governava. Jesus entra na humildade e na mansidão. Por isso
conquista o favor do povo. Os ramos são símbolo deste acolhimento ritual. Ele
vem para trazer a paz. O grito de hosana toca à divindade. A cidade, em seus
chefes, O recusa. A liturgia nesta primeira parte da celebração ensina-nos que
o cristianismo é festivo, alegre e feliz. É uma fé a ser levada para a grande
multidão. Não podemos nos satisfazer com uma vida entre quatro paredes, num
culto fechado. Ele deve invadir as multidões alegres por pertencerem a Cristo e
a seu Reino. Nosso povo é vibrante e alegre no futebol, no carnaval, nas
brincadeiras de sue cotididano. Podemos lembrar as visitas do Papa. O povo sabe
cantar, movimentar-se. Por que engessar a fé numa liturgia distante do povo?
Será que se liga com Deus que ama o povo? Jesus disse aos chefes que pediam que
mandasse as crianças se calarem: “Se calarem, as pedras gritarão” (Lc. 19,40).
Precisamos de uma fé menos carola e mais cristã comprometida com a vida, com a
alegria e com o povo sofredor que sabe ser alegre.
O Servo sofredor
A
liturgia passa, a seguir, à missa, na qual se tem o clima sério da Paixão, não
triste, pois Ele está vivo. O profeta Isaias dá-nos uma visão do sofrimento de
Cristo, numa profecia misteriosa. Um escolhido de Deus, o Servo sofredor, passa
pelo sofrimento, mas não se sente destruído, pois está firme Nele. Paulo, aos
Filipenses (2,6-11)
nos oferece a visão da humilhação de Cristo que O conduz à glorificação. Este
sacrifício de Cristo, a humilhação, nos traz a vida nova (prefácio). Os
sofrimentos de Cristo não são um fim em si, mas um caminho para a glória.
As pedras gritarão
Não
podemos calar nossa fé em Cristo, mesmo no sofrimento, pois é aí que vivemos o
fundamental da união a Ele. Sendo Deus, esvaziou-se e assumiu a forma de
escravo... até a morte de cruz (Fl 5,11). Unido aos seus sofrimentos participamos de sua vida e
da redenção que nos trouxe. Aprendemos a viver este mistério, ouvindo a
Palavra, como “abriu os ouvidos”, assimilando-a para que se torne vida. Se não
ocorrer esta união a Ele, não seremos
testemunhas. Deste modo, Deus pega as pedras e elas glorificam seu nome.
Participar da missa é unir-se ao Cristo que se oferece ao Pai pelo mundo (Pe.Gregório Lutz).
Nenhum comentário:
Postar um comentário