terça-feira, 14 de março de 2017

REFLETINDO A PALAVRA - “Bendito o que vem!”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
Festa para nosso Deus!
                A liturgia da Igreja, na celebração da Semana Santa, recebeu influências da liturgia do século IV, de Jerusalém. Esta é chamada de mãe e mestra de liturgia. Tem a característica geográfica. Celebra as festas ligadas ao lugar onde ocorreram os fatos. Procura reproduzi-las nos gestos e palavras. Deste modo celebrava a memória do Senhor, tornando presente seu mistério e sua força de redenção. A Procissão de Ramos é feita de Betfagé a Jerusalém. Pude participar dela. É magnífica, sobretudo pela fé e entusiasmo demonstrados pelos cristãos de origem palestina, cantando em latim e árabe: “Canta Sião (Jerusalém) a teu Salvador”! A liturgia de hoje tem dois momentos: a festiva procissão e a missa voltada já para a Paixão. Esse duplo momento quer significar a glória da Ressurreição à qual Jesus chegou por sua Paixão. A procissão nos traz a figura do rei pacífico que vem montado em um jumentinho, como fez Davi e Salomão (1Rs 1,38), diferente da glória dos reis. O rei de Israel glorioso era Deus e não o homem que governava. Jesus entra na humildade e na mansidão. Por isso conquista o favor do povo. Os ramos são símbolo deste acolhimento ritual. Ele vem para trazer a paz. O grito de hosana toca à divindade. A cidade, em seus chefes, O recusa. A liturgia nesta primeira parte da celebração ensina-nos que o cristianismo é festivo, alegre e feliz. É uma fé a ser levada para a grande multidão. Não podemos nos satisfazer com uma vida entre quatro paredes, num culto fechado. Ele deve invadir as multidões alegres por pertencerem a Cristo e a seu Reino. Nosso povo é vibrante e alegre no futebol, no carnaval, nas brincadeiras de sue cotididano. Podemos lembrar as visitas do Papa. O povo sabe cantar, movimentar-se. Por que engessar a fé numa liturgia distante do povo? Será que se liga com Deus que ama o povo? Jesus disse aos chefes que pediam que mandasse as crianças se calarem: “Se calarem, as pedras gritarão” (Lc. 19,40). Precisamos de uma fé menos carola e mais cristã comprometida com a vida, com a alegria e com o povo sofredor que sabe ser alegre.
O Servo sofredor
               A liturgia passa, a seguir, à missa, na qual se tem o clima sério da Paixão, não triste, pois Ele está vivo. O profeta Isaias dá-nos uma visão do sofrimento de Cristo, numa profecia misteriosa. Um escolhido de Deus, o Servo sofredor, passa pelo sofrimento, mas não se sente destruído, pois está firme Nele. Paulo, aos Filipenses (2,6-11) nos oferece a visão da humilhação de Cristo que O conduz à glorificação. Este sacrifício de Cristo, a humilhação, nos traz a vida nova (prefácio). Os sofrimentos de Cristo não são um fim em si, mas um caminho para a glória.
As pedras gritarão
               Não podemos calar nossa fé em Cristo, mesmo no sofrimento, pois é aí que vivemos o fundamental da união a Ele. Sendo Deus, esvaziou-se e assumiu a forma de escravo... até a morte de cruz (Fl 5,11). Unido aos seus sofrimentos participamos de sua vida e da redenção que nos trouxe. Aprendemos a viver este mistério, ouvindo a Palavra, como “abriu os ouvidos”, assimilando-a para que se torne vida. Se não ocorrer esta união a Ele,  não seremos testemunhas. Deste modo, Deus pega as pedras e elas glorificam seu nome. Participar da missa é unir-se ao Cristo que se oferece ao Pai pelo mundo (Pe.Gregório Lutz).

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