O sermão da montanha, de modo especial as bem-aventuranças,
é uma síntese do que é o cristão. Jesus diz que esta é a realidade do discípulo.
A proclamação solene da nova lei, pelo novo Moisés, não é uma “ordem” mas o
reconhecimento do que Deus faz em cada um. Ao dizer “vós sois o sal a terra...
vós sois a luz do mundo” (Mt 5,1.14), está ensinando que
as bem-aventuranças são o ser do cristão. É delas que tira o sabor e a
luminosidade. Ele diz: “Vós sois sal para a terra”. É para ela que Ele existe.
Não pertence à terra, mas será para ela. O sal é muito rico de simbolismo.
Neste evangelho se deve excluir o simbolismo destruidor. Era costume os
inimigos jogarem sal na cidade para deixá-la sem vida. Igualmente não tem o sentido que se tinha no
Batismo indicando a sabedoria. Esta é uma tradição dos novos povos do começo da
Idade Média. Jesus ensina que os discípulos, como sal da terra, são destinados
a exercer uma função para as pessoas. Se ele se torna insípido, sem sabor, não serve
para mais nada e é jogado fora. A “salubridade” do discípulo vem de sua união com Cristo que, com
sua vida, deu sabor ao mundo. Há também uma referência ao aspecto cultual. Nos
sacrifícios era necessário colocar um pouco de sal sobre as vítimas: “Salgarás
toda oblação que ofereceres e não deixarás de por na tua oblação o sal da
aliança de teu Deus; a toda oferenda juntarás uma oferenda de sal a teu Deus” (Lv 2,13). É aliança
eterna de sal (Nm
18,19). Tem sentido de conservação da
aliança.
Luz do mundo
O
Verbo de Deus, Jesus, é Luz e Vida (João 8,12).
Ele é a Luz. Dizendo que o cristão é luz do mundo, ensina que esta luz vem do
interior da união a Cristo na prática das bem-aventuranças. Os cristãos são
filhos da luz (1Ts
5,5). Paulo continua: “Agora que sois luz
no Senhor, andai como filhos da luz” (Ef 5,8). A
luz é colocada no alto para irradiar a fim de que todos vejam luz. Luz é o exemplo da vida nas boas obras. Essa
luz é Vida, como Jesus era a luz dos homens (Jo 1,4). A
luz das boas obras brilhará diante dos homens, como Jesus brilhou e iluminou.
Assim o cristão continua essa luminosidade. Rezamos na pós-comunhão: “Que
tenhamos a alegria de produzir muitos frutos para a salvação do mundo” A luz
não é para si, nem pode ser escondida. Isaias proclama que, com as boas obras,
a luz brilhará como a aurora. Ela é saúde e é garantia na oração. “Nascerá nas
trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio dia” (Is 58.7-10).
Para que glorifiquem o Pai
Ser sal tem também o sentido cultual. Pedro diz que
devemos “oferecer sacrifícios espirituais a Deus em Jesus Cristo” (1Pd 2,5), como diz Paulo (Rm 12,1). O
sabor da vida que as boas obras dos cristãos oferecem têm finalidade de culto a
Deus: “Para que, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai” (Mt 5,16). Esta é a
liturgia fundamental que culmina na celebração. Com sua vida, Jesus foi uma
oferta agradável de aliança que culminou na oferta sacrifical da Cruz. Cristo
tempera seu sacrifício com o sal do bem que fez. O discípulo assimila-se com o
Mestre: é sacrifício “vivo, santo, agradável a Deus: Este é vosso culto
espiritual” (Rm
12,1), em favor da terra. Os sacrifícios
são as obras das bem-aventuranças para que “glorifiquem o Pai que está no céu”.
Glorificar é entrar em comunhão. É a função redentora da vida dos cristãos. O
primeiro testemunho é a fé manifestada nas boas obras.
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