Torcato nasceu no seio de uma família romana do nome de “Turquatus romanus”, que nesse longínquo tempo vivia em Guimarães, que alguns séculos mais tarde viria a ser a cidade berço do reino lusitano. Diz-se que desde a sua juventude deu mostras de grandes virtudes que o levaram a exercer funções de responsabilidade. Uma delas, que viria a ser deter-minante na sua vida, foi aquela de Arcipreste da Sé de Toledo, já então famosa. O seu comportamento neste cargo foi motivo de admiração e de respeito da parte dos grandes príncipes da Igreja de então que o nomearam Bispo de Iria Flávia, ou Padrão, diocese situada na actual Galiza. Para conseguir exercer o papel de bispo, rezou à Virgem Maria — da qual era muito devoto — e pediu-lhe que o ajudasse a ser um bom bispo e amigo dos pobres. A firmeza e a eloquência da sua doutrina e da sua sabedoria ressaltaram no XVI Concílio de To-ledo, em 693, que o aclamou Arcebispo de Braga e pouco tempo depois do Porto e de Dume. A vida da região corria pelo melhor até que em 711 os árabes muçulmanos entrando pelo sul da península ibérica — comandados por Murça, general enviado por Tarik — começaram a conquistar aquelas terras, espalhando o culto a Alá e a Moamé em todas as regiões submetidas. Todavia Torcato não era homem facilmente influenciável, nem desprovido de audácia: o que para ele contava, não era a sua própria vida, mas a vida das “ovelhas” que o Senhor lhe confiara e a propagação do Evangelho. Claro que o que devia acontecer, aconteceu mesmo: o encontro entre os dois chefes: Torcato e Murça. O encontro entre o islamismo — representado por Murça — e o cristianismo — representado por Torcato — aconteceu perto de Guimarães. Murça encontrava-se ali com um numeroso e aguerrido exército, enquanto Torcato de nada mais se podia prevalecer, salvo a sua fé inquebrantável e alguns — há quem diga 27 — companheiros na fé. Muça, após ter ouvido um discurso do Arcebispo, desembainhou a espada e desferiu um golpe fatal sobre Torcato, fazendo o mesmo aos companheiros. Este facto parece ter-se passado em 26 de Fevereiro de 719, segundo os historiadores que se debruçaram sobre este acontecimento. O corpo do santo Arcebispo foi encontrado, algum tempo mais tarde, num bosque, junto a um regato. Ao ser retirado — segundo a tradição conservada até aos nossos dias —, do meio das silvas e do monte de pedras (exumação) brotou uma fonte caudalosa que ainda hoje se conserva, conhecida como Fonte de São Torcato. No local foi erigida uma capelinha em honra do santo, que se encontra hoje sepultado em câmara de vidro, no Santuário de São Torcato. Composto a partir de diversos documentos.
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