A festa da Transfiguração refulge no
tempo comum como indicação da meta de chegada do cotidiano de nossa vida em Cristo. Esse
evangelho da transfiguração é proclamado todos os anos no segundo domingo da
Quaresma, como explicação dos sofrimentos de Cristo. Tudo está em vista da
Ressurreição. Não são duas festas. Agora celebramos não no contexto da Paixão e
Ressurreição de Cristo, mas no contexto da vida de cada cristão que retoma o
caminho de Cristo. A transformação que se realiza em um momento da vida de
Cristo, para cada cristão se realiza lentamente. A transfiguração de Jesus é
uma manifestação clara da Trindade. O Filho leva os discípulos ao monte. O
lugar alto é o lugar do encontro com Deus. Ali os faz ouvir a voz do Pai que dá
o Espírito, simbolizado na nuvem. Ele manifesta sua ação na Ressurreição de
Jesus. Ao mesmo tempo entramos no mistério de Deus, como os discípulos que são
cobertos pela nuvem, presença de Deus. Entramos na glória do Filho de Deus.
Essa visão maravilhosa de Cristo na glória lembra a profecia de Daniel, cap. 7,
mostrando que o Pai dá ao Filho do Homem todo o poder e glória. Na certeza de
Cristo ser o Senhor, o salmo 96 proclama: “Deus é Rei! Exulte a terra de
alegria... Treva e nuvem o rodeiam”. Jesus Cristo participa da divindade do
Pai. Pedro foi testemunha ocular, por isso anuncia Jesus com segurança (2Pd
1,16-19).
Ouvindo
o Filho
As orações da celebração interpretam
este fato: “Jesus manifestou sua glória para que os discípulos não se
escandalizassem da cruz”... “Cristo manifestou o esplendor que refulgiria em
todos os cristãos” (prefácio). Indica a transformação que acontecerá com todos
os que ouvem o Filho. Esse é o plano do Pai: “Este é meu Filho amado, escutai o
que Ele diz”. Ouvir e obedecer em hebraico são o mesmo verbo que significa a
adesão total de nosso ser. Ouvir o Filho não é só um sentido humano, mas é estabelecer
com Ele uma união de vida que vem da Palavra. Ele é a Palavra que se manifesta.
Essa transformação acontece no sacramento da Eucaristia. Rezamos após a
comunhão: “O alimento celeste, por nós recebido, nos transforme na imagem de
Cristo, cujo esplendor quisestes revelar na sua gloriosa transfiguração”. Para
nós, essa experiência do sagrado não vem sem a cruz, pois Jesus diz aos
discípulos que Ele deveria sofrer. Vislumbramos a glória na Paixão.
Uma
experiência necessária
Pedro ensina a partir de uma experiência muito forte acontecida na
montanha. Moisés também subiu à montanha e voltou transfigurado. Como Pedro,
necessitamos de uma experiência profunda da glória de Deus para podermos ter a
ousadia de anunciar Jesus. Sem isso, nossa pregação pode fixar-se em fábulas,
mesmo que sejam muito bem fundamentadas. Passamos idéias bem organizadas sobre
Deus. O povo quer Deus. Fazemos a experiência de Deus seguindo Jesus rumo não a
uma montanha bonita, mas à gloriosa montanha do Calvário, sempre atentos em ouvir Jesus. O amor
a Jesus não é um sentimento, mas uma atitude de ouvir. Ouvir é a base de toda
pregação. A fé vem da pregação, diz São Paulo. É pelo ouvido que ela chega ao
coração. Pedro quis construir três tendas no alto do monte, naquela beleza, mas
Jesus desce a montanha. É na planície, no meio do povo, que vamos construir o
verdadeiro lugar do encontro com Deus, como Jesus na Encarnação e Paixão. Vamos
fazer visível ao mundo o rosto brilhante de Cristo mesmo na luta do dia a dia.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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