quinta-feira, 14 de maio de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Este é meu Filho amado”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Amores de Pai
            A festa da Transfiguração refulge no tempo comum como indicação da meta de chegada do cotidiano de nossa vida em Cristo. Esse evangelho da transfiguração é proclamado todos os anos no segundo domingo da Quaresma, como explicação dos sofrimentos de Cristo. Tudo está em vista da Ressurreição. Não são duas festas. Agora celebramos não no contexto da Paixão e Ressurreição de Cristo, mas no contexto da vida de cada cristão que retoma o caminho de Cristo. A transformação que se realiza em um momento da vida de Cristo, para cada cristão se realiza lentamente. A transfiguração de Jesus é uma manifestação clara da Trindade. O Filho leva os discípulos ao monte. O lugar alto é o lugar do encontro com Deus. Ali os faz ouvir a voz do Pai que dá o Espírito, simbolizado na nuvem. Ele manifesta sua ação na Ressurreição de Jesus. Ao mesmo tempo entramos no mistério de Deus, como os discípulos que são cobertos pela nuvem, presença de Deus. Entramos na glória do Filho de Deus. Essa visão maravilhosa de Cristo na glória lembra a profecia de Daniel, cap. 7, mostrando que o Pai dá ao Filho do Homem todo o poder e glória. Na certeza de Cristo ser o Senhor, o salmo 96 proclama: “Deus é Rei! Exulte a terra de alegria... Treva e nuvem o rodeiam”. Jesus Cristo participa da divindade do Pai. Pedro foi testemunha ocular, por isso anuncia Jesus com segurança (2Pd 1,16-19).
Ouvindo o Filho
            As orações da celebração interpretam este fato: “Jesus manifestou sua glória para que os discípulos não se escandalizassem da cruz”... “Cristo manifestou o esplendor que refulgiria em todos os cristãos” (prefácio). Indica a transformação que acontecerá com todos os que ouvem o Filho. Esse é o plano do Pai: “Este é meu Filho amado, escutai o que Ele diz”. Ouvir e obedecer em hebraico são o mesmo verbo que significa a adesão total de nosso ser. Ouvir o Filho não é só um sentido humano, mas é estabelecer com Ele uma união de vida que vem da Palavra. Ele é a Palavra que se manifesta. Essa transformação acontece no sacramento da Eucaristia. Rezamos após a comunhão: “O alimento celeste, por nós recebido, nos transforme na imagem de Cristo, cujo esplendor quisestes revelar na sua gloriosa transfiguração”. Para nós, essa experiência do sagrado não vem sem a cruz, pois Jesus diz aos discípulos que Ele deveria sofrer. Vislumbramos a glória na Paixão.
Uma experiência necessária
Pedro ensina a partir de uma experiência muito forte acontecida na montanha. Moisés também subiu à montanha e voltou transfigurado. Como Pedro, necessitamos de uma experiência profunda da glória de Deus para podermos ter a ousadia de anunciar Jesus. Sem isso, nossa pregação pode fixar-se em fábulas, mesmo que sejam muito bem fundamentadas. Passamos idéias bem organizadas sobre Deus. O povo quer Deus. Fazemos a experiência de Deus seguindo Jesus rumo não a uma montanha bonita, mas à gloriosa montanha do Calvário, sempre atentos em ouvir Jesus. O amor a Jesus não é um sentimento, mas uma atitude de ouvir. Ouvir é a base de toda pregação. A fé vem da pregação, diz São Paulo. É pelo ouvido que ela chega ao coração. Pedro quis construir três tendas no alto do monte, naquela beleza, mas Jesus desce a montanha. É na planície, no meio do povo, que vamos construir o verdadeiro lugar do encontro com Deus, como Jesus na Encarnação e Paixão. Vamos fazer visível ao mundo o rosto brilhante de Cristo mesmo na luta do dia a dia.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/

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