O encontro com Jesus em sua pessoa e em suas palavras não era sereno. Muitas vezes suas palavras se chocaram com as palavras dos homens. A própria Encarnação do Filho de Deus como pessoa humana já era uma palavra difícil. Toda vez que afirmava sua Divindade, a reação dos homens chegava a colocá-Lo em perigo: “E tomaram pedras para apedrejá-Lo” (Jo 10,31). Quando perdoa diz ao paralítico: “Teus pecados estão perdoados”, eles dizem: “Como é possível que Ele, sendo um homem, pode perdoar pecados?” (Mt 9,10). No discurso do pão da vida, quando afirma que devem comer sua carne e beber seu sangue, eles dizem: “Essas palavras são duras, quem pode suportá-las?” (Jo 6,60). Ao propor Seu caminho, apresenta-o como caminho difícil, pois tem que tomar a cruz e odiar tudo o que parece bom. Devemos entender o modo de falar por oposição, mas as palavras continuam duras. Suas palavras desmontam o sistema do pensamento espiritual dos fariseus e escribas que se julgavam conhecedores e donos da doutrina. Jesus critica-os fortemente: “Ouvistes o que foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo” (Mt 5,33). Em sua doutrina sobre o puro e o impuro, desbanca o conceito que possuem sobre pureza que era só exterior. Para Jesus a impureza está no coração de quem é mau e não nas coisas exteriores. Sua própria morte é resultado de sua doutrina e de sua vida. A dureza de Jesus não era contra estas pessoas, mas contra o mal que as prejudicava. Diz: “Transgredis o mandamento de Deus com vossa tradição” (Mt 15,3). Se comer sua carne escandaliza, o que será quando subir ao céu na sua Divindade? (Jo 60,62).
Palavra que direciona
No discurso sobre Pão da Vida, Jesus insiste que a fé é alimento. Comer a carne do Filho do Homem é crer Nele. Crer é fazer a obra de Deus: “A obra de Deus é que acrediteis Naquele que Ele enviou” (Jo 6,29). Isto é alimentar-se da carne de Jesus e viver o seu ensinamento que dá a vida eterna. Rompe-se assim o bloqueio que impede de aderir a fé. Por isso Pedro diz com clareza: “A quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que Tu és o Santo de Deus” (68-69). Esta palavra de Pedro é a aceitação da palavra de Jesus e de sua Pessoa como Salvador que dá vida. Vejamos como estamos distantes da Palavra de Deus. Aceitamos e acolhemos sua Pessoa e sua Palavra, mas nem sempre aceitamos como Vida. Procuramos viver a fé a nosso modo. Aceitamos o que nos convém. A Palavra de Deus não é para aprovar nossas ideias, mas para ser fonte de vida e de nossas ideias.
Dóceis à Palavra
Simão Pedro acolhe Jesus como Palavra de Vida. O nome Simão significa dócil à Palavra. Quando Pedro faz a profissão de fé dizendo “Tú és o Cristo, Filho de Deus vivo” (Mt 16,16), Jesus diz que esta afirmação foi o Pai que lhe revelou. Por isso Jesus diz que é o “Espírito dá Vida”. É Ele quem conduz a crer. “A carne não adianta nada” (63). A carne só vai valer se conduzida pela Palavra. O convite desta reflexão é que sejamos dóceis à Palavra. Ser dócil é acolher e por em prática. Comer a carne do Filho de Deus é crer e alimentar-se da Eucaristia que é a realização da fé para termos a mesma vida. As palavras duras se tornam suave alimento e caminho seguro da fé.
ARTIGO PUBLICADO EM AGOSTO DE 2012
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