domingo, 18 de dezembro de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Deus revela-se aos humildes”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Evangelho revelado aos pequeninos
 
Jesus, num assomo de entusiasmo, abre seu coração e revela profundos segredos que trouxe de junto do Pai. Revela-nos sua bela e constante união com Ele, na oração. Essa lhe brotava dos lábios espontaneamente em todas as circunstâncias. Oração, para Ele, era diálogo com o Pai. Sua oração é de agradecimento e louvor, como fará diante do túmulo de Lázaro: “Pai, eu te dou graças porque me ouviste” (Jo 11,41). Agradece pelo que faz a Ele e pelo que faz aos outros: “Eu te louvo, ó Pai, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25). Jesus revela também as escolhas do Pai: Cuidar dos pequeninos e dos humildes. Disse essas palavras depois que os 72 discípulos voltaram de sua missão e contaram as maravilhas operadas. Eles são os pequeninos, os humildes, que entenderam o anúncio do Evangelho e o levaram aos outros, que também, são humildes. Os entendidos e sábios, que ouviam Jesus, não tiveram a mesma experiência porque não se fizeram pequenos, como os discípulos. Isso é exclusividade dos pequenos? Os outros não terão acesso a esse ministério e a essa Palavra? Jesus já dissera: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3). A sabedoria de Deus é outra. Não é acúmulo de conhecimentos e ciências, mas o conhecimento do Pai. “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho ou aquele a quém o Filho o quiser revelar”(Mt 11,27). Nesse mútuo conhecimento há um mistério de pequenez na grandeza de Deus. O Filho se faz pequeno para acolher o Pai e o Pai se faz pequeno para acolher o Filho. Nesta pequenez está o Espírito como fluxo de amor, também Ele humilde, porque serve. 
Um Senhor diferente 
O profeta Zacarias, anuncia o Deus que vem ao encontro de seu povo. Lemos este texto no domingo de Ramos no Evangelho de Mateus (Mt 21,5). A diferença desse Senhor não está no domínio, mas na humildade de sua pessoa: “Eis que vem o teu rei, ao teu encontro. Ele é justo, Ele salva; é humilde e vem montado num jumento” (Zc 9,9). O salmo 144 reza essa realidade sempre presente nas Escrituras: “Misericórdia e piedade é o Senhor, Ele é amor, é paciência e compaixão. O Senhor é muito bom para com todos; sua ternura abraça toda a criatura” (Sl 144,8-9). A humildade de Deus se revela em sua bondade e ternura. Sua força está em eliminar o mal: “Ele quebrará o arco do guerreiro, anunciará a paz às nações” (Zc 9,10). Nas atuais circunstâncias da Igreja, vivemos um risco muito grande de uma soberba institucional. Os serviços se tornam lugar de orgulho e de prepotência, que na verdade repetem aquilo que Jesus diz: “Ocultastes estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos”. Não é por aí: Ele é manso e humilde. 
Pelo Espírito vivereis 
Neste contexto, Paulo faz o jogo entre viver segundo a carne e viver segundo o Espírito. Viver segundo o Espírito é condição para pertencer a Cristo. O viver segundo a carne, embrutece o ser humano a ponto de impedir que se abra ao Espírito, como lemos Jesus dizer no Evangelho: “Ocultaste aos sábios e entendidos”. Deus não oculta, mas revela a quem se abre na pequenez. A presença do Espírito é a garantia da revelação aos pobres e humildes. Por isso percebemos o quanto são capazes de entender o mistério de Deus. A Eucaristia, pequena, também ela, instrui-nos sempre mais ao acolhimento.
Leituras: Zacarias 9,9-10; Salmo 144;
Romanos 8,9.11-13;Mateus 11,25-30. 
1. Jesus abre o coração e revela segredos que trouxe do Pai: uma profunda união em oração e a predileção pelos pequenos e humildes. Sua oração é de louvor e agradecimento, como lemos no texto de hoje e na ressurreição de Lázaro. Os pequeninos são os discípulos que acolhem a revelação e anunciam aos outros humildes. Aos outros não é negada a revelação, mas eles se fecham. Por isso não lhes é dado conhecer. Abrir-se ao mistério de Deus é viver a Trindade. 
2. Zacarias anuncia um Deus que vem ao encontro de seu povo como um rei humilde. O salmo reza: “Ele é amor, paciência e perdão”. A humildade de Deus se revela em sua bondade e ternura. Sua força é eliminar o mal e implantar a paz. A Igreja tem que cuidar de manter esse projeto de Deus e não se deixar envolver pelo poder. 
3. Paulo faz o jogo de carne e Espírito. Viver segundo o Espírito é condição para pertencer a Cristo. Viver segundo a carne embrutece o homem e fecha-o à revelação de Deus. A presença do Espírito é a garantia da revelação aos pobres. 
Alegria de pobre 
Diz-se que alegria de pobre dura pouco. Jesus se alegra porque os pobres acolheram a Palavra de Deus. Para acolher Jesus é preciso ser despojado, pobre por dentro. O pobre, também o pobre de coração, tem a sorte de ter um pronto socorro sempre aberto: o Coração de Jesus. Não precisa esperar nem ser enrolado. Para ter este Coração é preciso viver segundo o Espírito. Aí a alegria do pobre vai durar. Somos pobres, sofridos! Por que não buscar conforto em Jesus?
Homilia do 14º Domingo Comum (06.07.2008)

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