«Maria Clara, um rosto da ternura e da misericórdia de Deus»
No dia 15 de junho de 1843, na Amadora, perto de Lisboa, no seio de uma família de origem nobre, nasceu uma menina a que foi dado o nome de Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles e Albuquerque. Órfã aos 14 anos, foi acolhida no Asilo Real da Ajuda, no qual recebeu, desde logo, uma formação humana e espiritual condizente com a sua posição social. Em 1862, deixou a referida instituição e foi acolhida como dama de companhia na família dos Marqueses de Valada, seus parentes.
Em 1867, intuindo no seu íntimo o chamamento do Senhor para a vida religiosa, transferiu-se para o pensionato de São Patrício, em Lisboa, junto às Terceiras Capuchinhas de Nossa Senhora da Conceição e em 1869, vestiu o hábito de terceira e assumiu o nome de Maria Clara do Menino Jesus.
Para poder superar alguns obstáculos postos pelas leis portuguesas, que proibiam qualquer forma de vida religiosa, a Irmã Maria Clara do Menino Jesus foi enviada, pelo orientador espiritual da Fraternidade das Capuchinhas, Padre Raimundo dos Anjos Beirão, à França, onde no Mosteiro das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras e Mestras de Calais, fez o noviciado e, em 14 de abril de 1871, emitiu os votos.
Logo após o seu regresso a Portugal, a Irmã Maria Clara foi nomeada Superiora do Convento de São Patrício e, sob a segura orientação do Padre Raimundo Beirão, iniciou um processo de reforma da comunidade das Capuchinhas, transformando-a no berço das Irmãs Hospitaleiras Portuguesas, com o nome de Irmãs Hospitaleiras dos Pobres pelo Amor de Deus. Em 1874, esta instituição foi reconhecida pelo governo português, como Associação de Beneficência e, em 27 de março de 1876, obteve a plena aprovação do Papa Pio IX.
A Congregação nascente teve, desde o início, um grande florescimento de vocações e de obras, mas, ao mesmo tempo, foi alvo de muitas calúnias e oposições. Apesar das muitas dificuldades, Madre Clara continuou serenamente a sua obra de apostolado, repetindo muitas vezes que “Nada acontece no mundo sem a permissão de Deus”. Na verdade, ela permaneceu sempre totalmente fiel ao Senhor e à sua vontade, dedicando-se por inteiro ao crescimento espiritual das suas irmãs e à realização de muitas obras de apostolado para bem de todas as almas.
Ao longo de 28 anos, presidindo aos destinos da Congregação, recebeu cerca de 1000 irmãs e com elas tornou-se, podemos dize-lo com toda a segurança, pioneira da ação social em Portugal, fundando mais de 142 obras, distribuídas por hospitais, enfermagem ao domicílio, creches, escolas, colégios, assistência a crianças e idosos, cozinhas econômicas, entre outras. Nestas instituições o pobre, o doente, o desvalido de toda a sorte, puderam conhecer o amor e os cuidados de mulheres dedicadas inteiramente ao serviço dos mais necessitados, experimentando assim a ternura e a misericórdia de Deus.
A exortação frequente: “Trabalhemos com amor e por amor” era a síntese do seu viver. Só a caridade a norteava. Toda a sua vida foi um gastar-se no labor contínuo de “fazer o bem, onde houver o bem a fazer", lema de ação do Instituto por ela fundado. Esta mesma ação foi estendida, progressivamente, a Angola, Goa, Guiné e Cabo Verde.
A Irmã Maria Clara do Menino Jesus faleceu no Convento das Trinas, em Lisboa, no dia 1º de dezembro de 1899, com 56 anos, vítima de doença cardíaca, asma e lesão pulmonar. Foi sepultada três dias depois, no cemitério dos Prazeres, acompanhada de enorme multidão de fiéis que reconheciam a sua santidade.
Sepultada no Cemitério dos Prazeres, foi trasladada, em 1954, para o Convento de Santo Antônio, em Caminha, e repousa, a partir de 1988, na cripta da Capela da Casa-Mãe da Congregação, em Linda-a-Pastora, Queijas, Patriarcado de Lisboa, onde acorrem inúmeros devotos a implorar a sua intercessão junto de Deus.
21 de maio de 2011 foi o dia escolhido pela Sé Apostólica para a beatificação de Maria Clara do Menino Jesus, em Lisboa, cidade onde morreu a nova beata. A Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, foi fundada pela Irmã Maria Clara do Menino Jesus e pelo Padre Raimundo dos Anjos Beirão.
A Irmã Maria Clara do Menino Jesus fez da sua vida um verdadeiro “lava-pés”, no serviço aos irmãos mais necessitados, norteada pela sua forte adesão a Jesus, seu Mestre e Guia. Só uma alma de fé poderia levar a cabo tão grande empreitada de amor. Eis algumas das suas máximas que nos sintetizam a sua grande fé e que por certo são o segredo da sua obra:
“Trabalhemos com fervor e verdadeiro espírito de fé, essa fé que opera prodígios!”
“É necessários sermos generosas para com Deus que tão generoso tem sido para conosco”.
“Trabalhando, amando e esperando, teremos correspondido à vocação a que Deus nos chamou”.
“Todo o tempo que por Deus não é ocupado, é perdido para a eternidade”.
“Trabalhemos unicamente para testemunhar ao bom Deus o nosso reconhecimento pelo muito que nos deu!”
“Recebei tudo como vindo das mãos do Senhor que tudo permite para nosso bem”.
“A paz é o verdadeiro prémio dos que servem bem ao Senhor”.
“Amemos a Quem tanto nos tem amado e continuamente nos está fazendo bem”.
“O Sol da Justiça pode eclipsar-se por um momento, mas é para depois reaparecer com mais esplendor”.
“A pessoa humilde atrai sobre si as graças do céu”.
“Um olhar providencial de Deus vela por nós”.
Fonte: (excertos) Pe. Marco Martinho - Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus Milagroso - Pico, 9 de abril de 2011
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