Somos a religião do ouvido, pois estamos sempre abertos a ouvir o que o Senhor quer falar (Is 50,5). Na história do povo de Deus podemos ver tantas vezes que Deus fala com seu povo através dos profetas. A carta aos Hebreus diz: “Muitas vezes e de diversos modos falou Deus, outrora, aos pais pelos profetas; agora ... falou-nos por meio de seu Filho” (Hb 1,1-2). Jesus, durante os 3 anos que anunciou o Reino, falava ora ao povo ora aos discípulos em particular. Os primeiros cristãos se reuniam para ouvir os ensinamentos dos apóstolos. Reunir-se supõe sempre ouvir a Palavra de Deus. Por isso, a celebração de cada sacramento tem duas partes: liturgia da Palavra e liturgia do gesto sacramental. A espiritualidade cristã vai se nutrir dessa proclamação da Palavra. Nas liturgias é Deus que fala a seu povo. Toda celebração se torna uma revelação de Deus através de sua Palavra. Não vai dizer coisas novas, mas vai introduzir-nos em seu mistério pela Palavra proclamada. Quando nos reunimos em comunidade, somos convocados a estar atentos à Palavras. Somos a religião do ouvido. Não falamos muito na celebração, mas estamos atentos em ouvir. À medida que ouvimos, a Palavra cai em nosso coração e, como diz a parábola da semente (Mc 4,1-20), germina e produz fruto. Jesus queria que sua Palavra penetrasse todos os corações. O mesmo continua pedindo através da Igreja. Recebemos o Espírito Santo para nos abrirmos. Curiosamente a Palavra será sempre nova, por mais que seja a mesma sempre. Deus é tão bom que sempre abre os tesouros de seu coração através das palavras proclamadas. Sempre ela traz algo novo. Basta ter um coração renovado. A espiritualidade se alimentará dessa contínua novidade. Deus é sempre novo.
Celebrando o Mistério
A Palavra proclama a presença da Salvação realizada por Jesus em seu Mistério Pascal de vida, morte e ressurreição. Não celebramos um rito, mas a presença de uma Pessoa, Jesus, que se relaciona com Seu Pai num gesto de entrega e num diálogo amoroso. Jesus nos associa a si e com Ele vamos ao Pai. Esse é o culto que prestamos celebrando, através de símbolos. Participar de uma celebração não é só estar presente, ler um texto, comungar, rezar e ir embora achando que hoje o padre falou demais. Mas é, mesmo sem ter sentimentos especiais, unir-se a Cristo que se oferece ao Pai pelo mundo. Reunidos como comunidade, fazemos Corpo com Cristo. É difícil a gente entrar nessa dinâmica, mas é a única que pode favorecer-nos participar bem da celebração. Não é preciso ter uma consciência grande desse fato, pois quem o faz e Cristo. Nós o vemos na penumbra. Mas Ele o realiza conosco. Só o fato de estarmos presentes, já se realiza o mistério, pois é Cristo quem o faz. Quando maior consciência tivermos, maior será o proveito. Deus, contudo não trata seus filhos com dureza. Ele sabe de que material nos fez.
Fazendo comunhão
O que realiza fundamentalmente a celebração é a comunhão que o Espírito realiza em nós. Ao início da missa o celebrante diz que a “comunhão do Espírito Santo esteja convosco”. Essa comunhão é o fundamento da celebração. O Espírito faz de nos um corpo, Corpo de Cristo. Não somente nos une a Cristo, mas nos une entre nós, os membros. A comunidade não é mais um ajuntamento, mas um único corpo. A força do Espírito transforma o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Cristo. Essa mesma força nos transforma em Corpo de Cristo. Assim rezamos: “pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos reunidos pelo Espírito Santo, num só Corpo”. Esse é o maior dom do Espírito.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM SETEMBRO DE 2007
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