quarta-feira, 1 de junho de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Este é meu Filho amado”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA CONSAGRADO
SACERDOTE NA PAZ DO SENHOR
Amores de Pai
 
A festa da Transfiguração refulge no tempo comum como indicação da meta de chegada do cotidiano de nossa vida em Cristo. Esse evangelho da transfiguração é proclamado todos os anos no segundo domingo da Quaresma, como explicação dos sofrimentos de Cristo. Tudo está em vista da Ressurreição. Não são duas festas. Agora celebramos não no contexto da Paixão e Ressurreição de Cristo, mas no contexto da vida de cada cristão que retoma o caminho de Cristo. A transformação que se realiza em um momento da vida de Cristo, para cada cristão se realiza lentamente. A transfiguração de Jesus é uma manifestação clara da Trindade. O Filho leva os discípulos ao monte. O lugar alto é o lugar do encontro com Deus. Ali os faz ouvir a voz do Pai que dá o Espírito, simbolizado na nuvem. Ele manifesta sua ação na Ressurreição de Jesus. Ao mesmo tempo entramos no mistério de Deus, como os discípulos que são cobertos pela nuvem, presença de Deus. Entramos na glória do Filho de Deus. Essa visão maravilhosa de Cristo na glória lembra a profecia de Daniel, cap. 7, mostrando que o Pai dá ao Filho do Homem todo o poder e glória. Na certeza de Cristo ser o Senhor, o salmo 96 proclama: “Deus é Rei! Exulte a terra de alegria... Treva e nuvem o rodeiam”. Jesus Cristo participa da divindade do Pai. Pedro foi testemunha ocular, por isso anuncia Jesus com segurança (2Pd 1,16-19). 
Ouvindo o Filho 
As orações da celebração interpretam este fato: “Jesus manifestou sua glória para que os discípulos não se escandalizassem da cruz”... “Cristo manifestou o esplendor que refulgiria em todos os cristãos” (prefácio). Indica a transformação que acontecerá com todos os que ouvem o Filho. Esse é o plano do Pai: “Este é meu Filho amado, escutai o que Ele diz”. Ouvir e obedecer em hebraico são o mesmo verbo que significa a adesão total de nosso ser. Ouvir o Filho não é só um sentido humano, mas é estabelecer com Ele uma união de vida que vem da Palavra. Ele é a Palavra que se manifesta. Essa transformação acontece no sacramento da Eucaristia. Rezamos após a comunhão: “O alimento celeste, por nós recebido, nos transforme na imagem de Cristo, cujo esplendor quisestes revelar na sua gloriosa transfiguração”. Para nós, essa experiência do sagrado não vem sem a cruz, pois Jesus diz aos discípulos que Ele deveria sofrer. Vislumbramos a glória na Paixão. 
Uma experiência necessária 
Pedro ensina a partir de uma experiência muito forte acontecida na montanha. Moisés também subiu à montanha e voltou transfigurado. Como Pedro, necessitamos de uma experiência profunda da glória de Deus para podermos ter a ousadia de anunciar Jesus. Sem isso, nossa pregação pode fixar-se em fábulas, mesmo que sejam muito bem fundamentadas. Passamos idéias bem organizadas sobre Deus. O povo quer Deus. Fazemos a experiência de Deus seguindo Jesus rumo não a uma montanha bonita, mas à gloriosa montanha do Calvário, sempre atentos em ouvir Jesus. O amor a Jesus não é um sentimento, mas uma atitude de ouvir. Ouvir é a base de toda pregação. A fé vem da pregação, diz São Paulo. É pelo ouvido que ela chega ao coração. Pedro quis construir três tendas no alto do monte, naquela beleza, mas Jesus desce a montanha. É na planície, no meio do povo, que vamos construir o verdadeiro lugar do encontro com Deus, como Jesus na Encarnação e Paixão. Vamos fazer visível ao mundo o rosto brilhante de Cristo mesmo na luta do dia a dia. 
Leituras:Daniel 7,9-10.13-14;Sl96;
 2Pedro 1,16-19; Marcos 9,2-10. 
1. A festa da Transfiguração repete o evangelho lido no 2º domingo da Quaresma. Lá tem o sentido de explicar o sofrimento de Jesus, que tem como meta a ressurreição. Hoje está direcionada para a transformação, que é seu sentido mais claro para nós. A transfiguração de Cristo dá-se em um momento, a nossa, no dia a dia. Jesus nos introduz no mistério da Trindade, como fez com os discípulos. 2. Ouvir o Filho é o mandamento do Pai. As orações da celebração interpretam o fato como manifestação da glória para que os discípulos não se escandalizassem com a morte de Jesus. Por outro lado, levam-nos a compreender nossa transfiguração que passa pela cruz, seguir o caminho ouvindo Cristo. 3. Toda a vida cristã é transfiguração, para que Cristo seja conhecido através de sua claridade em nós. Não vamos viver numa glória no alto da montanha da fé, mas no meio do povo, para onde Jesus se dirige depois da transfiguração. Vamos fazer visível ao mundo o rosto brilhante de Cristo, mesmo na luta do dia a dia. 
“Férias na Montanha” 
Jesus subiu a montanha. É um lugar muito bonito. Ali se transfigurou. Mostrou seu lado divino e indicou como Ele será quando ressuscitar dos mortos. Juntou gente naquela hora. Apareceram Moisés e Elias, gente graúda do Antigo Testamento. Com isso querem dizer que Jesus era o profeta e o legislador. Pedro, Tiago e João acharam ótimo aquilo. Pedro organizou a questão: ‘a gente faz 3 tendas para eles’. Era muito bom estar com Jesus naquela situação. Era a presença de Deus. Do céu vem uma voz que diz: “Este é meu Filho amado, escutai o que Ele diz!” Na realidade, Jesus estava dizendo como seremos, se o ouvirmos. 
Homilia da Transfiguração do Senhor 
EM AGOSTO DE 2006

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