Republicanos que somos, há uns tempos, engolimos mal, certos termos da tradição recente da Igreja que viveu a monarquia. Há uma festa grandiosa chamada “Cristo Rei”. É preciso superar esta linguagem que está encarnada no termo de “princesinha”, porque bonita e bem vestida; príncipe... prêmios de princesa e coroas. Quem não assistiu o casamento do príncipe inglês? No fundo a gente gosta. Ainda temos essa linguagem na Igreja. Isso, sem falar de outros títulos... Jesus disse: “Eu sou rei. Vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade, escuta minha voz” (Jo 18, 37). Jesus muda a conversa de Pilatos e indica que todo aquele que é da Verdade, escuta sua voz. A verdade é o testemunho de sua vida e de sua palavra. Caminhemos para a terminologia própria de Jesus: “O maior é aquele que está à mesa. Eu estou entre vós como aquele que serve” (Lc 22-27). Dizemos enfaticamente: “meu nome é serviço”. Jesus pode dizer meu ser é serviço vivido. Tudo o que fez, inclusive sua morte e ressurreição, foi um serviço. Deu a vida como serviço. É curioso como não conseguimos colocar nossa vida no caminho de Jesus. Por isso vemos que a Igreja perde seu sentido e continua mantendo certos costumes pouco cristão e alimentando “almas” que recebem Jesus, mas não assumem amor/serviço, núcleo do Evangelho.
Terra do acolhimento
Sempre falamos que devemos servir. Colocamos o serviço como sentido da vida. Mas nos esquecemos que devemos acolher. Amar e ser amado. Falamos que devemos amar. Desenvolvemos a teologia do amor, mas não a teologia do acolhimento do amor. Deixar-se amar. E temos uma explicação formidável. Jesus explica quando lava os pés dos discípulos numa atitude de serviço. No momento em que Jesus chega a Pedro, este diz: “Jamais me lavarás os pés”! Jesus responde: “O que faço não compreendes agora, mas compreenderás mais tarde” (Jo 13,8). Pedro então diz que quer que lave tudo. Jesus diz que ele já está todo puro. Na pureza da salvação, há a necessidade de lavar os pés uns dos outros e, o que não falamos, aceitar o amor que é oferecido, dado. É difícil aceitar ser servido. É quase humilhante para nosso orgulho. Aceitar ser amado exige dose alta de amor. Aceitar ser servido (não para quem usa os outros) é o desenvolvimento do amor. Cria-se, assim, o ambiente fraterno, como queria Jesus. E vemos ao final que Jesus diz que não precisa lavar tudo, pois já estão todos puros. A vivência do amor recíproco acolhe o serviço como dom e desenvolvimento do amor. Por isso, diz: “Deveis lavar-vos os pés uns dos outros” (id 14).
Prazer da aventura
Temos prazer nas aventuras da vida. Maior é o prazer nas aventuras do amor que Cristo nos ensinou como “seu mandamento”. O amor que nasce da doação da vida nos une a Cristo e, em certo sentido, nos iguala a Ele. Quando eu amo, é Cristo que ama. Quando sou amado recebo igualmente o amor como Cristo o recebe. O amor leva ao despojamento. Ele nos despe das inutilidades e nos leva ao núcleo do amor: amar como Cristo ama. Sua morte de Cruz, como entrega por amor, foi continuação de sua vida. Por isso disse a Pedro: Compreenderás mais tarde. A Paixão e Morte são a escola do amor maior. Jesus disse que “estais todos puros (limpos)”. É fruto da Paixão. O amor que Jesus teve em sua morte purifica. Acolhendo esse amor e levando-o à vida, continuamos sua Paixão redentora e gloriosa Ressurreição. Onde há amor, há passagem da morte para a vida.
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