Evangelho segundo São Lucas 17,26-37.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Como sucedeu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem:
Comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca. Então veio o dilúvio, que os fez perecer a todos.
Do mesmo modo sucedeu nos dias de Lot: Comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam.
Mas no dia em que Lot saiu de Sodoma, Deus mandou do céu uma chuva de fogo e enxofre, que os fez perecer a todos.
Assim será no dia em que Se manifestar o Filho do homem.
Nesse dia, quem estiver no terraço e tiver coisas em casa não desça para as tirar; e quem estiver no campo não volte atrás.
Lembrai-vos da mulher de Lot.
Quem procurar salvar a vida há de perdê-la e quem a perder há de salvá-la.
Eu vos digo que, nessa noite, estarão dois num leito: um será tomado e o outro deixado;
estarão duas mulheres a moer juntamente: uma será tomada e a outra deixada.
Dois homens estarão no campo: um será tomado e outro será deixado».
Então os discípulos perguntaram a Jesus: «Senhor, onde será isto?». Ele respondeu-lhes: «Onde estiver o corpo, aí se juntarão os abutres».
Tradução litúrgica da Bíblia
São John Henry Newman
Teólogo(1801-1890),
fundador do Oratório em Inglaterra
Sermão «A encarnação»,PPS,vol.2,n.º3
«Nos dias do Filho do homem»
Nosso Senhor e Salvador aceitou viver num mundo que O tinha repudiado; e viveu nele para morrer por ele no momento determinado. Veio como sacerdote designado para oferecer um sacrifício por aqueles que não participavam em qualquer ato de adoração. Morreu e ressuscitou ao terceiro dia, Ele que é o Sol da Justiça (cf Ml 3,20), revelando todo o esplendor que até então estava oculto pelas nuvens da manhã. Ressuscitou e subiu para a direita de Deus, para apresentar as suas sagradas chagas pelo nosso perdão, para reinar e conduzir o seu povo redimido, e derramar sobre ele, de seu lado trespassado, as maiores bênçãos. Subiu ao Céu, de onde virá no momento fixado, para julgar o mundo que redimiu. Elevou consigo a natureza humana, porque um homem nos redimiu, um homem foi exaltado acima de todas as criaturas, sendo um com o nosso Criador, e será um homem a julgar a humanidade no último dia (cf At 17,31).
Tão privilegiada é esta Terra que o nosso juiz não será um estranho, mas Alguém que é nosso igual, que apoiará os nossos interesses e simpatizará plenamente com todas as nossas imperfeições. Aquele que nos amou a ponto de morrer por nós foi misericordiosamente nomeado para atribuir a medida e o valor finais à sua obra. Aquele que aprendeu, pela sua própria fraqueza, a tomar a defesa dos fracos, Aquele que quer colher todos os frutos da sua Paixão, separará o trigo do joio, de modo que não se perca um só grão (cf Mt 3,12). Aquele que nos tornou participantes da sua natureza espiritual, da qual tiramos a vida da nossa alma, Aquele que é nosso irmão, decidirá sobre os seus irmãos. Que, nesta segunda vinda, Ele Se lembre de nós na sua misericórdia e terna piedade, pois Ele é a nossa única esperança e a nossa única salvação!
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