“Deus soube fazer jorrar a verdade de meus próprios erros e apoderou-se de mim pelos meios mais inesperados. E agora, com a sua graça, minha fé é íntima, consciente e tão profunda, que as pessoas ou coisas que me fazem sofrer por ela, não podem mais perturbá-la”.
Esposas, nunca se esqueçam disso: Deus JAMAIS as abandonará e SEMPRE ouvirá suas orações
Em 16 de outubro de 1866, nascia em Paris, Elisabeth Arrighi, jovem de boa condição financeira, bem-educada e de boa família católica. Seu nome de batismo Paulina Elisabeth Arrighi, Elisabeth tinha tido hepatite quando criança, que retornou ao longo de sua vida com ataques de gravidade variável.
Em 1887, ela conheceu o médico Félix Leseur (1861-1950), também oriundo de uma rica família católica. Pouco antes de se casarem em 31 de julho de 1889, Elisabeth descobriu que Félix havia deixado de ser um católico praticante. O Dr. Félix Leseur logo se tornou conhecido como materialista e colaborador de jornais anticlericais em Paris.
Assim conta Félix: “No momento de nosso casamento, me comprometera a respeitar as crenças de minha mulher e deixá-la praticar em liberdade. Mas logo comecei a suportar impacientemente outras convicções que não eram as minhas negações, e, como a neutralidade religiosa é uma burla nas relações particulares assim como nas instituições públicas, tomei Elisabeth como objeto do meu proselitismo às avessas. Pus-me a atacar a sua crença, esforcei-me para arrancar-lhe e, – que Deus me perdoe!- quase o consegui”.
Sua campanha ardorosa para esta conversão às avessas de sua esposa, a conduziu a certo esfriamento da prática religiosa. Ele buscava influenciá-la através de livros, que ele pensava que poderiam “ajudar”. Assim, deu-lhe livros de Renan, “História das origens do Cristianismo”, “A Vida de Jesus”.
Mas estes tiveram o efeito contrário… Sua alma reagiu diante da apostasia… e retornou para Deus, começando para ela uma fase nova: frequência dos sacramentos, ascese, oração e de formação.
Se Félix tem sua biblioteca anticatólica, ela inicia sua própria, com a leitura de São Jerônimo, São Tomás, São Francisco de Sales, Santa Teresa.
Ela escrevera: “Comecei a estudar filosofia e muito me interessa. Esse estudo esclarece muita coisa e põe em ordem o espírito. Não compreendo que não se faça dele o complemento de toda educação feminina”.
Os Leseur são um casal de seu tempo, de uma Paris efervescente: amigos, jantares, viagens internacionais. Cercados de amigos, mas praticamente todos partilhavam da aversão religiosa e da incredulidade de Félix.
Este seu percurso interior é extremamente só. E a Nosso Senhor ela diz na oração: “Sede Senhor, o caro Companheiro da minha solidão interior, o Hóspede divino de minha alma, vivei nela e dai-lhe sem cessar, na comunhão e na oração, as vossas mais íntimas graças. Fazei de mim o apóstolo do vosso Coração pela prece, pelo sofrimento e pela ação”.
E sua Vida Espiritual vai se aprofundando. Ela vai se tornando contemplativa, orante. Verdadeira mística, sem nada de extraordinário, exceto seu amor a Deus.
Aos amigos, aos incrédulos, buscará ajudar com suas palavras, com suas respostas cheias de convicção, com sua amabilidade e com sua amizade. Mas especialmente com sua oração e sacrifício. Ela diz: “Deus se encarrega de fazer por nós, e melhor que nós, o que sonhamos empreender. A influência que quiséramos exercer, Ele a emprega no bem das almas, enquanto nós Lhe oferecemos unicamente o nosso silêncio, a nossa fraqueza e inércia aparente”.
Para seu amado Félix, ela deseja que reencontre a Deus. Redobra as orações, os sacrifícios: “Meu Deus, dar-me-eis um dia… em breve... a alegria imensa de uma plena comunhão de alma com meu caro marido, de uma mesma fé e uma mesma existência completamente orientada para vós? Quero por esta intenção, redobrar as orações, mais que nunca suplicar, sofrer e oferecer a Deus comunhões e sacrifícios, a fim de obter essa graça tão desejada”.
Elisabeth sempre teve uma saúde frágil, e durante sua vida, as enfermidades se sucederam. Muitas vezes a obrigaram a longos repousos e a várias intervenções cirúrgicas. Deus a vai conduzindo ao Calvário: “Sofrer parece ser verdadeiramente minha vocação e o apelo íntimo de Deus para minha alma. E depois, sofrer me permite fazer obra de reparação, de obter – eu espero – as grandes graças que eu desejo tanto para minhas almas queridas, para as almas”.
Em meio a esta solidão interior e sofrimento físico, Deus lhe dá um grande conforto, durante uma visita ao famoso Hôtel-Dieu, de Beaune, ela conhece uma religiosa, Irmã Marie Goby, que será sua amiga. Que consolo uma verdadeira amizade espiritual! O contato epistolar entre as duas trará a Elisabeth muito consolo, já que com ela podia abrir sua alma.
Diz Nosso Senhor: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15,13). E Elisabeth ama profundamente seu esposo Félix, ama com aquele verdadeiro amor… Assim escreve: “Meu caro Félix, nem minha família, nem essas outras almas pelas quais tão pouco posso fazer, sabem talvez a que ponto eu as amo. Na “querida eternidade”, no centro do amor mesmo, é que gozaremos inteiramente esses afetos. Mas, meu Deus, como se pode amar quando não se ama em Vós?”.
E, por amor, desejava que ele conhecesse a Verdade do Evangelho, que ele experimentasse a felicidade que ela vivia, felicidade da Vida em Deus. Assim, em um momento decisivo, quando foi decidido que ela seria submetida a uma operação cirúrgica, ela faz com Nosso Senhor um “Pacto íntimo entre minha alma e Deus, meu coração e o Coração de Jesus”.
E nesta oração, de coração a Coração, que repetirá nos últimos anos de sua vida, ela se oferece por Félix, ela se oferece pela conversão do seu esposo. “Meu bom Salvador, entre o Vosso Coração e o meu é que se deve fazer esse pacto de amor, que Vos dará uma alma, e a mim, para a eternidade, aquele que amo e quero comigo no Céu”.
Assim, escreverá posteriormente Félix: “No momento em que foi decidida a operação que se tinha que fazer, concluíra com Deus uma espécie de PACTO oferecendo sua vida em troca da minha conversão. O seu sacrifício era absoluto e estava convencida que Deus o havia aceitado e que a chamaria para Si prematuramente. Mas, estava também persuadida que ele asseguraria a minha conversão. (…), ela própria me declarara algumas semanas antes de sua morte. Conversávamos uma tarde sobre Sua crença na vida futura e na Comunhão dos Santos, e ela terminou com esta afirmação dita com autoridade um tanto solene: ‘Virás encontrar-me, estou certa”.
A profecia de Elisabeth Leseur a seu marido
Deixemos que seja o próprio Félix Leseur a contar-nos:
“- Hei de morrer antes de ti – disse-me ela à queima-roupa, ao terminar uma conversa.
– Por que me dizeis isto? – respondi – como o sabeis?
–Sei, com todas as doenças que tenho tido e os vestígios profundos que elas deixam em meu organismo, isto é certo.
– Mas não, as saúdes delicadas são em geral as mais duráveis e a tua não está tão comprometida como o supões.
– Sim, morrerei antes de ti. E, quando eu morrer, hás de te converter e quando estiveres convertido, te farás religioso. Serás Dom Leseur ou o Padre Leseur. Serás o Padre Leseur.
– Mas é absurdo o que dizes. Conheces minhas idéias e meu agnosticismo só tem se acentuado, assim como a minha hostilidade.
– Verás – disse ela certamente para terminar – verás”.
Depois de longos sofrimentos, Elisabeth morre no dia 3 de maio de 1914, nos braços de seu amado Félix.
Mas, tudo estava por começar… A grande mudança só estava começando na vida de Félix Leseur. Assim, ele contará:
“Depois de sua morte, quando tudo parecia acabado para mim, achei o Testamento Espiritual, que redigira em minha intenção, e por indicação de minha cunhada, seu DIÁRIO. Mergulhei-me nessa leitura, li-o, reli-o e uma revolução operou-se em todo meu ser moral. Compreendi a beleza celeste daquela alma, que aceitara seus sofrimentos, os oferecera, mais até, que se oferecera e sacrificara principalmente por minha conversão”.
“Pouco a pouco, se abriram os olhos da fé. Senti Elisabeth, na aparência desaparecida, no entanto guiando-me”.
“Elisabeth me conduzia à verdade, e continua, bem o sinto no meu íntimo, a sustentar meus passos para uma união ainda maior com Deus”.
Em 1917, Félix publica o Diário da sua Elisabeth, fazendo que o mundo conhecesse a preciosa obra que Deus realizou na alma de sua esposa. E o segredo de Elisabeth, sua vida interior, que durante toda sua vida fora desconhecida para todos, especialmente para Félix, agora se fazia conhecida…
Assim, Deus realizava os desejos mais profundos que Elisabeth deixou escrito: “Que Ele me conceda a graça de ser apóstolo, e de fazer conhecer às almas, por meus exemplos e meus atos, a força e a vida que Ele traz a uma alma e como pode transformar um ente humano, mesmo fraco como eu. O Espírito Divino que fez de pescadores ignorantes, apóstolos de coração ardente, pode servir-se de mim para fazer algum bem; isso rogo-lhe com ardor”.
Em 1919, Félix entra no noviciado dos Dominicanos, seu nome religioso será Frei Marie-Albert Leseur, e em 8 de julho de 1923, menos de dez anos após a morte de Elisabeth, ele é ordenado sacerdote.
Dedicar-se-á a fazer conhecida a vida e espiritualidade de sua esposa, que ele assim descreve: “A existência de Elisabeth Leseur não apresenta, sem dúvida, fatos sensacionais; ela decorreu muito simplesmente no amor de Deus e do próximo, na unidade confiante da família e do lar, no cumprimento dos deveres de estado, de todos os deveres, na aceitação do sofrimento físico e moral, muitas vezes muito penoso, na resignação e submissão à vontade de Deus”; ela “prova que, uma senhora, tendo parte na vida mundana do século XX, casada com um incrédulo, é possível ter uma religião ativa e esclarecida, fortalecida na oração, inspirando seus atos e elevando-a aos cumes da perfeição cristã. Ela se torna assim, para qualquer senhora no mundo, um guia seguro, um apoio sólido, e seu exemplo é, nesse ponto de vista, um argumento apologético de primeira ordem”.
Ele se encarregará da publicação de seus escritos íntimos, cartas, etc., e de preparar a sua causa de beatificação, até sua morte em 1950.
Frei Marie-Albert Leseur |
O Postulador geral da Ordem dos Pregadores está buscando dar um novo impulso a causa de beatificação da Serva de Deus Elisabeth Leseur (1866-1914).
Hoje mais que nunca, precisamos do seu testemunho de fidelidade, sua profunda vida interior e sua vivência do Evangelho na vida cotidiana. Sua mensagem é atual e necessária ao nosso tempo atribulado.
Portanto, pedimos a todos que receberam graças (físicas ou espirituais), a todos que foram tocados pela vida e pelos escritos da Serva de Deus, o favor de entrarem em contato com a Postulação Geral dos Dominicanos:
Frei Llewellyn Muscat O.P.
Rezemos ao Senhor que nos conceda a graça da beatificação da Serva de Deus Elisabeth Leseur.
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