O
salmo nos leva a rezar: “Ensinais-nos a contar os nossos dias, e dai ao nosso
coração sabedoria” (Sl 89,12). Jesus
conta a parábola sobre o homem que teve uma grande colheita e se sentiu
garantido para gozar tantos anos, mas não se lembrou que a vida não depende
dele e lhe será tomada. Isso é a loucura. A liturgia da Palavra leva-nos à
refletir sobre a vaidade do acúmulo dos bens, pois mesmo que alguém tenha
muitos bens, a vida de um homem não consiste na abundância destes bens”(Lc 12,15). Para completar este pensamento, lemos no
Eclesiastes sobre esta vaidade de acumular e deixar para outro que em nada
colaborou (Ecl 2,21). Havia
uma mentalidade, que ainda existe em certos grupos cristãos, que a riqueza é
sinal da bênção de Deus. Jesus se contrapõe a isso com esta parábola. Jesus não
diz contra os bens, mas contra a ganância que pode endurecer o coração e deixar
a riqueza de Deus. Por isso indica o caminho para relativizar as riquezas com
seu devido uso não para si, mas para ser rico diante de Deus (21). O consumismo é uma idolatria (Cl 3,5). Jesus chama este tipo pessoas de sem inteligência (Lc 12,20). O grande pecado da humanidade, que é uma das
tentações que vemos no início do ministério de Jesus, é viver para as riquezas.
Isso invadiu todo o mundo. Aumenta os bens materiais, as possibilidades de vida
e aumenta o número dos necessitados. Os pobres sofrem mais não só por não ter,
mas pela doença da ganância que os toma também. Pior é a situação dos que
tiveram algo mais e foram vítimas da ganância dos outros. É o fracasso humano
que os afunda mais ainda. Complicado neste quadro é a busca da religião, de
Deus, da oração só para ter bem materiais. É a chamada teologia da retribuição:
Dizem que os bens materiais são bênçãos de Deus. E o que não tem bens, é
maldito? Jesus não diz isso.
Agir
como homem novo
A
leitura da carta de Paulo aos Colossenses responde ao problema das riquezas
vividas na ganância: “Se vós ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por
alcançar as coisas do alto, onde está Cristo... Aspirai às coisas celestes e
não às terrestres” (Cl 3,1-2). A Ressurreição
transforma também os valores humanos. Os bens são bons quando transformados em
bens eternos. Bens são para serem partilhados. Quem os tem não precisa ficar
sem, mas que os outros também não fiquem sem. D. Helder diz que não se deve
reverter o quadro dos pobres que ficam ricos e dos ricos que fiquem pobres. “Nem
ricos nem pobres, mas todos irmãos”. Ressuscitados no batismo, somos chamados a
viver uma vida nova. Paulo convida a fazer morrer ao que é da terra, isto é, viver
um modo de vida novo segundo o evangelho de Jesus.
Despojar-se
Jesus
indica esse novo modo de vida ao cristão: “A vida do homem não consiste na
abundância dos bens” (Lc 12,1).
Resume assim todo modo de viver o Evangelho. Em diversos lugares falou dos bens
materiais. Ele próprio deu o exemplo sendo despojado: “O Filho do homem não tem
onde repousar a cabeça” (Mt 8,20).
Paulo insiste na pobreza de Cristo: “Embora fosse rico, se fez pobre por causa
de vós, para enriquecer-vos com sua pobreza” (2Cor 8,9). O que deve ser abandonado são os vícios que nos
levam à pobreza moral, para chegarmos à riqueza dos bens materiais vividos no
espírito do Evangelho. Diz Paulo: “Vós vos despojastes do homem velho e de sua
maneira de agir e vos revestistes do homem novo que se renova segundo o
Criador” (Cl 2,3,9-10).
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