Os primeiros capítulos da Bíblia não contam
como aconteceram os fatos, mas como devem acontecer hoje. Valem primeiro pelo
conteúdo e depois pela beleza da história narrada. São narrados na bela forma
de fatos colocados nas origens para significar a realidade que se vivia no
momento em que foram escritos. Uma leitura fundamentalista não faz mais que
perder a riqueza do conteúdo. O texto da criação do homem revela-nos, no livro
do Gênesis, que o homem é o colaborador de Deus na obra da criação e
conservação do mundo. O homem não é um ser isolado, fechado em si como animal.
Ele vive para comunhão a mulher. Eles se completam. São duas partes do mesmo
ser carnal e espiritual. Eles estão acima da natureza criada não para subjugá-la,
mas para levá-la a sua realização. Quando Deus faz a mulher, usa linguagem
carinhosa de quem esculpe um objeto precioso. Deus tomou a costela do homem e
fez a mulher. Nas línguas semitas a palavra costela tem também o sentido de
vida. É a mesma vida. Deus dá a Adão um profundo sono. Significa o mistério que
cada pessoa possui. Não é um obstáculo nem submissão entre o homem e a mulher,
mas um caminho para a descoberta do outro na mútua entrega e conhecimento. Ser
uma só carne não se trata só de uma união amorosa, mas da totalidade de um ser
espiritual em duas partes que se atraem e se realizam. Os fariseus colocaram a
questão do divórcio. Eles se davam o direito de divorciar ao bel prazer, no
egoísmo. Jesus diz: “No começo não era assim”. A felicidade do homem está em
seguir o projeto de Deus que leva à realização. A quem apóia o divórcio
perguntamos: Que melhora o divórcio trouxe para o mundo? É mais que uma
diminuição do ser humano. Mas o matrimônio continua em seu vigor. Não podemos
medir o casamento pelos desacertos humanos, mas pelo que ele é em sua fonte.
Salvação por meio do sofrimento
A missão do casal cristão é manifestar ao mundo
a verdade de que o amor de Deus pode ser vivido em casal. Quando não tivermos
mais a família, não mais poderemos entender quem é Deus, pois o casal é uma
leitura do evangelho que mostra como é o amor de Deus. Podemos dizer que é o
evangelho lido na totalidade da pessoa humana que é espiritual, carnal e
intelectual. O sofrimento que traz não
se trata de dor, de falta de realização, de desgosto, mas de esforço para que
possam sempre mais apresentar a realidade Divina presente no coração humano, de
modo particular do casal.
Deixai vir a mim os pequeninos
O texto
pesado sobre o matrimônio se conclui com a beleza dos pequeninos acolhidos dentro
do matrimônio. A fidelidade matrimonial só será uma realidade se tivermos um
coração como das crianças que procuram Jesus com toda a liberdade e O acolhem
como pessoa e sentido de vida. Assim se iluminará para viver o caminho do amor
de Deus por nós em Cristo.
Não há nada que possa dizer ao homem que a palavra de Jesus
não seja possível em nossa vida. Mesmo nas dificuldades matrimoniais, as
dificuldades são um bem, pois promovem a busca de Jesus na busca das soluções.
Acolher o Reino é a solução para nossa vida. Não existem problemas insolúveis,
existem soluções a serem procuradas. O gesto de Jesus acolhendo as crianças é
um indicativo para nossa pastoral: abrir espaço para as crianças em nossas
Igrejas e celebrações e anunciar-lhes o evangelho como Jesus fazia, acolhendo-as
e abençoando-as.
Nenhum comentário:
Postar um comentário