Os discípulos de João e
dos fariseus estavam jejuando e os de Jesus não. Perguntam por que não
jejuavam. Jesus responde: “Podem os convidados de um casamento jejuar enquanto
o noivo está com eles”? Enquanto Jesus está com eles, não podem jejuar. “Quando
o Esposo, Jesus, for tirado, então jejuarão” (Mc 2,19-20). É um texto difícil.
O texto que segue ilumina esta passagem. “Ninguém põe remendo de pano novo em
roupa velha; porque o remendo de pano novo repuxa o pano velho e o rasgão se
torna maior”. O jejum dos fariseus e dos discípulos de João era outro, o do
Antigo Testamento. Se for realizado em um novo modo de ser, isto é, no de
Cristo, não vai ajudar. Fica pior misturar as duas mentalidades. “Vinho novo,
odres novos”! O Reino que Jesus implanta é algo novo. Não pode conviver com o
antigo. A mentalidade é outra. A nossa maneira de ser se esclarece na palavra
‘esposo’, nova presença. Por que se fazia jejum? Purificar-se? Jesus, tendo
realizado a purificação, abre um novo caminho, um novo modo de compreender o
jejum. Não se trata mais de passar fome, mas de deixar muitas coisas, mesmo
boas, para entrar na dimensão esponsal de Cristo, o noivo. É uma terminologia
nova para nós, à qual não estamos habituados. Por isso podemos perguntar:
quando o noivo será tirado, uma vez que está sempre presente? Vivemos a união
permanente com Cristo, na festa que nunca termina. Se o jejum é só tirar a
comida, não funciona. Mas é se tirar o que impede essa união, aí sim, é um
jejum que pode ser até de comida. O esposo é tirado quando rompemos a união com
Deus. Aí o esposo é tirado e jejuamos pela falta de amor, por culpa nossa.
Eu te desposarei para sempre
O profeta Oséias,
comparando o povo a uma esposa de Deus, esposo traído, anuncia a volta do
primeiro amor, amor da juventude quando o povo era fiel, nos tempos do deserto.
Jesus se chama de esposo – noivo – (Mc 2,19-20). Oséias escreve: “Eu te
desposarei para sempre, conforme a justiça e as práticas da misericórdia”. O
noivado-casamento de Deus com seu povo se realiza na santidade que é
misericórdia, perdão da infidelidade. O salmo 102 reza: “O Senhor é indulgente,
é favorável, é paciente, é bondoso é compassivo. Não nos trata como exigem
nossas culpas. O Senhor tem compaixão dos que o temem”. Deus não exige e não
cobra. Ele se oferece: “Eu te desposarei para manter a fidelidade”. Deus é fiel
a quem? A Si e a Seu amor, mesmo se formos infiéis. Não impõe, entrega-se como
fez entregando o Filho para realizar a promessa de nos acolher. Desposar,
casar-se, aqui não tem o sentido comum em que pensamos o matrimônio. Deus é o
modelo do matrimônio.
Carta escrita no coração
Lendo o texto de Paulo
aos Coríntios (2 Cor 3,1-6), em que nos escreve sobre sua ligação com esta
comunidade, lemos que ele não necessita de uma carta de apresentação, pois ele
a tem escrita no coração. Essa carta foi
escrita por ele no coração de cada um ao anunciar Jesus. Foi escrita com o
Espírito Santo. O Espírito é a tinta de amor que escreve em nossos corações a
apresentação que fazemos de Jesus àqueles que amam. Cada um é um anúncio vivo
dessa força que necessita de odres (vasilhas) novos para guardar o vinho novo
do amor. O verdadeiro jejum é o amor que tudo rege e anima. O verdadeiro jejum
é unir-se a Jesus Cristo, inscrevendo-o em nosso coração.
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