PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
55. Como um
amigo fala com seu amigo
Por muitos motivos a oração tornou-se um
tanto difícil para as pessoas. Basta falar em rezar que logo vem sono. Uma
amiga, dona Beni, dizia que ‘o terço é o melhor anestésico’. Basta começar a
rezar que pega no sono. Por que nossas orações são tão chatas? Certo que para
alguns não. Para outros é um sofrimento. O motivo é que em nossas orações não
falamos com Deus, mas recitamos fórmulas sem coração. Falar em orar, é pensar
em estar diante de Deus, como Moisés, face a face. “E falava o Senhor a Moisés
face a face, como qualquer fala com o seu amigo” (Ex 33,11). O que se faz? Conversa-se. Os amigos têm
assuntos que não acabam. O primeiro aspecto desta conversa é ser amigo. Mas não
é falta de respeito? O respeito não tira a proximidade, pois respeito é amor.
Deus “quer ser tratado com a confiança e a liberdade do filho para com sua mãe”
(S. Afonso - Modo de conversar familiarmente com Deus). É bom ter Deus como o
amigo com o qual eu falo à hora que quero, o que quero, por quanto tempo quero.
Para isso é preciso ter a consciência de que Deus é o outro que está próximo,
que quer entrar em diálogo conosco, que se interessa pela minha vida e tudo o
que é meu Lhe é importante. Moisés falava com Deus como o amigo fala com seu
amigo. Sem o conhecimento de Deus, não pode haver oração, pois não falamos com
Alguém. É como se eu fosse visitar você e pegasse uma lista telefônica (se o
assunto não era buscar endereço) e fosse lendo. E Deus diz: E para mim, o que
vai dizer? Podemos perguntar o que interessa a um amigo? Tudo que é seu. Se não
é assim, não é amigo. Temos amigos dos quais somos amigos e eles não são
amigos. O amigo está sempre presente, nem que seja só no pensamento. Quando a
gente se encontra, mesmo depois de muito tempo, é como se nos tivéssemos falado
ontem.
56. Dialogo
afetuoso
A
base deste diálogo com Deus é o afeto. Se amar a Deus, vou ter o que dizer a
Ele. A bela afirmação - eu e Deus nos entendemos bem – demonstra o quanto é
significativo, no diálogo pessoal, o relacionamento afetivo. Santa Tereza
define: ‘rezar é falar com Deu amando’. Não podemos comparar a um namoro. É um
relacionamento ditado pelo amor. Se amar a Deus vou procurar estabelecer com
Ele esta conversação amorosa. O afeto está em dizer com simplicidade e
espontaneidade tudo aquilo que está acontecendo em minha vida. O que Deus quer
saber? O que quero contar. À medida que vamos narrando a Deus minhas mazelas
diárias ou alegrias, podemos ter a certeza que Ele vai respondendo no coração.
Quando existe o afeto? Quando me lembro dEle com facilidade, quando as coisas e
as pessoas me levam a Ele, quando o percebo presente e me sinto feliz. ‘Não é
preciso dizer muitas coisas, mas muitas vezes as mesmas coisas’ (Charles de
Foucauld)
57. Orações
formais
E a oração formal, decorada, escrita, não tem valor? Tem enquanto é
recheada por este afeto. Aí corremos o risco de rezar mal, quando fazemos
mecanicamente. Mesmo a missa exige que as palavras saiam do coração. Um terço,
um texto lido, um texto bíblico devem ser feitos também com o coração. Santo
Afonso ensina que a gente deve ler um texto, pensar nele o suficiente até que
ele provoque o sentimento. Pode-se então começar a dizer que se ama, que se
confia e que se entrega. Este diálogo preenche a vida de oração.
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