PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Verdade que permanece
Antes não havia Quaresma como hoje.
Demorou alguns séculos para tomar uma forma. Inicialmente era a preparação para
os batismos que se realizariam na Páscoa. Havia cerimônias que acompanhavam a
preparação do batismo para os chamados “catecúmenos”. Este batismo era
realizado na Vigília Pascal. O batismo insere o fiel no mistério de Cristo, na
passagem da Morte para a Vida. A comunidade começou a participar do jejum dos que
seriam batizados. No início era só no
Sábado Santo, depois se estendeu para a Semana Santa e, enfim, criou-se a
Quaresma para seguir Jesus que jejuou 40 dias no deserto. O número 40 é
simbólico. Ao lado do Batismo, a liturgia prevê que os fiéis possam renovar seu
compromisso batismal. A verdade que permanece é a preparação para a Páscoa no
enfoque batismal. Na Quaresma há muitas tradições. Tradições são criações de um
tempo e que não tocam a Verdade, mas procuram inculturar os sentimentos que o
momento apresenta, como por exemplo, a devoção popular. Estas podem, e até devem às vezes, ser
modificadas. Lembremos que existem também as superstições que não tem a ver com
a fé e a devoção. Não podemos querer assumir as tradições de um tempo e colocá-las
como respostas para o momento. Tradição, com maiúsculo, vem junto com a
Escritura a qual interpreta com segurança. Deve permanecer o empenho da
preparação pessoal e comunitária para que o Mistério Pascal de Cristo seja
celebrado como Memória da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor do qual
participamos pelo Batismo.
Respostas novas
A reforma da Semana Santa foi
iniciada por Pio XII em 1955. O Concílio, na reforma da liturgia, promoveu a purificação
e a reestruturação para que correspondesse melhor ao Rito Romano. É o momento
de darmos respostas novas. A primeira é aproveitar a riqueza da Palavra de Deus
que explica o mistério que se celebra. Pela falta da Palavra de Deus
compreensível, pois tudo era em latim, o povo criou a devoção popular. Os ritos
tradicionais populares das procissões e semelhantes são úteis para a piedade,
mas são frágeis para a catequese. Partiu-se também de um aspecto individualista
da piedade para uma preocupação mais social comunitária da caridade como temos
na Campanha da Fraternidade. O jejum e a penitência assumiram formas novas de
renovação espiritual.
Criar para crescer
Fica
aberta a possibilidade, e a Igreja pede, que se criem novas formas para viver a
pastoral e a espiritualidade da Quaresma. Na pastoral temos muitas possibilidades
o pós-litúrgico envolvendo, sobretudo os jovens em representações e
semelhantes. Ainda falta muito para a liturgia preencher toda a carência do
povo. Uma das novas riquezas é o aspecto social da preocupação com os
necessitados. Cada ano, a Campanha da Fraternidade traz um tema para reflexão
sobre situações graves de pecado e de morte, como o problema do tráfico de
pessoas refletido nesse ano. É uma riqueza da Igreja do Brasil. Não bastam as
coletas, é necessário mudar o coração e as estruturas. Falta ainda levar a
Quaresma para dentro das famílias para que possa haver uma ressonância das
celebrações nas casas. É certo que não é mais um tempo só de Igreja, mas de um
grande feriado. É preciso descobrir algo para que as pessoas não se desliguem do
Mistério Celebrado. Aproveitemos a Quaresma para estar mais com o Senhor. Jesus
disse Pedro no Horto das Oliveiras: “Simão, não foste capaz de vigiar por uma
hora?” (Mc 14,37).
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