quinta-feira, 6 de março de 2014

REFLETINDO A PALAVRA - “Quaresma? Para que?”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Verdade que permanece
            Antes não havia Quaresma como hoje. Demorou alguns séculos para tomar uma forma. Inicialmente era a preparação para os batismos que se realizariam na Páscoa. Havia cerimônias que acompanhavam a preparação do batismo para os chamados “catecúmenos”. Este batismo era realizado na Vigília Pascal. O batismo insere o fiel no mistério de Cristo, na passagem da Morte para a Vida. A comunidade começou a participar do jejum dos que seriam batizados.  No início era só no Sábado Santo, depois se estendeu para a Semana Santa e, enfim, criou-se a Quaresma para seguir Jesus que jejuou 40 dias no deserto. O número 40 é simbólico. Ao lado do Batismo, a liturgia prevê que os fiéis possam renovar seu compromisso batismal. A verdade que permanece é a preparação para a Páscoa no enfoque batismal. Na Quaresma há muitas tradições. Tradições são criações de um tempo e que não tocam a Verdade, mas procuram inculturar os sentimentos que o momento apresenta, como por exemplo, a devoção popular.  Estas podem, e até devem às vezes, ser modificadas. Lembremos que existem também as superstições que não tem a ver com a fé e a devoção. Não podemos querer assumir as tradições de um tempo e colocá-las como respostas para o momento. Tradição, com maiúsculo, vem junto com a Escritura a qual interpreta com segurança. Deve permanecer o empenho da preparação pessoal e comunitária para que o Mistério Pascal de Cristo seja celebrado como Memória da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor do qual participamos pelo Batismo.
Respostas novas
            A reforma da Semana Santa foi iniciada por Pio XII em 1955. O Concílio, na reforma da liturgia, promoveu a purificação e a reestruturação para que correspondesse melhor ao Rito Romano. É o momento de darmos respostas novas. A primeira é aproveitar a riqueza da Palavra de Deus que explica o mistério que se celebra. Pela falta da Palavra de Deus compreensível, pois tudo era em latim, o povo criou a devoção popular. Os ritos tradicionais populares das procissões e semelhantes são úteis para a piedade, mas são frágeis para a catequese. Partiu-se também de um aspecto individualista da piedade para uma preocupação mais social comunitária da caridade como temos na Campanha da Fraternidade. O jejum e a penitência assumiram formas novas de renovação espiritual.
Criar para crescer

            Fica aberta a possibilidade, e a Igreja pede, que se criem novas formas para viver a pastoral e a espiritualidade da Quaresma. Na pastoral temos muitas possibilidades o pós-litúrgico envolvendo, sobretudo os jovens em representações e semelhantes. Ainda falta muito para a liturgia preencher toda a carência do povo. Uma das novas riquezas é o aspecto social da preocupação com os necessitados. Cada ano, a Campanha da Fraternidade traz um tema para reflexão sobre situações graves de pecado e de morte, como o problema do tráfico de pessoas refletido nesse ano. É uma riqueza da Igreja do Brasil. Não bastam as coletas, é necessário mudar o coração e as estruturas. Falta ainda levar a Quaresma para dentro das famílias para que possa haver uma ressonância das celebrações nas casas. É certo que não é mais um tempo só de Igreja, mas de um grande feriado. É preciso descobrir algo para que as pessoas não se desliguem do Mistério Celebrado. Aproveitemos a Quaresma para estar mais com o Senhor. Jesus disse Pedro no Horto das Oliveiras: “Simão, não foste capaz de vigiar por uma hora?” (Mc 14,37).

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