sábado, 6 de janeiro de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “O amor liberta”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
O tempo perdido ganho
 
A espiritualidade cristã, como já dissemos, não está no acúmulo de bens espirituais, mas na capacidade de viver a vida de Deus em todas as circunstâncias. Não é só ficar pensando em Deus, mas deixar que Deus ame as pessoas através de nós e que Jesus continue em nós seu amor de predileção por cada um. Refletimos sobre a liberdade e vimos que somos cercados, senão presos, de tantas coisas que nos tiram a dinâmica do amor. O amor é o caminho para a liberdade. Normalmente temos muitas coisas a fazer e estamos muito ocupados. O dia de 24h não é mais suficiente. Acontece que, no momento em que estamos precisando de tempo, os outros precisam de nós. Quando não escapamos, ficamos muito atrapalhados. Surge então um princípio: “a pessoa humana é o maior valor que se pode ter na vida”. É a partir dela, que vamos fazer a escala de valores. Se cuidarmos primeiro das pessoas teremos a salvação do mundo, pois, como diz Jesus, “tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40), por isso: “Vinde, benditos, para tomar posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo” . Isso Jesus comenta em diversos lugares, como na parábola do bom pastor e as tradições judaicas. Damos importância a outros valores, até aqueles do egoísmo espiritual, como por exemplo: “não posso perder a novena, pois fiz promessa”. Preciosa é a observação: o tempo bem aproveitado é o tempo que gastamos com as pessoas. Se achamos que perdemos tempo, o problema está em nós. Na África se diz: “Quando morre um velho, queimou-se uma biblioteca”. Cada um é grande em sua condição. Encontrar as pessoas é enriquecer-se dos dons humanos e espirituais. Se não sabemos aproveitar, o problema é nosso. E enriquecemos aqueles que encontrarmos. Sábio é o que aprende e não o que ensina. 
Tesouros escondidos 
Certas teorias espirituais que se criaram influenciadas por doutrinas pouco evangélicas, deixaram um rastro muito grande de uma concepção negativa da pessoa humana. É célebre a afirmação de um bom autor: “Quanto mais fui para o meio das pessoas, menos homem voltei”. Por que voltou menos homem. Não poderia dizer: quanto mais fui para o meio das pessoas, mais elas puderam descobrir seus valores e crescer. É um drama cristão: nós, em vez de influir para o bem entre ambientes e pessoas que encontramos, nós somos prejudicados, contagiados. Onde está o problema? Cada pessoa é um tesouro a ser descoberto. Nós classificamos, não acolhemos. Entre os próprios animais encontramos coisas maravilhosas. Na minha casa, na fazenda, o urubu comeu os olhos do bezerro. O outro bezerro o conduzia ao pasto, ao curral. Quando se separavam, berravam se procurando. O ser humano, racional, tem dificuldades de ver o valor que o outro tem. 
Crescer com cerne 
Quando se é aberto às pessoas no acolhimento, cria-se em nós o cerne espiritual. Ao dar o passo em direção às pessoas, alarga-se em nós a copa do amor de Cristo e fortalece-se o tronco. Estamos unidos a Cristo e somos fortalecidos Nele. E produzimos muito fruto (Jo 15,5). Se contemplarmos a história vamos ver que as pessoas que dedicaram sua vida pelos irmãos mantêm até hoje viva sua memória. Quem viveu para si, desapareceu na névoa da história. Jesus dirá no grande julgamento: “Apartai-vos de mim, malditos!”
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM FE/VEREIRO DE 2012

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