quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Beata Maria Lourença Longo, Viúva, Fundadora – 21 de dezembro

Uma paralisia purificadora
     Maria Richenza nasceu em 1463, provavelmente em Lérida, em uma família nobre da Catalunha. Ainda jovem, ela foi dada em casamento a Juan Llonc, um ilustre jurista, que mais tarde se tornou regente do Conselho Real de Aragão. Deste casamento tiveram vários filhos.
     Tudo corria normalmente nesta casa, quando ocorreu um infeliz acontecimento: um dia, durante uma festa familiar, um criado, aborrecido com uma repreensão dirigida a ele pela dona da casa, pôs veneno em seu copo. Maria escapou do ataque, mas permaneceu permanentemente paralisada. Ela aceitou esta nova situação com serenidade.
     Em 1506, seguindo o rei Fernando, o Católico, com o marido e os filhos, ela foi para Nápoles. A família se estabeleceu nesta cidade, mas o marido Juan Llonc teve que retornar pouco depois à Espanha para seu cargo. Ele morreu em 1509.
     Viúva aos 46 anos, paralítica, a vida de Maria parecia desenrolar-se lenta e tristemente. Mas agora ela pode realizar um projeto formado alguns anos antes: ir ao santuário de Nossa Senhora de Loreto. Acompanhada da filha e do genro, carregada numa liteira, empreendeu esta cansativa peregrinação. Conta-se que naquele momento ocorreu um milagre: enquanto ela estava absorta em sua oração, após a missa, sentiu-se instantaneamente curada.
     Ela decidiu começar esta nova etapa de sua vida com uma doação a Deus e aos homens em junho de 1510. Em memória da graça recebida por intercessão da Virgem Maria, ela decidiu chamar-se Maria Lourença a partir de então e é com este nome que ela seria conhecida em Nápoles, e também pelo nome italianizado de seu falecido marido: Longo. Diante do altar de Nossa Senhora tomou o hábito da Ordem Terceira Franciscana.
Servindo aos Membros Sofredores de Cristo
     Alguém poderia pensar que Maria Lourença Longo estava com pressa de recuperar seus longos anos de inatividade forçada. O populoso bairro napolitano oferecia um vasto campo de ação ao seu desejo de caridade. Nenhuma necessidade corporal ou espiritual a deixava indiferente. No início, o hospital de São Nicolau foi o centro de sua ação beneficente.
     Em 1518, Ettore Vernazza chegou a Nápoles. Divulgou por toda a Itália a obra do Oratório do Divino, centro de espiritualidade evangélica e iniciativas caritativas. Encontrou em Maria Lourença Longo uma alma gêmea com quem cogitou a criação do grande hospital para incuráveis. Esses incuráveis ​​da época foram sobretudo vítimas da chamada "doença francesa", a sífilis, que infectava toda a população italiana. Maria Lourença contribuiu para esta importante instituição com sua riqueza pessoal, sua influência social, seus esforços e suas orações.
     Em 1525, terminada a construção do edifício, passou a residir ali, vivendo apenas para os seus doentes. Confiou a gestão do Instituto a uma equipa administrativa, assumindo a responsabilidade direta de toda a assistência médica. Ela foi ativamente assistida por outras senhoras de sua comitiva espiritual, especialmente por sua grande amiga Maria Ayerbe, Duquesa de Termoli. Conta-se que certa manhã, durante a missa, ela ouviu uma voz interior dizer-lhe: “Maria, você amava seu marido?” Certamente, ela respondeu, sim, eu o amava. “Você ama seus filhos?” Certo! “Então, por que você não me ama, que fiz tanto por você?”
     Este chamado a estimulou a intensificar o serviço de Cristo aos enfermos. Mas não eram tanto as dores corporais que exigiam atenção. Acima de tudo, era necessário prevenir a miséria moral. É por isso que perto do grande hospital, alguns anos depois, foi fundada a casa dos convertidos. Maria Ayerbe recebeu sua direção.
Do dinamismo de Marta à tranquilidade de Maria
     Naqueles anos, Nápoles era o ponto de encontro das personalidades mais famosas da aristocracia espiritual do Renascimento. No séquito de Madame Longo estão o cardeal Vio de Gaeta, o agostiniano Égide de Viterbo, o místico leigo espanhol Juan de Valdés, animador de um cenáculo evangélico (suspeito de luteranismo) e, em particular, a ilustre humanista Vitória Colonna, marquesa de Pescara, grande protetora dos Capuchinhos.
     A influência espiritual de Maria Longo fez-se sentir sobretudo na comunidade das terciárias franciscanas. Ela as formou assim como as jovens que se sentiram chamadas a consagrar suas vidas no exercício da caridade. Essas jovens eram de origem modesta, mas também havia da nobreza.
     Os capuchinhos chegaram a Nápoles em 1529; no ano anterior haviam obtido de Clemente VII a bula de aprovação de sua reforma. Pediram acolhimento temporário no hospital para incuráveis, onde foram acolhidos pelo diretor que mais tarde encontrou neles valiosos colaboradores na direção espiritual e corporal dos assistidos. Ela e sua comunidade de terciárias se colocaram sob a direção desses austeros irmãos.
     Neste mesmo período chegaram os Teatinos, uma Ordem recém fundada. O próprio fundador, São Caetano de Thiene, chegou a Nápoles em 1533. Sua experiência mística marcou profundamente Madame Longo. No ano seguinte, tendo fixado residência no hospital, São Caetano tornou-se diretor espiritual da comunidade religiosa que, sob sua direção, em 1535, obteve a aprovação canônica sob o nome de Irmãs Franciscanas da Ordem Terceira, assumindo ainda uma fisionomia decididamente contemplativa.
As primeiras Clarissas Capuchinhas
     Essa mudança não desagradou a Maria Lourença. Sob o peso dos seus 72 anos, sofria por não conseguir realizar tudo o que desejava. Uma doença grave o obrigou a ficar inativa por alguns meses: a antiga paralisia voltou. Nos primeiros dias de agosto de 1535 ela se separou dos enfermos no hospital, deixando Maria Ayerbe como diretora e se trancou em um pequeno quarto no convento próximo, onde 20 aspirantes a esperavam. No dia 8 de setembro seguinte, todas receberam o hábito e Irmã Maria Lourença, que havia completado um longo noviciado de 25 anos dedicados à caridade, fez a profissão pelas mãos do delegado apostólico. A comunidade adotou imediatamente a rigorosa regra das Clarissas.
     São Caetano ainda continuou sua direção espiritual. No entanto, em 1538, confiou a Irmã Maria Lourença e suas monjas à direção das capuchinhas que já exerciam desde o início, pelo seu modo de vida, uma profunda influência.
     Um breve de Paulo III datado de 10 de dezembro de 1538 confirmou definitivamente a ereção do mosteiro sob a Regra de Santa Clara, confiando-o à direção dos capuchinhos, conforme solicitado pela fundadora. Uma decisão papal limitou o número de monjas a 33. Daí veio o nome popular de Mosteiro de 33. Nasceu a reforma capuchinha.
     O Breve de Aprovação apoiou a intenção da fundadora de viver com as irmãs a estrita observância da Regra de Santa Clara. Para melhor atingir esse objetivo, ela adotou as Constituições de Santa Colette, integrando nelas alguns pontos das constituições capuchinhas. Pobreza, austeridade, clausura estrita, simplicidade fraterna e sobretudo intensa vida de oração, serão as características das capuchinhas.
     Assim passaram os últimos sete anos de Maria Lourença. Paralisada no corpo, seu espírito continuou ativo, alternando entre a oração e a direção espiritual das irmãs. Com a aproximação de seu fim, ela renunciou ao cargo de abadessa. Em 21 de dezembro de 1542, ela morreu aos 79 anos.
     Em Nápoles, sua memória ainda é viva.
Veneração
     A causa de beatificação de Maria Lourença Longo começou em 1880. Relançado em 2004, o inquérito canônico sobre o estudo de sua santidade terminou em 9 de outubro de 2017. Maria Lourença Longo foi solenemente beatificada em 10 de outubro de 2021.
 

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