será servo de todos" (Mc 10, 44).
A Beata Petra de São José é um exemplo de mulher consagrada que, entre muitas dificuldades, acolhe com fé o carisma que o Espírito concede ao serviço de todos.
Uma órfã desde muito pequena assume como mãe a Virgem Maria. Esta experiência marcou sua vida inteira, descobrindo que seu trabalho era para ser a mãe das crianças, jovens ou idosos que não tinham carinho e amor da família. Madre Petra é de fato um exemplo de como a virgindade, de religiosos e religiosas, vai se transformar em uma fecunda maternidade espiritual, realizada e concluída através do amor esponsal de Jesus Cristo como expresso em total disponibilidade e abertura a todos aqueles em necessidade. Sentindo-se amada por Deus e respondendo a este amor, mesmo no meio de milhares de provações, nos dá um modelo luminoso de oração e sacrifício por seus irmãos e serviço aos pobres, manifestações da vida religiosa sobre o que refletem agora os Padres sinodais.
Sua profunda devoção e sua ilimitada confiança em São José caracterizam toda a sua vida e seu trabalho, sendo chamada de "apóstola de São José do século XIX." No último período de sua existência terrena surgem nos seus lábios os nomes de Jesus, Maria e José, a Sagrada Família de Nazaré, em cuja escola de amor, a oração e a misericórdia fizeram crescer a sua espiritualidade, levando suas filhas a este caminho de santidade.
Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação -
16 de outubro de 1994
No final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, aconteceu um florescer de Fundadores de obras sociais que se ocuparam da instrução de crianças e jovens; do cuidado e do acolhimento dos pobres, idosos, abandonados, órfãos; na assistência aos doentes em suas casas, ou em hospitais; na formação profissional dos operários, artesãos, agricultores; na direção espiritual e formação dos jovens.
Entre tais Santos Fundadores encontramos a espanhola Madre Petra de São José.
Vale de Abdalajís (Málaga) foi o povoado que viu nascer, no dia 7 de dezembro de 1845, Petra de São José, cujo nome de batismo foi Ana Josefa Pérez Florido. Ana Josefa era a última de 19 filhos de José Pérez e Maria Florido.
Aos três anos ficou órfã de mãe e foi entregue aos cuidados da avó paterna, Teresa Reina, muito religiosa, que lhe inculcou a fé desde tenra idade. Sua precoce caridade era alimentada pela devoção à Eucaristia, a Nossa Senhora das Dores e a São José.
Fez os estudos elementares na escola da aldeia onde logo se sentiu chamada à oração e à vida consagrada, como dirá mais tarde: “Não pensava mais nada do que ser freira; e neste desejo me consumia”.
Muito caridosa, distribuía quanto podia aos pobres e quando lhe era impossível acudir às suas necessidades ficava mais triste que eles, como ela própria confessa: “Quando me pediam alguma coisa e não conseguia dar nada, ficava desconsolada como eles”.
Não era apenas a pobreza material que lhe tocava a alma. Também a entristecia a ignorância religiosa dos seus conterrâneos e a pouca vontade de aprenderem a conhecer os mistérios de Deus. “Dava-me pena que, ao ouvir os sermões, alguns dormissem, desperdiçando tão bela ocasião de se instruírem”.
Com o irmão João levava comida às famílias mais necessitadas do povoado; quando não tinha meios de socorrê-los, vencendo a oposição do pai, ia com três companheiras, pedir de porta em porta e pelas quintas, vencendo assim a sua natural repugnância de mendigar. Derramava à sua volta simplicidade e alegria. Atraídas pelo seu modo caridoso e desinteressado, outras jovens também se dedicavam às crianças abandonadas.
Após a morte do pai, ocorrida em 11 de janeiro de 1875, Ana Josefa pode se dedicar inteiramente à sua vocação. Dois meses depois, em 19 de março de 1875, a pedido do prefeito de Alora (Málaga), abriu uma pequena casa para idosos, sempre sem ligação a qualquer Ordem religiosa e com a ajuda das jovens que se tinham ligado a ela.
Em 2 de novembro de 1877, Ana e suas companheiras vestiram o hábito das noviças da nova Congregação Mercedárias da Caridade, fundada pelo cônego de Málaga, João Nepomuceno Zegri, que lhes deixou a Casa de Alora.
Em 23 de setembro de 1879, Ana Josefa deixou o hábito mercedário e se colocou à disposição do Bispo de Málaga, Mons. Manuel Gomez-Salazar.
Em 25 de dezembro de 1880, encorajada por Mons. Manuel Gomez-Salazar, fundou a Congregação das Mães dos Desamparados. Na realidade foi o próprio bispo que lhes pôs o nome de Mães dos Desamparados para identificá-las com o modo como tratavam os pobres.
Receberam o hábito e fizeram os votos no dia 2 de fevereiro de 1881. Nos primeiros anos não faltaram dificuldades para atender os desprotegidos que iam abrigar-se à sombra do seu amor. Mas a Madre Petra, nome adotado por ela depois da profissão religiosa, conquistou a confiança das famílias mais ricas, que reconheciam os desvelos com que eram tratados os indigentes; assim a Congregação pode erguer lares em Málaga, Gibraltar, Andújar, Barcelona, Martos, Valência e Arriate, ainda que à custa de muito sacrifício. Mas as vocações continuaram a afluir para tanto trabalho.
Em 1895, como resultado de sua grande devoção a São José, iniciou a construção de um Santuário em honra do seu patrono, sobre a Montanha Pelada, Barcelona, cuja igreja foi inaugurada em 19 de março de 1901. Em 1903 fundou a revista religião “A Montanha de São José” para difundir devoção ao protetor da Santa Igreja.
A fortaleza espiritual e a energia firme da Beata Petra resultavam de uma fé interior muito robusta, confiante e esclarecida, alimentada por uma oração contínua, por um amor visível e assombroso ao sacrifício e à cruz de todos os dias, e uma devoção terníssima e confiante em São José, cujo exemplo de simplicidade quis sempre reproduzir.
Em 1905, o Papa São Pio X acrescentou o título “e de São José da Montanha” ao nome da Congregação, para ilustrar a devoção ao pai adotivo de Jesus.
Madre Petra faleceu no dia 16 de agosto de 1906, aos 61 anos de idade, no Santuário de São José da Montanha, a joia mais bela da sua coroa, num ambiente de grande serenidade e paz.
A Congregação espalhou-se por diversos países: Itália, Argentina, Colômbia, Chile, Guatemala, México, Estados Unidos e Porto Rico, onde prossegue e persevera no acolhimento dos desamparados que ninguém quer.
Madre Petra foi beatificada por João Paulo II em 16 de outubro de 1994.
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