quarta-feira, 21 de junho de 2023

REFLETINDO A PALAVRA - “Conquistando a terra prometida”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Um Deus que enxerga a dor
 
A liturgia da Quaresma reflete sobre a conversão. Ela é um convite de Deus que faz. Nossa resposta terá sempre os auxílios necessários para fazer o caminho de volta. Deus é como alguém que coloca adubo na árvore para que dê fruto (Lc 13,8-9). Notemos que ninguém deixa o mal, a não ser com a graça do Deus clemente que vê nosso sofrimento, tem paciência e dá chances para que resolvamos produzir frutos. Na Quaresma retomamos a história do Povo de Deus para compreender o caminho da Páscoa. O Egito é símbolo da opressão, como é também símbolo do mal que está em nós. A libertação do Egito é uma catequese importante na Quaresma. O pecado é um sofrimento e uma prisão que fere o coração. Deus não está ausente e vê nossa dor, como viu o sofrimento do povo na escravidão e tomou a atitude para libertá-lo. Deus se revelou a Moisés como o Pai que vê o sofrimento e desce para libertar e conduzir para uma terra boa (Ex 3,7-8). Ao ver as prisões que sofremos, mostra sua face clemente, compassiva e cheia de misericórdia, pois é um Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (Ez 18,23). Deus enxerga a dor que o mal faz em nós. Ele continua presente, hoje, com sua misericórdia e clemência libertando-os do mal e das dores do mundo. É a Páscoa que continua. A celebração da Quaresma e da Páscoa anima-nos a buscar um novo modo de viver. Sem isso continuaremos na escravidão. A terra prometida é um símbolo da terra nova na qual Jesus nos introduz com sua Páscoa. 
Chamados à conversão 
A Quaresma não é só um ato de piedade, mas um estímulo e um modo de restauração universal. Não se trata só do pecado individual, mas também do social que invade o mundo. Jesus quer libertar, por isso chama à conversão e à transformação de todos os males. Jesus faz apelo à conversão contando a parábola da figueira que não produzia frutos. Ameaça inclusive cortar a árvore. Mas... a paciência de Deus é maior. Dá os auxílios necessários para que façamos nossa parte. Se não houver a conversão não vamos sobreviver. Mesmo na fragilidade podemos contar com os auxílios de Deus que espera pelos frutos. Os que sofrem certos males e acidentes, não estão pagando pecado, mas todos devem se converter (Lc 13,1-5). Um desastre não está ligado a um plano de Deus. Pode ser um exemplo, um estímulo ou um questionamento que nos é feito. A Palavra de Deus ensina, fortalece, estimula e nos leva a fazer nossa Páscoa com Jesus. 
Um compromisso de quem crê 
A conversão não é um ato solitário, falando baixinho ao ouvido do padre, mas é comunitário, pois o mal atinge as pessoas e as comunidades. As escravidões continuam presentes no mundo. Invadem as pessoas, as estruturas e as sociedades. Deus fará a salvação do mundo em todas as dimensões através dos que creram, pois, mortos com Cristo e ressuscitados com Ele (Rm 6,8), continuam sua presença e missão no mundo. Nós, novos pelo batismo, somos os instrumentos da justiça (Rm 6,13). O compromisso de quem crê é enxergar a dor como Deus vê, com sua compaixão e sua clemência. Moisés acolhe o projeto de Deus para o povo e enfrenta as dificuldades para libertá-lo, pois compartilha de sua misericórdia. O tempo penitencial evoca-nos sempre o projeto de conversão. Em cada Eucaristia, que é momento de conversão, temos no ato penitencial uma chamada particular. 
Leituras:Êxodo 3,1-8a.13-15;Salmo 102 - 
1Coríntios 10,1-6.10-12;Lucas 13,1-9 
1. A liturgia da Quaresma reflete sobre a conversão. Deus nos convida e dá os auxílios para que produzamos frutos. Tomamos como exemplo a libertação do povo do Egito, símbolo do pecado e da escravidão. Deus vê a dor do povo, como vê a nossa. Quer libertar e conduzir para uma terra boa, símbolo da Páscoa. 
2. A Quaresma não é só piedade, mas estímulo a uma restauração universal. Jesus usa a imagem da figueira sem frutos. Ameaça até cortar, mas dá tempo e põe adubo. A paciência de Deus é imensa. Mas, se não houver conversão, vamos perecer. Jesus usa a comparação de dois acidentes para mostrar que os que assim morrem, não pagam pecados. Sem conversão todos pagamos. 
3. A conversão é um ato comunitário. As escravidões continuam presentes no mundo e nas pessoas. Deus, pela morte de Jesus fará a salvação. Nós continuamos essa missão por nossa morte e ressurreição em Cristo. O compromisso de quem crê é enxergar a dor como Deus vê, com sua compaixão, como fez Moisés. Em cada missa temos o ato penitencial como uma chamada. 
Se não muda, a casa cai 
Todas as maravilhas que Deus fez por nós ao longo da história da humanidade, nos encantam e provocam a uma resposta de conversão, isto é, produzir frutos. Ninguém sofre porque tem um destino. O povo de Deus recebeu tantos milagres dados em abundância na libertação do Egito. Paulo diz que receberam os milagres mas não agradaram a Deus (1Cor 10,1-4). Não adiantou. As maravilhas de Deus são fruto de sua misericórdia. O Deus da aliança é o Deus misericordioso que caminha com seu povo, como Se define no encontro com Moisés no Horeb (Ex 3,1-15). Tem cuidado com os sofredores e os liberta e Se compromete com uma aliança eterna, como prometera a Abraão. Em Jesus esta aliança é nova, pois feita no seu sangue. Deus tem paciência com nossos pecados e males, mas cobra conversão, dá tempo e coloca o adubo da graça. “Se não vos converterdes perecereis do mesmo modo”, diz Jesus. “Quem está de pé, tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12). Não bastam os milagres de Deus para nós. É preciso conversão, senão a casa cai. Quaresma é tempo para renovar nossa resposta a Deus. 
Homilia do 3º Domingo da Quaresma (07.03.2010)

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