segunda-feira, 1 de agosto de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Caminho espiritual a Quaresma”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Não saiba a esquerda, o que faz a direita
 
No primeiro dia da Quaresma, na Quarta-Feira de Cinzas, a liturgia nos orienta como deve ser a vida dos cristãos durante esse tempo privilegiado. Abre um caminho e depois, nos dias sucessivos, explica comentando-o com outros passos da Escritura. A Palavra de Deus é abundante na Quaresma. Seria suficiente para dizer que a Quaresma foi boa, se procurarmos estar atentos e viver a palavra anunciada. A liturgia toca os pontos fundamentais da vida cristã: esmola, oração e jejum. Note-se são respostas às três tentações de Jesus. Mas a indicação básica que orienta essas três atitudes é a discrição de sua realização. Jesus faz a comparação: faça para Deus e não para ser visto pelos outros. Condena assim a falta de interioridade de certas pessoas. Fazem para serem vistos pelos outros. Tempo perdido! “Já receberam sua recompensa!” Jesus começa pela esmola. Dar esmola, sair de si, pensar nos outros, desapegar-se, ter Deus como a maior riqueza é o equilíbrio no uso dos bens maravilhosos que Deus nos dá. Superamos assim a ganância do ter. Com essa atitude poderíamos solucionar o maior problema do mundo que é o desequilíbrio da sociedade onde há poucos ricos que tem tudo, e a maioria que não tem o necessário para viver. Isso sempre existiu, mas nós temos melhores condições de resolvê-lo pela abertura de coração para com os necessitados. Mudar as estruturas do mundo é sua meta. Assim, silenciosamente, realizamos a Páscoa nova da humanidade. Esmola não é só dinheiro ou coisas, mas o amor e a entrega de nós mesmo como um dom. 
Entra em teu quarto e fala com o Pai 
Essa é bonita! “Quando vocês rezarem, não façam como os hipócritas, que gostam de aparecer. Quando for rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao Pai que está oculto. E o Pai, que vê o que está escondido, dará a recompensa” (Mt 6,5-6). A oração abaixa o orgulho, que é a segunda tentação. Jesus chama a rezar. Rezar não é fazer discurso a Deus, mas colocar a cabeça em seu colo e, acariciado por Ele, conversar com intimidade sobre tudo o que a gente é. Podemos recitar fórmulas, ler, mas o importante é deixar a oração entrar no coração. O quarto não são só as quatro paredes, mas nosso coração, sacrário do encontro com Deus. Em nossas orações há muito palavreado, espetáculo de línguas, euforia, recitação de fórmulas vazias. Tudo bom, mas se não vai para o interior, perde o valor. Deus mora em mim. É dentro de mim que vou curtir Sua Palavra, que vou arquitetar o amor da esmola. Rezar é falar com familiaridade com Deus, como um amigo fala com o outro, como os namorados falam. Pegue seu celular e telefone para Deus. Mas deixe sempre na vibração, pois Ele retorna. O coração vibra. Ele fala. 
Lava o rosto e perfuma-te 
“Quando jejuarem, não mostrem para os outros” (Mt 6,16). Ao contrário, disfarcem pela alegria. O jejum perdeu muito sua característica de sede de Deus e passou a ser um jeito inútil de passar fome. Jejum sempre vale. Vale para Deus quando faço a Ele, na busca de corrigir os defeitos que colocamos na natureza. Não é emagrecimento das gordurinhas, mas das gorduras dos males acumulados em nosso ser. O jejum não é só de comida, mas de nossas vontades rebeldes, de nossos gostos exagerados, de nossa falta de controle da língua, do sexo, da imaginação, das curiosidades picantes. Jejuar é sair de si para amar, para se dedicar. Ajuda a superar o egoísmo. Vejam o profeta Isaias (58): “É esse o jejum que eu quero?” Jejum é ter em Deus o maior prazer. Ele é o alimento que nos sacia. Jesus jejuou 40 dias procurando vencer todas as tentações.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MARÇO DE 2007

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