Costumamos dizer irmãos de sangue, isto é, filhos do mesmo pai ou mesma mãe. Havia irmãos de leite, filhos que não tendo o leite da mãe natural, foram amamentados por outra mãe. Irmãos nas águas, nunca ouvi, mas acontece. Estes somos nós, os que fomos banhados pelas águas abençoadas do Batismo. Por elas passaram os filhos de Deus que acreditaram no mandamento de Jesus: “É preciso nascer do alto” (Jo 3,3). Nessas águas todos se tornam filhos de Deus e assim, irmãos uns dos outros. Ser irmão na fé é ter a mesma vida de Deus infundida em nós pelo Espírito Santo. Os símbolos externos são as águas com o rito, juntamente com realidade interior em que age Deus. É o novo nascimento. Pedro comenta: “Como criancinhas recém nascidas, buscai o leite espiritual” (1 Pd 2,2). Ser Filho de Deus é ser irmão de Jesus e irmãos entre nós. Jesus “não se envergonha de chamar-nos irmãos” (Hb 2,11). Da mesma forma como convivemos com nossos irmãos de sangue e temos apreço por eles, também, e com maior razão, devemos conviver com nossos irmãos nas águas, irmãos em Cristo, dando-lhes um imenso valor. Por isso dizemos Pai Nosso. Essa convivência de fraternidade na Igreja e na sociedade, parece diminuir cada vez mais. Esse mal vem da falta de consciência da fraternidade nascida no Batismo. É mau, porque negamos nosso ser família de Cristo na terra e no céu.
Vida de irmãos
Ser irmão não só de nome, mas em verdade, é uma consequência natural do Batismo. Fazemos parte de um mesmo corpo, membros da família de Deus e, como tais vamos viver. Jesus, no seu último momento reza “para que sejamos um como Ele e o Pai são um afim de que o mundo creia que Tu me enviaste” (Jo 17,21). Estar unidos é demonstração de que cremos em Jesus. A característica fundamental desses irmãos é a unidade. Ela é o primeiro anúncio. O grande escândalo dos cristãos no mundo é a divisão em tantas igrejas, veneráveis que sejam, mas escandalosas porque separadas e pior, lutando uma contra a outras (católicos, ortodoxos e evangélicos). Desses, quem de fato crê em Jesus, procure a unidade. É sinal que crê. Quem realiza a unidade é o amor e serviço. Cada membro vai viver para que o outro tenha a vida em abundância como Jesus quer: “Vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.
Não sou Caim
Caim disse a Deus que não era responsável por seu irmão Abel. A co-responsabilidade uns pelos outros, como irmãos, é fruto do amor de irmãos. Cada membro do corpo de Cristo não vive para si, mas para o outro. Há uma grande interdependência nos membros. Consumir-se pelo outro é ter vida plena. Diz Jesus: “Por isso meu Pai me ama porque dou minha vida para retomá-la” (Jo 10,17). A ressurreição de Jesus acontece porque se deu totalmente. Caim que não é guarda do irmão não existe na Igreja. O serviço fraterno é a expressão do amor co-responsável. Jesus diz na ceia: “Eu que sou o mestre e Senhor vos lavei os pés, também deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que, como vos fiz, também façais vós” ( Jo 13, 15). “Se compreenderdes isto e o praticardes felizes sereis” (Jo, 13,17). Paulo escreve: “Tenho preocupação por todas as igrejas. Quem fraqueja sem que eu me sinta fraco? Quem cai, sem que eu também me abrase?” (2 Cor 11,29). Ser cristão é fácil. Basta amar e se doar pelos irmãos.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM FEVEREIRO DE 2006
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