quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “A força do Reino de Deus”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
46 ANOS SACERDOTE
O trigo e o joio
 
Quantas vezes ouvimos, em nossa vida, a expressão separar o joio do trigo. Joio é uma planta parecida com o trigo. Para nós significa dever fazer a separação. Para Jesus a comparação vai a outro sentido. Jesus continua as parábolas ou explicações sobre a semente e quem a acolhe, acrescentando a reflexão sobre a realidade do Reino. Em vez de explicar o que é o Reino de Deus, usa exemplos da natureza. A primeira comparação é a situação dramática em que junto com a semente boa do trigo foi semeado o joio. Jesus está se referindo ao drama que vivemos: junto com a semente da Palavra que anuncia o Reino, está sempre presente a semente do maligno. O bom administrador, quando os empregados propõem arrancar o joio do meio do trigo, diz que deixem crescer juntos para que não ocorra que junto com o joio se arranque também o trigo. Na hora da colheita se fará a separação. O trigo será guardado nos celeiros e o joio, atado em molhos e jogado no fogo para queimar. Com isso Jesus quer dizer que o anúncio do Reino é feito em um mundo onde está presente também o semeador do mal. O Reino de Deus vai crescer ao lado do mal. Os cristãos devem viver ao lado de manifestações do mal e são muitas vezes hostilizados. A primeira tentação que temos, e mesmo chegando aos fatos, é a vontade de extirpar os maus. Embora crescendo juntos, uma vez que não são sementes, mas pessoas, há sempre a oportunidade de mudança. Lembremos a parábola da figueira estéril. É preciso ter esperança no homem, por pior que seja. O Espírito age nos corações de modo incompreensível, como nos diz Paulo em Romanos (8,26-27). 
A força da semente 
Ainda outra parábola: O Reino de Deus cresce silenciosamente. A comparação agora é com a semente de mostarda que, mesmo sendo muito pequena, produz um grande arbusto. A força toda é concentrada numa pequena semente. A semente tem em si tudo para que a planta possa nascer, crescer, florir, frutificar e ainda reproduzir outras plantas iguais a essa. A semente do Reino, lançada nas terras do coração que a acolhe, tem a capacidade total de crescer, produzir fruto e se multiplicar. Depende da terra para ser abundante, mas sempre produz. S. Paulo diz que “Deus dá o crescimento” (1Cor 3,7). O Reino cresce na fragilidade e ser torna a casa das criaturas de Deus. Paulo diz que a fraqueza de Deus é mais forte que os homens (1Cor 1,25). Não é um projeto político, mas uma força transformadora de Deus. 
O Reino é como o fermento 
O Reino de Deus é como o fermento que faz a massa crescer. Jesus usou a linguagem do homem semeador, agora a da dona de casa. O Reino cresce sem que se explique como. Cresce também dentro do justo. Jesus encerra o discurso explicando aos discípulos as parábolas: O fim do mundo será a colheita. Todos os que tem ouvidos e ouvem e praticam, brilharão como o sol. Nessa colheita os maus e os que fazem os outros pecar serão retirados do Reino e lançados na fornalha. Nossa sociedade organiza-se para levar os outros a pecar contra Deus e o irmão. Não é um bom partido. É melhor deixar o Reino crescer e o Espírito agir em nós (Rm 8,26-27). Mesmo em nossa fraqueza há um Espírito que nos garante o crescimento do Reino de Deus. Deus quer contar conosco. 
Leituras:Sabedoria12,13.1-19;Salmo65; 
Romanos 8,26-27; Mateus 13,24-43. 
Ficha: 1. Falamos do Reino de Deus continuando a compreensão das Parábolas de Jesus. A parábola do trigo e do joio semeados no mesmo campo coloca para nós a situação do Reino que deve se desenvolver em uma terra cheia de males. Jesus ensina que se deve ter paciência e esperar o tempo da colheita. Mais ainda: se a árvore é estéril, podemos chegar um adubo para que possa retomar força. Não falamos de sementes, mas de pessoas. Em cada homem há sempre uma esperança de recuperação e crescimento. Em cada um, mesmo mau, um Espírito divino que o pode reerguer. 
2. O Reino é também comparado a uma semente que, mesmo pequena, tem uma força imensa de crescimento. Por mais fraca que seja a situação em que nos encontremos, o Reino pode crescer. Deus dá o crescimento. Independe de nossa torcida. O projeto não é político, mas força divina transformante. Basta acolher e cooperar. 
3. O Reino é como o fermento. Faz a massa crescer de dentro para fora. É linguagem da dona de casa, como a semente é a linguagem do homem do campo. Os discípulos recebem a explicação de Jesus: O Reino cresce em situação difícil. No fim vem a separação das sementes. A semente boa, os justos, para o Reino definitivo. Os outros, como a semente má, para a fornalha. Por isso cremos que todos podem acolher o Reino e fazê-lo crescer. A sociedade se organiza para fazer pecar. Nós nos organizamos para a semente crescer. Pena que no final da linha há a separação entre o joio e o trigo, como nos explica Jesus.
Homilia do 16º Domingo do Tempo Comum
EM JULHO DE 2005

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