domingo, 4 de abril de 2021

ISIDORO DE SEVILHA - Bispo, Doutor da Igreja, Santo 560-636

“LUMINAR ESPLENDOROSO E INCORRUPTÍVEL” 
Considerado o homem mais douto de seu tempo, Santo Isidoro foi um precursor tanto no campo eclesiástico quanto civil, podendo ser considerado um dos pais da Idade Média Isidoro nasceu na cidade de Cartagena (Espanha) em 560, filho de Severiano e Teodora, ambos de alta nobreza e virtude. Foram seus irmãos São Leandro, que o precedeu na Sé de Sevilha, São Fulgêncio, bispo de Ecija, e Santa Florentina, da qual se diz que governou 40 conventos e mil monjas. Embora sendo um dos autores mais lidos e plagiados de seu tempo, esse grande Doutor da Igreja não teve um biógrafo contemporâneo. Assim, sua vida, além dos traços gerais conservados pela tradição, tem que ser adivinhada em seus inúmeros escritos. O certo é que Isidoro era muito inteligente, de memória fabulosa, e muito aplicado ao estudo e à leitura. Em 579 o irmão de Isidoro, Leandro, foi nomeado arcebispo de Sevilha. Um ano depois, com seu irmão Fulgêncio, Leandro foi desterrado por combater a heresia ariana. Essa perseguição terminou com a morte do ímpio rei Leovigildo. Fanático ariano, ele não recuou em dar a morte a seu próprio filho, Santo Ermenegildo, por este ter-se convertido à Igreja Católica, Apostólica, Romana. Ascendeu ao trono o outro filho, Recaredo, que também abjurou a heresia ariana. Retornando às suas dioceses seus dois irmãos, que haviam sido desterrados, Isidoro retirou-se para um mosteiro onde continuou seus estudos, chegando a dominar inteiramente o latim, o grego e o hebreu. Dedicou-se também a formar uma biblioteca, que dificilmente encontrará similar em toda a Idade Média. Isidoro, além de sábio, era um organizador. Dando-se conta de que a legislação que regulava a vida monástica era falha e obscura em muitos pontos, escreveu para os vários mosteiros da Espanha uma Regla de los Monjes, onde tudo é claro, simples e metódico. 
Na Sé arquiepiscopal de Sevilha 
No ano 600, tendo falecido Leandro, Isidoro foi escolhido pelo rei e pelo povo para substituí-lo na Sé de Sevilha, então a principal de toda a Espanha. Como bom pastor, Isidoro “prega ao povo, governa a diocese, reúne concílios — um em 619 e outro em 625 — promulga sábios decretos para promover a cultura e melhorar os costumes, defende a ortodoxia, converte um bispo oriental, que propagava no sul da Espanha o eutiquianismo, e confunde um prelado godo que se havia levantado à frente de uma reação ariana” [1]. Mais ainda: “não poupou nada para exterminar o arianismo, que infestava ainda grande parte de sua diocese; para reformar os costumes dos fiéis, que se tinham corrompido sob o reino dos heréticos; para restabelecer em seu esplendor a disciplina eclesiástica e fazer com que os ofícios da Igreja fossem celebrados com a majestade e a devoção que pedem a grandeza do Deus que neles se honra e louva” [2]. Isidoro era adornado de todas as virtudes: “Eram admiráveis sua humildade, sua caridade, sua benignidade, sua afabilidade e modéstia, sua paciência e mansidão. Era piedosíssimo com os pobres, aprazível com os ricos, forte com os poderosos, devotíssimo na igreja, vigilante na reforma dos costumes, constante na disciplina eclesiástica, suavíssimo para todos, e para si rigoroso e severo” [3]. 
Aglutinador de raças, obra civilizadora
“As antigas instituições e o ensino clássico do Império Romano estavam desaparecendo rapidamente. Na Espanha, uma nova civilização começava a transformar-se pela fusão dos elementos raciais que formavam sua população. Por quase dois séculos os godos a tinham controlado inteiramente, e suas maneiras bárbaras e desprezo pelo saber ameaçavam grandemente fazer retroceder o progresso da civilização. Compreendendo que o bem-estar tanto espiritual quanto material da nação dependia da total assimilação dos elementos estrangeiros, Santo Isidoro pôs-se à obra de unir numa nação homogênea os vários povos que formavam o reino hispano-gótico. Para esse fim, utilizou-se de todos os recursos da religião e da educação. E seus esforços encontraram completo sucesso” [4]. Para isso dedicou especial atenção à educação da juventude, fundando vários colégios e seminários. Esses colégios eram verdadeiras universidades, das quais saíram homens ilustres como São Bráulio, depois arcebispo de Saragoça, e Santo Ildefonso, os quais posteriormente fizeram o catálogo das inúmeras obras de Santo Isidoro. Enfim, Santo Isidoro fundou também vários mosteiros, nos quais a regularidade monástica e o louvor a Deus se faziam de modo exímio. Um dos primeiros atos de seu episcopado foi o de pronunciar um anátema contra qualquer eclesiástico que molestasse os mosteiros. 
Verdadeira enciclopédia ou dicionário universal 
Para seus estudantes, escreveu “uma multidão de tratados, cuja extensão e profunda doutrina pasmam os maiores engenhos, porque abraçam todos os conhecimentos humanos daquela época, desde a mais sublime teologia até a agricultura e economia rural. A principal de suas obras, ou seja, os vinte livros das ‘Orígenes o Etimologías’, é uma verdadeira enciclopédia ou dicionário universal, que faz descobrir o raro e agudo engenho de seu autor, como também sua extraordinária erudição e assombroso trabalho de investigação” [5]. Ele foi, assim, o primeiro escritor cristão a reunir, para os católicos, uma suma dos conhecimentos universais. Muitos fragmentos do estudo clássico foram preservados nessa obra, que, sem ela, teriam desaparecido irremediavelmente. A fama desse trabalho deu novo ímpeto aos trabalhos enciclopédicos, produzindo abundantes frutos nos subsequentes séculos da Idade Média. 
Obras de teologia, gramática e ciências 
No campo teológico, seus três livros Sentencias podem ser considerados a primeira Suma Teológica. Redigiu ainda para seus estudantes a obra De la diferencia de la propiedad de las palabras, como complemento para o estudo da gramática e retórica. E também as obras históricas La Cronica, La Historia de los Reyes de España e El Libro de los Varones eclesiáticos. Mesmo as ciências naturais e o estudo do mundo físico deveriam fazer parte do currículo de seus colégios, pois afirmava que “não é coisa supersticiosa o conhecer o curso dos astros, os movimentos das ondas, a natureza do raio e do trovão, as causas das tempestades, dos terremotos, da chuva e da neve, das nuvens e do arco-íris” [6]. De todas essas questões, trata em dois interessantes livros: De la naturaleza de las cosas — que dedicou ao rei Sisebuto, de quem foi amigo e conselheiro, e a quem incentivou em seus trabalhos literários — e Del Orden de las criaturas. 
Alma dos Concílios de Toledo e de Sevilha 
Além de combater a heresia ariana, que tinha penetrado profundamente na Espanha entre os visigodos, Santo Isidoro erradicou totalmente a dos “acéfalos”, que foi morta em seu nascedouro. “Como Leandro, ele teve a mais proeminente participação nos Concílios de Toledo e de Sevilha. Com toda justiça, pode-se dizer que foi em grande medida devido ao trabalho esclarecido desses dois ilustres irmãos que a legislação visigótica, que procedeu desses concílios, é vista por historiadores modernos como exercendo a mais importante influência nos começos do governo representativo” [7]. Em dezembro de 633, se bem que avançado em anos, Santo Isidoro presidiu ao IV Concílio de Toledo, do qual participaram todos os bispos da Espanha. Ele foi a origem da maior parte de seus decretos, como por exemplo, o que determinava a todos os bispos que estabelecessem seminários em suas dioceses para a formação do clero, na linha dos colégios fundados por ele em Sevilha. Desse modo Santo Isidoro foi a mola propulsora do movimento educativo que teve Sevilha como centro. Empenhou-se também para que fossem promulgados 74 cânones muito úteis para a explicação da fé e restabelecimento da disciplina da Igreja. A pedido dos padres conciliares, trabalhou num novo missal e breviário para unificar os costumes e a liturgia em todo o reino: “Seria um absurdo que tivéssemos distintos costumes os que professamos uma mesma fé e formamos parte de um mesmo império”, costumava dizer. Também nesse IV Concílio, a pedido do rei Sisenando, deu forma à constituição política do reino, consolidando o regime de estreita união entre os poderes civil e religioso, e amoldando a legislação com base nos princípios do Direito Canónico. Foi o primeiro a assinar o decreto que mudava a Sé metropolitana de Cartagena para Toledo, a nova capital visigótica. Nesse concílio ainda foi incentivado o estudo do grego e do hebreu, bem como das artes liberais. O Santo arcebispo suscitou também o interesse pelo direito e pela medicina, muito antes dos árabes, e despertou o interesse pela filosofia grega, introduzindo Aristóteles entre seus conterrâneos. Isidoro faleceu em 636. Foi o último dos antigos filósofos cristãos, tendo sido cognominado "luminar esplendoroso e incorruptível" por São Bráulio de Saragoça. Indubitavelmente foi ele o mais sábio homem de sua época, tendo exercido, como vimos, profunda influência em todo o sistema educativo da Idade Média. Seu discípulo São Bráulio o via como um homem suscitado por Deus para salvar o povo espanhol da avalanche de barbárie que ameaçava a civilização na Espanha. Diz ele: “Teus livros nos levam à casa paterna, quando andamos errantes e extraviados pela cidade tenebrosa deste mundo. Eles nos dizem quem somos, de onde viemos e onde nos encontramos. Eles nos falam das grandezas da pátria e nos dão a descrição dos tempos. Ensinam-nos o direito dos sacerdotes e das coisas santas, a disciplina pública e a doméstica, as causas, as relações e os géneros das coisas, os nomes dos povos e a essência de quanto existe no Céu e na Terra” [8]. O VIII Concílio de Toledo, em 653, denominou-o “Doutor insigne de nosso século, novíssimo ornamento da Igreja católica, o último na ordem dos tempos, mas não na doutrina; o homem mais douto nestes críticos momentos de fim das idades” [9]. 
Plínio Maria Solimeo
[1] Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo II, p. 41. [2] Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo IV, pp. 187-188. [3] Pe. Pedro de Ribadeneira, S.J., Flos Sanctorum, apud Dr. Eduardo Maria Vilarrasa, La Leyenda de Oro, L. González y Compañia – Editores, Barcelona, 1896, tomo II, p. 21. [4] John B. O'Connor, St. Isidore of Sevilla, The Catholic Encyclopedia, Volume VIII, Copyright © 1910 by Robert Appleton Company, Online Edition Copyright © 2003 by Kevin Knight. [5] Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1947, tomo II, p. 356. [6] Fr. Justo Perez de Urbel, op.cit. pp. 45-46. [7] John B. O'Connor, The Catholic Encyclopedia, online edition. [8] Fr. Justo Perez de Urbel, op.cit., p. 49. [9] Id., ib.

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