terça-feira, 18 de agosto de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - “Os ataques de Deus”.

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
O salmo 8, escandalizado com as atitudes de Deus, comenta: “Que é o homem para que penseis nele e o filho do homem para lhe dardes atenção. Mas Vós o fizestes menor que um Deus e de honra e glória o coroastes”. Penso de vez em quando, quando penso, que estamos de tal modo desligados deste mistério de Deus, que nem parece verdade tudo o que se diz. Deus está desligado de nosso cotidiano. A referência a Ele vem somente quando a gente está em dificuldades ou quando se fala sobre assunto religioso. Mas falta o fundamental: Deus faz parte de nossa vida, ou melhor, fazemos parte da vida de Deus. 
Na história da humanidade notamos que existe um sentimento de saudade de um Paraíso perdido onde o homem, à tarde recebia a visitinha de Deus. O livro do Gênesis falando da culpa original, narra esta convivência com Deus: “Então seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si. E eis que ouviram o barulho dos passos do Senhor Deus que passeava no jardim à hora da brisa da tarde” (Gn 3,7-8). Como faz falta esta presença tão amada! Castro Alves canta em Vozes da África : “Deus, oh Deus, onde estás que não me respondes, em que mundo ou qu’estrelas tu te escondes embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, debalde então corre o infinito, onde estás, Senhor meu Deus?” 
Mas não é verdade que Deus se esconde. Aqui entra um mistério dos contínuos ataques de Deus. Correndo pelas Sagradas Escrituras, vemos como Deus vem atacando o homem para reconquistá-lo. A carta aos Hebreus diz: “Deus muitas vezes e de muitos modos falou pelos profetas e ultimamente falou-nos por meio de seu Filho”(Hb 1,1-2). Deus intervem na história da humanidade e de cada um até que se chegue à aceitação de seu Filho como o interlocutor necessário. Podemos ver na história da salvação as muitas investidas redentoras que Deus faz em favor de nós. E a maior delas é a vinda de seu Filho como uma criança recém nascida em Belém. 
Os ataques de Deus são como o cupido que fere o coração com a flecha do amor. Tudo o que Ele fez foi para mostrar seu amor, não deixar dúvida deste amor e atrair-nos a seu amor como nos explica Santo Afonso. Podemos dizer que Deus não deixou de nos fazer suas visitinhas ao cair da tarde. Pena é que nossos olhos estão abertos a outras realidades. Quando o colírio do amor do Filho tocar os olhos de nosso coração, vamos vê-lo caminhando em nosso paraíso. 
ARTIGO EM 18 DE DEZEMBRO DE 2001

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