quinta-feira, 2 de abril de 2020

REFLETINDO APALAVRA - “Lançando as redes”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
44 ANOS SACERDOTE
Avança para as águas mais profundas 
Depois de sua manifestação na sinagoga de Nazaré como enviado de Deus, Jesus começa a chamar os discípulos para participarem de sua missão. O Hoje de Deus será realizado também por homens que Jesus escolheu pessoalmente. O chamamento se dá no local simbólico da pescaria no mar profundo. Não mais em uma sinagoga cheia de tradições e embaraços, mas no mar profundo. Como o profeta Isaias que tem uma experiência magnífica no templo (Is 6,1-8), os discípulos experimentam a força de seu Senhor, cuja palavra conduz a uma pesca abundante. Esse paralelo é importante, pois é o mesmo Senhor que dá vigor ao anúncio dos discípulos. Isaias se dispõe e os discípulos deixam tudo e seguem Jesus. É na força de sua palavra que vão novamente à pesca. É na força da palavra de Jesus que vão anunciar. É preciso arriscar tudo para ter tudo. Vemos que foi depois que falou ao povo da barca que os discípulos Lhe prepararam, que Jesus escolhe e chama os apóstolos. A barca é símbolo da Igreja que anuncia através da palavra simbolizada nas redes. O mar profundo é o mundo que recebe a pregação. Os peixes são os que acolhem a pregação. A força da palavra é tão forte que eles vêm em grande quantidade. Os pescadores são os anunciadores da palavra. A ajuda dos outros barcos é o símbolo da comunidade que trabalha unida, todos no mesmo sentido. A palavra de Jesus é a força de Deus que sustenta a pregação. Sem uma experiência significativa de Deus não poderemos frutificar em nosso ministério. Pregar o vazio nos leva ao vazio. 
Trabalhamos a noite toda 
Há um paralelo entre a visão de Isaias e a pescaria dos discípulos: A grandiosidade de Deus assusta a ponto de Isaias clamar: “Ai de mim, estou perdido! Sou apenas um homem de lábios impuros, mas eu vi com meus olhos o rei, o Senhor dos exércitos” (Is 6,5). Para o judeu, ver Deus significava morrer. Pedro tem o mesmo sentimento diante da pesca maravilhosa: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um homem pecador” (Lc 5,9). Há uma ponta de desânimo nos discípulos que voltam de uma noite sem resultados. O reconhecimento de sua própria fraqueza por ser pecador é condição para a abertura ao novo que é o ministério com Jesus. O anúncio da Palavra se torna para eles a nova maneira de pescar: “Diz Jesus: ‘Não tenhas medo! De hoje em diante serás pescador de homens’” (Id 10). Vivemos um processo doloroso de evangelização, pois estamos sem forças e num mar muito revolto e profundo. Parece que perdemos a força evangelizadora. E isto se deve ao vazio de nossa experiência com Deus e nossa busca seja muito rasa. O que falta? Ouvir a palavra de Jesus? Ficamos confiando só nos lambaris que caem na rede? Não está nos faltando aquela experiência de Jesus como pecadores? Ou precisamos de algo mais profundo e forte? Falta Jesus e a experiência da força de sua palavra. 
O que recebi, transmiti a vós 
A fé que temos foi-nos transmitida pelo anúncio evangélico. Paulo nos dá esse testemunho. A Sagrada Tradição vem junto com a Sagrada Escritura. A Tradição nos passou o conhecimento da Ressurreição de Jesus. Assim acolhemos o Vivo e deixamos de lado o que é morto, o que não aceita a Vida. Essa é a experiência fundamental que temos para construir nossa vida de fé. As aparições de Jesus aos discípulos continuam para nós que o acolhemos em sua Palavra. Ela é tão sublime quanto a visão de Isaias. A grandeza está no acolhimento que estimula a dizer como o profeta: “Aqui estou, envia-me” (Is 6,8). 
Hoje tem lambari 
Diante da experiência dos apóstolos na pesca maravilhosa, fruto das palavras de Jesus, nós devemos examinar nossos processos de evangelização. Há momentos em que falta tudo. A evangelização a partir da experiência de Jesus é garantida. Sem essa, quando muito pegamos uns lambarizinhos. O profeta teve a ousadia de se reconhecer pecador e ao mesmo tempo de se oferecer para a missão depois que o Serafim tocou seus lábios com uma brasa do altar. Os apóstolos foram tocados pela palavra de Jesus. A missão foi forte e frutuosa. O vigor dos apóstolos depois de Pentecostes nos mostra quanto é possível fazer quando se crê de fato na ressurreição de Jesus.

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