quinta-feira, 5 de março de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - “Serão consolados”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
44 ANOS SACERDOTE
(Ao fundo:PADRE JOSÉ OSCAR BRANDÃO)
2118. Prazer acima de tudo 
O país das lágrimas tem muitos habitantes. O Papa Francisco, continuando sua reflexão sobre as bem-aventuranças como caminho de santidade, retoma mais um tema da santidade: “Felizes os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4). O mundo procura esconder os sofrimentos e as lágrimas. Querem o riso e a alegria do ter, do poder e do prazer. Não percebem que ter, prazer e poder provoca muito sofrimento e muita lágrima. São os pecados dos três poderes: o ter, o prazer e o poder. A busca do gozo, da alegria e do prazer usa o poder e as riquezas. As pessoas têm medo da dor e da desgraça. O caminho da cruz não é reconhecido. O sofrimento não faz parte da vida espiritual das pessoas, principalmente de certos movimentos religiosos. Confundem ter problemas com falta de vida espiritual. Pensam que ser cristão é não ter problemas. Não percebem que vida cristã é felicidade com problema e dores. Jesus dizia: “Devo receber um batismo (sua morte) e, como me angustio até que seja consumado!” (Lc 12,50). Diz o Papa Francisco: “Quem é do mundo ignora quando há problemas de doença ou aflição na família ou ao seu redor. O mundo não quer chorar: prefere ignorar as situações dolorosas, cobri-las, escondê-las. Gastam-se muitas energias para escapar das situações onde está presente o sofrimento, julgando que é possível dissimular a realidade, onde nunca, nunca, pode faltar a cruz” (GE 75). O sofrimento não é entendido pelos cristãos que o veem como castigo. Até dizem: “Por que acontece isso comigo que fiz tanta coisa boa”? “Que adiantou rezar se não consegui o milagre”. Outros se colocam como juízes e dizem: “Você não rezou bem”. 
2119. A dor que não fere o coração 
A dor, assumida como Jesus o fez em sua paixão, não fere o coração. A alma que vive a fé conhece os males do mundo e chora por eles. Tem capacidade de chorar com as pessoas (GE 75). “Esta pessoa sente que o outro é carne da sua carne, não teme aproximar-se até tocar a sua ferida, compadece-se até sentir que as distâncias são superadas. Assim é possível acolher aquela exortação de São Paulo: ‘Chorai com os que choram’ (Rm 12,15). A pessoa consolada com a consolação de Jesus é capaz de descobrir que a vida tem sentido socorrendo o outro na sua aflição, compreendendo a angústia alheia, aliviando os outros” (GE 75). Chorar é deixar que não somente nossa razão conheça as realidades dolorosas, mas deixar que o coração possa sentir junto, participando da mesma dor. Não sentindo a mesma dor, mas ter o coração capaz de captar a dor do semelhante e assumi-la como sua, não para tê-la, mas para libertá-lo de não sofrer sem que o Consolador esteja junto. Jesus se encarnou porque agiu assim. “Ele assumiu nossas dores” (Mt 8,17 – Is 53,4). Cristo sofreu e, como consolador, assumiu o que somos para nos indicar o caminho da superação: “Meu Pai, se é possível, que passe de mim este cálice, contudo não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26, 39). A consolação de Jesus é a certeza que o Pai assim o quer. Esse é o sentido do Anjo que O consola (Lc 22,43). Chora com os que choram. 
2120. Consolação espiritual 
“Quem, vendo os sofrimentos e, se deixa trespassar pela aflição e chora no seu coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser autenticamente feliz. Esse é consolado, mas com a consolação de Jesus e não com a do mundo. Assim pode ter a coragem de compartilhar o sofrimento alheio, e deixar de fugir das situações dolorosas”. Assim conclui o Papa Francisco. Saber chorar com os outros: isto é santidade. (GE 76). Diversamente é a consolação espiritual de um gozo místico, no prazer de estar com Deus. É preciso ser como Jesus que também vivia essa dimensão, mas para Ele, era fundamental unir sua vida ao sofrimento de cada filho de Deus. Sem isso, pode ser uma ilusão.

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