Evangelho segundo São Marcos 7,24-30.
Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se para a região de Tiro e Sidónia. Entrou numa casa e não queria que ninguém o soubesse. Mas não pôde passar despercebido,
pois logo uma mulher, cuja filha tinha um espírito impuro, ao ouvir falar dele, veio prostrar-se a seus pés.
A mulher era pagã, siro-fenícia de nascimento, e pediu-Lhe que expulsasse o demónio de sua filha.
Mas Jesus respondeu-lhe: «Deixa primeiro que os filhos estejam saciados, pois não está certo tirar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos».
Ela, porém, disse: «Senhor, também é verdade que os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas das crianças».
Então Jesus respondeu-lhe: «Dizes muito bem. Podes voltar para casa, porque o demónio já saiu da tua filha».
Ela voltou para casa e encontrou a criança deitada na cama. O demónio tinha saído.
Tradução litúrgica da Bíblia
São João Crisóstomo(345-407)
presbítero de Antioquia,
bispo de Constantinopla,
doutor da Igreja
Homilias sobre o Evangelho de Mateus,n.º52,§2
«Os cachorrinhos comem debaixo da mesa
as migalhas das crianças»
Ao aproximar-se de Jesus, a Cananeia só diz estas palavras: «Tem piedade de mim» (Mt 15,22), mas os seus gritos atraem um grande número de pessoas. Era comovente ver uma mulher gritar com tanta emoção, uma mãe implorar pela sua filha, uma criança duramente maltratada. [...] Ela não diz: «Tem piedade da minha filha», mas: «Tem piedade de mim». «A minha filha não se apercebe do seu mal; eu, pelo contrário, experimento mil sofrimentos, fico doente ao vê-la naquele estado, quase enlouqueço por vê-la assim». [...]
Jesus responde-lhe: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel» (Mt 15,24). Que faz a Cananeia depois de ter escutado estas palavras? Vai-se embora em silêncio? Perde a coragem? Não! Insiste ainda mais. Ora, não é isso que nós fazemos: quando não somos atendidos, retiramo-nos desanimados, quando devíamos insistir com mais ardor. Na verdade, qualquer um ficaria desanimado com a resposta de Jesus. Bastaria o seu silêncio para eliminar toda a esperança. [...] Mas esta mulher não perde a coragem; pelo contrário, aproxima-se mais e prostra-se dizendo: «Socorre-me, Senhor. [...] Se eu fosse um cãozinho nesta casa, já não seria uma estrangeira. Sei muito bem que a comida é necessária aos filhos [...], mas não se pode proibi-los de darem as migalhas aos cães. Não mas deves recusar [...], porque eu sou o cãozinho que não se pode mandar embora».
Sabendo a resposta que ia dar-lhe, Jesus tarda em corresponder à sua oração. [...] As suas respostas não se destinavam a fazer sofrer esta mulher, mas a revelar o tesouro escondido da sua fé.
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