Josefa Naval Girbés nasceu em Algemesi, na Ribera del Júcar, a 32 km de Valência, Espanha, no dia 11 de dezembro de 1820, tendo sido batizada no mesmo dia na Igreja de São Tiago Apóstolo, recebendo o nome de Maria Josefa.
Seus pais Francisco Naval Carrasco e Josefa Girbés tiveram cinco filhos sendo Josefa a primogênita. Josefa Naval herdou de seus pais grande espírito de fé, ardente caridade, amor ao trabalho e sincero desejo de viver sempre na graça de Deus.
Algemesi era um povoado eminentemente agrícola, com quase 8.000 habitantes, uma única paróquia, um convento de Dominicanos, um hospital, escassos centros de instrução e poucas indústrias elementares. Josefa adquiriu uma cultura suficiente para desenvolver-se no meio em que vivia. Aprendeu a bordar, atividade que com tanto acerto ensinou às suas numerosas alunas. Em sua formação religiosa colaborou eficazmente sua mãe.
Desde pequena aprendeu a amar à Santíssima Virgem, venerada perto de sua casa no convento dos Padres Dominicanos, e já manifestava um caráter reto, um tanto enérgico, que ela depois administraria em sua atividade apostólica. Fez sua Primeira Comunhão quando apenas contava com nove anos, fato incomum na época.
Sua mãe morreu quando ela tinha treze anos. A Virgem inspirou-lhe que nunca a abandonaria. Com seu pai e três de seus irmãos (os outros faleceram em tenra idade) Josefa foi viver com sua avó materna.
Em 1847, quando sua avó faleceu, Josefa tornou-se a perfeita “dona” da casa na qual viviam o pai, o tio, mantenedores econômicos, e os irmãos Vicente de 20 anos e Maria Joaquina de 22. Josefa cuidou com dedicação do tio e do pai nos seus últimos anos de vida. O pai faleceu quando Josefa tinha 42 anos,
Mas sua vida não era dedicada somente à família: frequentava com assiduidade a paróquia vizinha, comungava todos os dias, colocou-se sob a direção espiritual do pároco Pe. Gaspar Silvestre. Aos 18 anos, no dia 4 de dezembro de 1838, escolheu Jesus como seu esposo e a Ele consagrou para sempre sua virgindade; praticou os três princípios: obediência, laboriosidade, perseverança, fazendo deles uma norma de vida.
Josefa ensinava os pobres, aconselhava os que a ela se dirigiam, restaurava a paz nas famílias desunidas, organizava reuniões em sua casa com o fim de ajudar as mães em sua formação cristã, encaminhava as mulheres que haviam se afastado do reto caminho e com prudência admoestava os pecadores. Além disso, cuidava da confecção, conservação e limpeza dos ornamentos litúrgicos e do adorno dos altares.
Seus trabalhos eram intercalados de leituras piedosas, orações, jaculatórias, meditação, recitação do Rosário. Viveu sempre unida às dores de Cristo: ao sofrimento redentor de Nosso Senhor uniu os seus, as dores de cabeça que sofreu desde os trinta anos até sua morte e as penitências, inclusive materiais, como jejuns e cilícios, que se impunha e eram autorizadas por seus diretores espirituais.
A obra na qual concentrou todos os seus cuidados e energias foi a da educação religiosa e humana das jovens, para as quais abriu em sua casa uma escola gratuita de bordado, atividade manual em que era muito habilidosa. Aquela atividade, à qual acudiam muitas jovens de todas as esferas sociais, se converteu em um centro de convivência fraterna, oração, louvor a Deus, explicação e aprofundamento da Sagrada Escritura e das verdades eternas.
A jornada diária de Josefa era muito apertada: levantava muito cedo para assistir a primeira Missa da paróquia, comungava e fazia oração mental; a seguir dedicava algum tempo à limpeza; o horário da escola-oficina era das 9 às 12 e das 14 às 18 horas.
Consciente das dificuldades que se opõem à perfeição, dizia a suas alunas: “Filhas minhas, não temos que temer demasiadamente as dificuldades do caminho que temos empreendido; é verdade que esse caminho é pedregoso e está cheio de trabalhos e privações, porém também é certo que nosso Divino Capitão o trilhou durante sua vida, paixão e morte”.
Josefa primava pela confiança em Deus e a infundia às suas alunas: “Que nenhuma de vocês desconfie à vista de seus muitos pecados; nossa confiança não se apoia no que nós somos, senão no que Deus é e no amor misericordioso que Ele nos tem”.
Terminada a jornada de trabalho, para dar prosseguimento à sua formação espiritual, as alunas mais seletas permaneciam de ordinário no jardim da casa. Deste grupo escolhido saíram tantas jovens religiosas, que o Cardeal Guisasola, Arcebispo de Valência, em visita pastoral a Algemesi perguntou cheio de admiração: “Que povo é este que tem tantas religiosas em todos os conventos de nossa arquidiocese?”.
Amante da pureza, que ela mesma vivia plenamente, recomendava às jovens: “Sede limpas, asseadas no modo de vestir, sede muito honestas como a Virgem. Todas as virtudes embelezam a alma, porém, a pureza a embeleza de um modo especial, fazendo-a semelhante aos anjos”.
Josefa, entretanto, não descuidou das jovens inclinadas ao matrimônio; a elas dedicou tempo e esforço. De sua escola saíram excelentes esposas e mães de família. Dizia: “Haveis de levar vossa cruz e cumprir o próprio dever como Deus manda: as solteiras, como solteiras; as casadas, como casadas”.
A caridade de Josefa brilhou na epidemia de cólera de 1885, quando contava 65 anos. Ela e algumas de suas alunas se dedicaram a atender aos empestados que estavam sozinhos e, portanto, os mais necessitados de ajuda.
Josefa amou profundamente a Igreja e infundia esse amor àqueles que se acercavam dela: “Amemos a Igreja a que pertencemos e aproveitemo-nos de seus meios de santificação”. Ela viveu e morreu em um século difícil para a Igreja. Dois Papas sofreram exílio da cidade de Roma; perderam-se os Estados Pontifícios, o movimento trabalhista se instalou com virulência implacável contra o Catolicismo. Consciente do que ocorria, Josefa sofreu com a Igreja e compartilhou suas alegrias: exultou com a declaração do dogma da Imaculada Conceição.
Por tudo isso, ganhou grande estima e fama de santidade entre o clero e o povo, inclusive depois de sua morte.
Uma doença crônica a manteve no leito por 15 dias em fevereiro de 1893. Rodeada de suas filhas espirituais, piedosamente faleceu em 24 de fevereiro de 1893.
Vestida com o hábito da Ordem Terceira do Carmo, seu venerável corpo foi depositado em um humilde ataúde. Josefa foi depositada em um nicho adquirido por Josefa Esteve Trull, sua discípula predileta. Ali permaneceu incorrupto até 20 de outubro de 1946, quando foi transladado para a paróquia Basílica de São Tiago de Algemesi.
A causa para sua beatificação foi introduzida em Roma a 27 de janeiro de 1952, e a cerimônia de beatificação foi celebrada em Roma no dia 25 de setembro de 1988.
Sua celebração litúrgica é 24 de fevereiro; os Carmelitas Descalços celebram sua memória em 6 de novembro.
Inspirado por sua obra, Bernat Asensi y Cubells (1889 - 1962), também de Algemesi, fundou a Congregação das Missionárias da Divina Providência e promoveu a beatificação de Josefa Naval, além de escrever sua biografia.
Fontes:
Postado pela 1ª vez em 23 de fevereiro de 2013
Adendo
Sabemos, com certeza, pelas disposições realizadas no Processo Ordinário (para a causa de Beatificação-Canonização) e por dados recolhidos na “Biografia da Serva de Deus Josefa Naval Girbés”, escrita pelo Pe. Bernardo Asensi Cubells (Valência, 1957; 2ª. 1962) que a Beata “foi inscrita na Ordem Terceira do Carmelo” e que, como tal, “dispôs que por ocasião de sua morte a revestissem com o hábito do Carmo”, que “tinha uma especial devoção ao Escapulário do Carmo”, e que por causa disso, quando morreu, suas discípulas “lhe vestiram... o hábito carmelitano, visto que pertencia à Ordem Terceira do Carmo”.
Sabemos ademais pelo livro “Algemesi e sua patrona” (1907), que a Fraternidade do Carmo havia sido fundada nessa cidade em 1854, e por tradição conservada em Algemesi e comunicada oralmente por várias pessoas ao Postulador Geral em algumas das visitas à cidade, que existiam alguns grupos de Irmandades do Carmo em vários lugares da Província de Valência, cuja condição era de “agregados à Terceira Ordem desta cidade” e que, no final do século XIX, havia muita comunhão entre a Ordem Terceira de Algemesi e os Padres Carmelitas de Alboraya, em Valência, cuja Comunidade havia sido restabelecida em 1884, e que, em seus registros, os Terceiros Seculares existiam em mais de um milhar em 1891.
Josefa Naval Girbés, como abrindo de par em par sua alma, dizia muitas vezes: “meu ideal não é largar a vida, senão santificar minha alma”. Praticou em grau heroico as virtudes teologais da fé, esperança e amor, cujo exercício, bem sabemos os Carmelitas, nos levam ao abandono, à abnegação e à doação de nós mesmos, como ideais vocacionais.
A oração do Ângelus ao meio dia, e algumas outras práticas de piedade, entre as que sobressaía era a recitação do Rosário a cada dia, se possível com suas discípulas.
Esta era sua repetida mensagem: “oração, oração; fazer a cada dia um momento de oração e tudo vos parecerá maneiro e suave. Aprendei a falar com Deus sem palavras e fazei assim um momento de oração meditativa. Diante do sacrário havemos de estar com grandíssima fé e reverência”. Este último conselho ela dizia como expressão de seu espírito eucarístico.
Seu amor à cruz foi uma mensagem constante para todas suas alunas. Assim dizia: “correspondamos ao amor sacrificado de Jesus em sua Paixão. Haveis de levar a vossa cruz, cumprindo o dever como Deus manda. Sofrei com amor, aproveitando todas as ocasiões de pequenas doenças. Amar, amar e sofrer em silêncio; o amor se prova no sacrifício. Sacrificai vossos gostos”.
Praticou heroicamente a virtude da fortaleza, que fortalece a alma para servir a Deus, sem deter-se por nada, nem ante nada, nem sequer ante o temor da morte.
Era exigente consigo mesma, logo o era também com os demais. Para exercitar-se na fortaleza, seguindo adiante com exemplo, propunha a suas discípulas a prática da mortificação. Mortificações às vezes simples, porém saturadas de vitória contra si própria que pouco a pouco a preparavam a oferecimentos mais amplos e generosos. Dizia às suas alunas: “filhas minhas, se é necessária a fortaleza para empreender o caminho de Deus, não o é menos para aceitar o que Ele envia ou permite para nossa purificação, a saber: moléstias, enfermidades, desprezos...”.
Outra das virtudes que Josefa exercitou heroicamente foi a da temperança, necessária para moderar a inclinação ao prazer sensível, que pode impedir a perfeição e conseguir assim a posse de Deus. Fez como norma de sua vida aquela que São Paulo pregava: “castigo meu corpo e o reduzo à servidão” (I Cor 9,27). Castigou seu corpo, porém com prudência.
Sua comida era sóbria, mas bem pouca e às vezes, voluntariamente, sem sabor. Não comia carne, a não ser por prescrição médica. Não bebia vinho (coisa muito comum naquela época e em sua região). Jejuava com certa frequência. Na Semana Santa não comia nada desde Quinta-Feira Santa até o dia do “Glória” (noite do Sábado Santo).
À mortificação exterior superava a interior; essa vitória contra si própria que ela dissimulava com seu perene sorriso. Ninguém adivinhava que ela estava constantemente vigilante sobre suas paixões; porque tudo o fazia com grande naturalidade, sem sobressaltos, sem pôr em perigo sua inata longanimidade e equilíbrio emocional.
Fonte:
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