Iniciamos a
Quaresma com a cerimônia da imposição das cinzas. É uma tradição antiga que
significa entrar em penitência e conversão. Por esse rito iniciamos a caminhada
para a Páscoa com a renovação de nosso batismo pelo qual participamos da Morte
e Ressurreição do Senhor. É um momento importante para aprofundar a vivência do
Mistério Pascal de Cristo. Na oração de bênção das cinzas imploramos: “Derramai
a graça da vossa benção sobre os fiéis que vão receber estas cinzas para que,
prosseguindo na observância da Quaresma, possam celebrar de coração purificado
o Mistério Pascal do vosso Filho”. É tempo de reconciliação com Deus aprofundando
as exigências da aliança que fizemos em nosso Batismo e confirmamos em cada
Eucaristia. Paulo insiste na carta aos Coríntios: “Em nome de Cristo, nós vos
suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus... Exortamos a não receberdes em
vão a graça de Deus” (2Cor 6,1). E lembra que
estamos em um tempo favorável: “É agora o tempo favorável, é agora o dia da
salvação” (2). A aclamação ao evangelho exclama:
“Oxalá ouvísseis hoje sua voz: não fecheis os corações como em Meriba” (Sl
94,8).
O combate é contra o mal que criamos e consome nossas forças. A tentação Jesus
é a nossa também. Vamos vencer com Ele, porque estamos unidos a Ele em seu
mistério de Paixão, Morte e Ressurreição.
A graça é maior que nossas fraquezas.
1535. Dimensões da luta
Vivemos um processo
de conversão. Para esse tempo, temos como meio o que Jesus ensina: oração,
jejum e esmola. O jejum é muito aconselhável. Não se trata de passar fome, mas
de predispor à caridade e à oração, sem os quais o jejum perde o sentido. Isso
já proclamou o profeta Isaías (Is 58,1-8). É interessante
notar que a prática quaresmal de jejum, abstinência e oração são explicitações das
três dimensões fundamentais do ser humano: sua relação com o Divino, com o
outro e o mundo. Não se trata de um rito de passar fome, rezar e dar uma
esmolinha, mas restaurar a harmonia do ser humano. O desequilíbrio da pessoa
está na má gestão destes relacionamentos. O homem restaurado será o homem
ressuscitado em Cristo, com novas atitudes. De Deus somos filhos, do outro
somos irmãos e do mundo somos protetores. Se mudarmos este quadro e passamos a
ser guiados pelas realidades do mundo, nós as tornamos deuses; Deus se torna
outro qualquer sem significado para nossa vida. O irmão será escravo de um
mundo explorado. Chegamos ao desequilíbrio e desarmonia. A oração nos faz
voltar a Deus, A esmola nos torna fraternos e o jejum nos põe em equilíbrio no
mundo. Fazer fechados no quarto significa o quarto do coração. Nesse, Deus
habita e conhece.
1536.Tempo
de penitência
Pedimos
perdão, pois somos pecadores. O jejum é a luta do dia a dia para vencer o mal.
E a caridade sustenta essa luta e nos põe a serviço dos irmãos. Rezamos no
prefácio da Eucaristia deste dia: “Pela penitência da Quaresma corrigis nossos
vícios, elevais nossos sentimentos, fortificais nosso espírito fraterno e nos
garantis uma eterna recompensa”. Jesus pede sinceridade de coração. Que ela
seja encontro com Deus. A esmola seja oculta, pois só é boa quando é feita por
Deus. O jejum não é passar fome, mas tirar o superfluo em nossa vida. O mal
pode nos dominar. Se cortarmos suas raízes ele morre. Para vencer é preciso
buscar na Palavra de Deus e ter criatividade para superar. A campanha da
Fraternidade convida à solidariedade. A morte de Jesus é solidariedade com
todos que sofrem sob o peso do pecado. Ele assume nossos males e os prega na
cruz com Ele.
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