Quando
o amor é muito grande, o silêncio é a maior palavra, pois não há palavras
suficientes para explicar um grande amor. Quando nos aproximamos da Palavra de
Deus nós nos fixamos no som que essas santas Palavras utilizam par chegar a
nossos ouvidos, tanto que chamamos nossa fé de uma religião do ouvido. Lemos
nos salmos: “Vamos ouvir o que o Senhor vai falar” (Sl
85.9). No tempo litúrgico da
Quaresma que estamos vivendo, temos uma riqueza muito grande da Palavra de Deus
que nos ensina e estimula nossa conversão. A abundância não quer destruir o
silêncio que domina a Palavra. Essa Palavra, Filho do Pai, em toda eternidade é
silêncio de escuta e de palavra, pois a comunhão de vida é a comunicação maior.
Ao se encarnar e se manifestar como o Messias Prometido, consumiu apenas três
anos de no ministério da Palavra, mesmo assim, recortado pelos momentos em que
se retirava a sós para rezar, para alimentar-se do Pai. Viveu os outros anos,
na escola do silêncio de Nazaré, como homem em sua família. E o último momento
de sua vida foi no silêncio do túmulo, como diziam os antigos escritores sobre
o Sábado Santo, numa homilia do século IV: “Que está
acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande
silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito
homem adormeceu”. O silêncio que se pede não é calar-se e nada dizer, mas é
colocar dentro de si a calma e a comunicação de vida que não necessita de
palavras. É um duro aprendizado silenciar o coração, acalmar os desejos,
sossegar as paixões e tirar de dentro de si a multidão. A sociedade teme o
silêncio exterior porque não sabe se abrir ao silêncio interior. Meu pai era um
homem silencioso, de poucas palavras, mas de muita observação. Não é tanto o
silêncio exterior favorece o silêncio interior, mas é este que favorece mais o
silêncio exterior.
1239. Encantar-se
Quando
contemplamos uma criança diante de uma vitrine iluminada vendo um brinquedo que
lhe atrai e que ela deseja, é belo como contempla e se encanta. Assim, que
acontece com a Palavra de Deus. Não é pela inteligência que nos aproximamos,
mas pelo encanto que ela provoca em nos. A beleza da Palavra nos encanta. Lemos
no livro dos Provérbios quando nos diz da Sabedoria Criadora: “Eu (a Sabedoria)
era seu encanto todos os dias” (Pr 8,30). Sem o encanto, a Palavra torna-se para incompreensível e enfadonha.
Ela não penetra o vazio de nosso interior porque ele está cheio de nada. Não se
trata de fazer silêncio na celebração, mas viver em silêncio de encanto.
1240. Falar em silêncio
A capacidade de amar
faz-nos sair de nós mesmos criando o vazio pleno de Deus. Deste modo pensamos
nos outros e deixamos espaço para a Palavra germinar e fecundar nossa vida e
atitudes. E assim, mesmo no meio de muita agitação manteremos o fiel de nossa
balança buscando sempre a direção da comunhão com o Pai, em Jesus pelo Espírito.
É do silêncio do túmulo, quando se silenciaram todos os movimentos humanos de
Jesus é que a Ressurreição aconteceu. Jesus não precisou de muitas palavras
para formar seus discípulos. Eles aprenderam vendo-o com silêncio. É o momento
de nos voltarmos mais para dentro de nós mesmos e desativar as sirenes que
tanto nos perturbam e impedem de soar alto o silêncio da Palavra.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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