Deus
nos fez para sermos corpo unido (1Cor 1,13), como nos explica Paulo. Não elimina o individual,
mas o coloca em união aos outros, pois um membro sozinho não é o corpo. É sua
união aos outros membros é que lhe dá sentido e existência. Jesus usa a
comparação do ramo unido ao tronco (Jo 15,1-9). Por isso, quando Deus fala a seu povo sempre o faz
em assembleia, na santa convocação. Na recuperação do povo de Deus depois dos
sofrimentos do exílio, Esdras e Neemias, convocam o povo, abrem o livro e fazem
a leitura. Essa proclamação é como a permanente refundação do povo. Fazem um
estrado para trazer a memória do Monte Sinai. Hoje temos o ambão para a
proclamação do Evangelho. Neemias convoca o povo à alegria da conversão. Deus
se alegra pela constante conversão de seu povo. Jesus completará este
pensamento com as parábolas do filho, da ovelha e da dracma perdidos (Lc 15,1-31). Em
Nazaré, a convocação se dá na sinagoga na qual, Ele abre o livro sagrado. Solene
gesto para definir sua missão. Depois de manifestado ao povo, manifesta sua
missão. Nesta está sob a unção do Espírito. O texto que lê é do profeta Isaias,
fixando seu pensamento no programa do Reino que traz libertação e na
proclamação do grande jubileu de plenitude da bênção. Lucas conta este momento
da vida de Jesus para apresentar a solidez do ensinamento. Anuncia a base da
pregação de Jesus. A preferência pelos pobres é por ser o parente mais próximo
do pobre (Pr 23,11);
realizar a remissão de todas as prisões para viver a liberdade dos filhos, pois
Ele é o Redentor; para abrir os olhos dos cegos para que vejam e superem a
ignorância.
Hoje se cumpriu esta Escritura.
Nós
também recebemos o Espírito do Senhor para a missão de libertação, como Jesus.
Assim cumprimos a Escritura para nosso momento. Enquanto a Igreja continua a
missão, tem a força transformadora do Espírito, do contrário se torna sociedade
que pode até desfigurar o ministério de Jesus. A tentação é grande, pois a
opção pelos pobres dá trabalho e nos coloca em confronto com aqueles que assim
os fazem. Quando realizamos essa missão de libertação de todos os males que
aprisionam as pessoas, figurada na libertação dos prisioneiros, entramos em
choque com os poderosos. Sem ser espiritual, não chega a realizar a libertação.
A comunidade reunida para a celebração torna presente este memória do início do
ministério de Jesus. Ela é o HOJE de Deus. É Jesus mesmo que através de seus
discípulos que continua sua missão. Cada celebração é uma sagrada convocação
que nos toca a consciência para retomar o dinamismo da lei de vida. Se
falharmos em nosso compromisso com os necessitados, eles não conhecerão o tempo
da visita de Deus em suas vida e continuarão vítimas do pecado do mundo.
Um só corpo em missão
Recebemos também convocação de Jesus para anunciar
seu projeto de salvação, unidos a Ele. Lembramos Jesus, leigo, participante de
sua comunidade, na qual era um bom leitor e comentarista da Palavra de Deus.
Sabia encontrar o fundamento de sua missão na Palavra de Deus. Para o Corpo de
Cristo, é necessária a permanente abertura à Palavra de Deus e à sua
qualificada proclamação. Ela traz a
alegria: “A Alegria do Senhor é
vossa força” (Ne 8,10).
Em assembleia litúrgica somos parte de um corpo que continua a missão de Jesus. A
religião intimista, ainda muito propagada, é um refinado egoísmo que nos tira
todo o compromisso. Somos um corpo.
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