Continuamos
a leitura do discurso do evangelho de S. Mateus sobre a Igreja. Nele estão apresentas
as regras do relacionamento dos fiéis na comunidade insistindo no respeito ao
outro, alteridade, na força da conversão à comunidade, na presença de Cristo e
no perdão das ofensas (Mt 18,1-35). Este texto é uma radiografia do coração do Pai.
Jesus quer que façamos como o Pai. O Evangelho
é um ensinamento sobre o Reino, mas, ao mesmo tempo, fala da vida de Deus. No
texto citado, temos alguém que devia muito e lhe foi cobrado. Esse empregado,
como diz o evangelho, não era um trabalhador, mas um governador de um estado.
Era uma dívida impagável. Diante das súplicas do devedor, a dívida foi
perdoada. Esse homem, perdoado, não aprendeu com o perdão que recebeu e não
quis perdoar um que lhe devia uns poucos salários. Jesus conta essa parábola
para explicar a Pedro, que pensava fazer vantagem ao perdoar sete vezes, diz
que o perdão de Deus é total e para sempre. Este é modo de perdoar. Se não
perdoarmos como Deus, não vamos ter o perdão de nossos pecados. Pedimos a Deus,
no Pai Nosso, que nos perdoe como nós perdoamos. Damos a Deus a medida do
perdão. Deus não retarda o pagamento da dívida, mas perdoa. Deus não tira
vingança. Se não soubermos perdoar como o Pai, não teremos parte na sua vida. O
Evangelho termina com uma ameaça: “É assim que meu Pai... fará convosco, se
cada um não perdoar de coração ao seu irmão” (Mt 18,35). Por que, essa insistência na totalidade do
perdão sem condições? Porque a redenção de Jesus é total. Foi a expressão
acabada do amor do Pai que amou sem merecimento de nossa parte: “Deus demonstra
seu amor para conosco pelo fato de ter morrido por nos quando éramos pecadores”
(Rm 5,8). O
perdão vem antes de termos reconhecido nosso pecado. Por isso é total e para
sempre, pois está no ser de Deus. A missão da Igreja no mundo não é para
condenar, mas para continuar anunciando a presença do Reino e estabelecendo-o
com a grandiosidade do amor do Pai.
Como perdoamos
A carta aos Romanos nos explica o modo de
vivermos este perdão: Vivemos para Deus e vivemos como Ele vive. “Vivos ou
mortos pertencemos ao Senhor” (Rm 14,8). Se vivermos para o Senhor, vivemos para o
perdão, para anunciar a presença da misericórdia através de nossas atitudes de
perdão. Vemos muita condenação dos erros do mundo. Essas condenações não
resolveram o problema. Jesus, com suas atitudes condenava o orgulho, mas
perdoava quando encontrava a humildade e o acolhimento de sua pessoa. Não é
assim que vemos na Igreja e na sociedade. Tolerância zero é a palavra de ordem
para muitos sofredores. Quem sabe pudéssemos pensar: vingança zero e
misericórdia total, como Deus fez conosco. Lembremos de nosso fim!
Sociedade sem ódios
A
leitura de Eclesiástico, mesmo escrito numa mentalidade da lei do talião,
“dente por dente, olho por olho” (Ex 21,24), que instituía a vingança como modo de viver os
relacionamentos, ensina que o perdão é a condição para que a oração seja ouvida
e os pecados sejam perdoados. Ensinou que este é o fundamento do novo modo de
viver. Assim se vive o Evangelho. A celebração da Eucaristia, em sua
totalidade, é remissão dos pecados, é perdão. Não só no ato penitencial. O
Sangue de Cristo é derramado (consagração) para o perdão dos pecados. O melhor
modo de ser perdoado é perdoar. Há muita gente pregando o ódio, a separação, a
condenação dos que não pertencem a sua Igreja. Juiz é um só: Deus, que é misericordioso
e perdoa a todos.
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