sábado, 2 de julho de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Um profeta não estimado”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Falando em nome de Deus
São João escreve no Apocalipse: “É necessário que continues a profetizar a muitos povos, nações, línguas e reis” (Ap 10, 11). Mesmo em meio às perseguições. Essa foi a missão de Jesus. O discípulo continua sua missão e sofre a mesma recusa que recebeu de seus compatriotas. A recusa que sofre em Nazaré é provocada pela falta de aceitação da Palavra de Deus proclamada por alguém que é dali. Viram somente a pessoa que conheciam. Diziam: “Como conseguiu tanta sabedoria? E esses milagres realizados por suas mãos? Este homem não é o carpinteiro, Filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão...?” (Mc 6,2-3), (cfr. nota). Seus conterrâneos não foram capazes de perceber o Deus que agia Nele. Esta atitude deles dá-nos a entender que Jesus não era uma estrela. Era como os demais. Já se diz: não se pode recusar  um livro só pela capa, sem antes abrir as páginas”. Eles diziam conhecer quem Ele era e por isso não podia ser tão bom assim. Mas... “Quem é de Deus ouve a Palavra de Deus” (Jo 8,47). Isto é, sabe encontrá-la. A recusa vem do ciúme. Conhecem os irmãos, mas não conhecem a profundidade de sua existência e de sua missão. O importante é querer ouvir Deus falar. A comunidade Marcos passa pelo mesmo problema de ver Jesus recusado porque era humano. Assim são recusados também eles. O profeta Ezequiel passou por essas dificuldades de ver recusada a palavra de Deus: “Filho do homem, eu te envio aos israelitas, nação de rebeldes... Eles e seus pais se revoltaram contra mim... Quer te escutem, quer não... ficarão sabendo que houve entre eles um profeta” (Ez 2,3.5). A recusa é a Deus que fala através do profeta. Por isso, é importante ouvir a verdade e não olhar por onde ela chega. É a história da mula de Balaão (Nm 24,22ss).
Recusa, atitude prejudicial
            Vivemos as mesmas dificuldades de Jesus e seus discípulos. Somos profetas combatidos. Por que é tão difícil aceitar a Palavra de Deus? Aceitar bobeiras é tão fácil! Jesus foi recusado por quem devia apoiá-lo. A recusa é o resultado da falta de fé. Paulo reclama a Deus de um espinho na carne que o incomoda muito. Não se trata de pecado, de doença ou tentação. Trata-se da recusa satânica dos falsos irmãos à obra apostólica. O profeta não pode esmorecer, pois a Palavra é de Deus e ela o faz forte: O poder se faz na fraqueza: “Quando me sinto fraco é que sou forte” (2Cor 12,10). Cumprimos a missão e entregamos a Deus o resultado. “Jesus se admirou com a falta de fé deles” (Mc 6,6). O pior deles é recusar ouvir a Palavra de Deus e se modificar. O problema não é a recusa ao profeta mas a falta de fé. Este é o mal do mundo moderno.
Basta-te minha graça
            Nós temos nossos espinhos na carne, isto é, dificuldades que nos perseguem a vida toda, ou tempos da vida. A fraqueza não é o mais importante. É preciso saber que se está com Deus na fragilidade. Rezamos no salmo: “Ele não dorme nem cochila, o guarda de Israel” (Sl 121,4). Em nossa fraqueza está a força de Deus. Isso basta. Jesus é o exemplo da fragilidade que vence. Ele tem tudo para não dar certo pela recusa de sua pessoa e de sua pregação. Aqui se encontra o grande mistério da espiritualidade cristã: força da fraqueza. Quando mais fracos, mais nos jogamos nos braços do Pai, pois é Dele que vem a força. Em minha ordenação sacerdotal senti medo, mas a palavra “basta-te minha graça”, me animou e me anima. Em cada Eucaristia ouvimos a Palavra, participamos da comunhão. Podemos, neste sacramento buscar a força e sanar o espinho que nos fere a carne.

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