Celebrando
o sacramento da Quaresma, nós nos preparamos para a Páscoa do Senhor. Nela participaremos
de sua glória, ainda sob a nuvem da esperança. Os que serão batizados serão
transfigurados, revestindo-se de Cristo. A colocação desse texto da transfiguração
de Jesus no início da Quaresma convida-nos a ouvir o Filho para sermos
transfigurados com Ele. Com Ele percorreremos o caminho do deserto, passaremos
por sua Paixão para chegar com Ele à Glória. Assim rezamos na oração
pós-comunhão: “Vós nos concedeis participar das coisas do céu”. Antes da glória
da Ressurreição, Jesus passa pela dor da Paixão e da Cruz. Pelo sofrimento
chega à glorificação. A transfiguração não se reduz a fenômenos esplendorosos,
mas é também uma caminhada de fé, como ocorre em Abraão. Há muitos
elementos ricos neste texto: Jesus tem três testemunhas do fato, o que dá garantia
de sua veracidade. Ele sobe uma alta montanha, o Monte Tabor. A montanha é o
lugar do encontro com Deus, como no Sinai. Ali estiveram Moisés e Elias. Esses
dois grandes do povo foram levados ao Céu de modo misterioso. Estão na Glória.
Isso mostra que Jesus está com eles na Glória. Eles estão a significar que
Jesus cumpre a Lei e os Profetas. É uma teofania, visão de Deus. Entram na
nuvem: Ela é sinal da presença de Deus. Jesus está na esfera de Deus. Ele é
Deus. Da nuvem sai uma voz que diz: “Este é meu Filho Amado, no qual pus todo o
meu agrado. Escutai-o!” (Mt 17,5). Como no Batismo, Jesus é apresentado pelo
Pai. Ele indica sua missão de profeta. Ele é a Palavra viva do Pai. Tudo isso
vai acontecer na vida do discípulo na medida em que ouve a Palavra e põe em prática. Percorrendo
com Cristo a Paixão, tem certeza de encontrar a Ressurreição, que já vem
demonstrada na transfiguração. A meta de cada homem é transfigurar-se: Quando Ele
vier seremos iguais a Ele (1Jo 3,2). Os discípulos não podem comunicar essa
visão, pois ela só se esclarece após a ressurreição.
Deus
nos chamou a uma vocação santa
A
meta da vida cristã é a transfiguração em Cristo. Vivemos
como Cristo sob a nuvem. Ela é símbolo da presença de Deus na qual devemos
viver, pois para isso fomos chamados, como escreve Paulo a Timóteo: “Deus nos
salvou e nos chamou com uma vocação santa” (2Tm 1,9). Essa vocação santa é o chamado
contínuo a participar da manifestação de Cristo em seu mistério de redenção e
glorificação. A transfiguração será sempre para nós uma vocação, pois já a
recebemos no batismo. Naquele dia nós vestimos a roupa branca que é sinal de
nossa transfiguração com Cristo, na graça batismal. À medida que ouvimos o
Filho, estamos em condições de nos transfigurar, pois Ele não só destruiu a
morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho (2Tm
1,10).
Sai
de tua terra
A
primeira leitura traz-nos a vocação de Abraão. Paulo confirma esse tema ao
dizer que “Deus... chamou-nos a uma vocação santa...não devido a nossas obras, mas
em virtude da sua graça” (2Tm 1,9). Somos chamados por graça, como Abraão, a
deixar tudo por Cristo. Abraão é chamado a ser uma bênção através de uma
descendência. É um novo povo. Jesus é sua descendência. Nós, acolhendo a
palavra de Jesus podemos chegar à transfiguração e assim seremos uma bênção.
Vocação não é algo para mim, mas um dom dado a todo povo através de nós que a
acolhemos.
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