terça-feira, 3 de novembro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “O pastor ferido”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
454. Pregador, pecador
O caminho da espiritualidade está sempre às voltas com a fragilidade. Aliás, é o normal da vida. Somos frágeis porque finitos; frágeis, porque marcados pelo pecado original e pelos pecados de cada dia. “O justo peca sete vezes e se levanta” (Pr 24,16); quer dizer, muitas vezes. Assim nós nos encontramos diante de uma dificuldade: ‘Como pregar o evangelho sendo pecadores’? Ou ‘como ouvir um pregador, sabendo que é frágil como nós ou mais do que nós’? Certamente somos conscientes da realidade de pecado e da fragilidade. O povo diz que dizer que não temos pecado já é um pecado. Certamente que não temos necessidade de pecar. Mas acontece. Pregamos o Evangelho, sabendo-nos devedores. Deveríamos, criar vergonha, não abrir a boca e não anunciar Jesus? O pregador santo tem um trunfo, pois prega mais pela vida do que com as palavras. E nós? Seria falsidade? A grande resposta podemos encontrá-la nessas palavras: ‘somos os primeiros ouvintes de nossa pregação’. É necessário ser maduro e distinguir entre a verdade e quem a diz. A jumenta do Balaão falou (Nm 22,22-34), nem por isso era uma santinha. Era bem recalcitrante. Aos pregadores compete serem, mesmo conscientes de sua fraqueza, anunciadores da verdade e do caminho do bem. O anunciador do Evangelho errará se colocar seus pecados como virtude. Não posso justificar o mal só porque não posso viver o bem; É um mal pior. Penso que há uma identificação injusta, digamos, entre Jesus e o pregador frágil. Jesus também era frágil. Ele não cometeu pecado, mas assumiu nossos pecados. O pregador tem o pecado, mas a verdade que anuncia está em Cristo, nossa justificação. Quem anuncia, na verdade, é Cristo. Nós podemos ser bons ou maus veículos dessa Palavra. Muita fragilidade não é mais do que os cravos que nos pregam à cruz de Jesus sofredor. Contudo, não se justifica o mal, mas se estimula à pregação pela palavra, pela vida e pelos exemplos. Isso não se refere só aos padres, mas a todos.
455. Espinho na carne
Imitando Paulo podemos repetir suas palavras: “temos um espinho na carne” (2Cor 12,7). Não se sabe o que seja esse espinho: ou uma doença ou uma dificuldade ou mesmo a perseguição dos falsos irmãos que não lhe davam paz; Era um calo dolorido. Isso nos leva a compreender também suas palavras na carta aos Romanos quando explica que faz o mal que não quer e não faz o bem que quer (Rm 7,14-25). Nós temos nosso espinho, seja um defeito humano, uma dificuldade, um erro que nos persegue, um pecado que nos esbofeteia (2Cor 7,12). É mau justificar o próprio erro. Bom é lutar sempre. A todos se exige a vida correspondente ao que se ensina. Por outro lado, nossas imperfeições nos fazem misericordiosos para com os outros, pois carregamos os mesmos males. Somos frágeis, mas fiéis e confiantes na graça e misericórdia de Deus. Não pouco nos ajuda a oração do povo de Deus. A espiritualidade da fragilidade nos faz misericordiosos.
456. Carregai os fardos uns dos outros
             O Simão cirineu não é somente um homem que ajudou Jesus em sua caminhada para o Calvário. Ele é um evangelho vivo que ensina a carregar a cruz uns dos outros. Na verdade não era Simão quem carregava a cruz. Era Jesus quem carregava Simão, que levava a cruz de nossa frágil humanidade. “Carregai os fardos uns dos outros e cumprireis toda a lei” (Gl 6,2), escreve Paulo. Carregar os fardos é levar juntos a cruz da fragilidade. A compreensão que temos uns pelos outros, a aceitação da correção, o esforço de caminhar juntos, são um evangelho que anuncia a atitude redentora de Jesus. Carregou nosso fardo. 

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