PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
436. Não somos para nós
A comunidade cristã, em sua
espiritualidade, não se distancia das realidades terrenas. Faz parte da
espiritualidade sair de si e ir ao encontro dos que não são como nós. Jesus
reza: “não vos peço que os tireis do mundo, mas que os livreis do Maligno” (Jo
17,15). Jesus encarnou-se na realidade humana (Hb 2,14). Isso não lhe era um
problema. Não se envergonha de chamar-nos irmãos (Hb 2,11). Jesus não fugiu do
mundo. A comunidade cristã vive no mundo para, com Jesus, transformá-lo. Não
somos para nós. Como Jesus, que veio para as ovelhas perdidas, nós continuamos
sua missão no mundo, indo para o meio dos necessitados de salvação. De pouco
serviria estarmos bem se o mundo vai mal. Por isso, não podemos nos fechar na
Igreja, no grupo, e nos esquecer que o mundo existe, com os olhos fechados para
os sofredores de males tanto materiais como espirituais. Jamais será Igreja
quem diz: venha para minha Igreja, ou venha para meu grupo. Fechar-se em um
grupo ou uma Igreja é procurar a própria ruína. Demonstramos que não entendemos
nada do que Jesus ensinou. Uma comunidade voltada para si está condenada a
perder seu vigor. A missão de Jesus é atual. Ser missionário é mostrar que
acreditou. Não ser missionário, nem que seja só pela oração, é não ter
descoberto a urgência de Jesus na conversão dos povos. Imaginemos se 1 bilhão e
tanto de católicos e tantos outros ficassem só contemplando a si! Cristo teria
morrido em vão. Jesus
tinha os olhos sempre voltados para os necessitados. Sentiu compaixão da
multidão, pois estava cansada como ovelhas sem pastor (Mt 9,36). A misericórdia
de Jesus invada nossas igrejas.
437. Organizados para viver
A Igreja é movida pelo Espírito Santo. Quem sabe tenhamos priorizado
mais a estrutura do que o Espírito. As Autoridades da Igreja, os movimentos e
associações, muitas vezes, cuidaram mais de observar leis e costumes que se
criaram pelos séculos e deixaram de lado o espírito do Evangelho. Isso
prejudicou muito. Deu-se mais valor ao secundário do que à fé. Por outro lado,
não podemos viver sem uma organização que sustente a obra apostólica da Igreja.
A base dessa organização está no poder. Poder evangélico chamado serviço
fraterno. Quem quiser ser o maior, seja o servo de todos, como Ele veio não
para ser servido, mas para servir (Mc 10,45). Toda organização de Igreja deve
ter diante dos olhos os necessitados de redenção. Deus é o responsável pelos
que sofrem, e dá a solução não com milagres, mas através de nós. Por isso,
nossa estrutura deve estar aberta para o mundo, não para se macular de suas
ideologias e idéias, mas para ser o fermento na massa (Lc 13,11), ser a luz
sobre o candelabro (Mt 5,16), ser o samaritano que socorre (Lc 10,33). Assim,
como Ele o foi, sejamos cada um de nós, organizados para viver o evangelho.
438. Comunidade em diálogo com o mundo
Se vamos ao encontro com o mundo, a
espiritualidade nos estimula a entrar em diálogo com todos os segmentos da
sociedade, das culturas, das religiões e instituições. Vejamos o quanto devemos
estar preparados. A preparação não é só intelectual, pois nem todos têm essa
possibilidade, mas sobretudo espiritual, isto é, ter a fé segura em Jesus. Mesmo que os
outros não saibam dialogar, nós vamos dialogar. Dialogar significa conhecer e
acolher a posição em que o outro se encontra. Aprender com ele aquilo que ele
tem a nos ensinar, e apresentar Cristo como Redentor de todos, mesmo que seja
somente pelo testemunho do evangelho. Levamos o evangelho para que se
desabrochem, em seu jardim, as sementes do Verbo ali semeadas.
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