PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Deus transforma as realidades do homem
Os milagres de
Jesus correspondem às expectativas de tempos novos, semelhantes aos tempos do
Êxodo e da volta do Exílio, como diz Isaias (Is 35,4-7). O povo, diante
dos milagres de Jesus, dizia: “Ele tem feito bem todas as coisas: Faz os mudos
falarem e os surdos ouvirem” (Mc 7,37). É o anúncio de
que chegaram os tempos messiânicos. Vivemos esses tempos. Os milagres se
referem a todos e não só aos beneficiados. A carta de S. Tiago ensina a tomar
atitudes novas a partir da fé em Jesus. Esse santo homem de Deus, estimado pela
comunidade, tem uma linguagem forte e prática: “A fé que tendes em Jesus não
deve admitir acepção de pessoas” (Tg 2,1). Era um
problema que existia e ainda existe. O respeito se deve a todos. Convoca a
tratar todos de modo igual e não fazer distinção de pessoa privilegiando os
ricos e poderosos. Deus não faz acepção
de pessoas. Tratar com respeito a todos é inteligência espiritual. Essa mudança
de atitude será real quando nos deixarmos curar por Jesus. Jesus curou um
surdo-mudo. Abre os ouvidos para ouvir a Palavra e a boca para anunciá-la. Usou
a saliva: Ela era tida como uma espécie de semente da palavra. Está a
significar que Jesus cura pela Palavra anunciada. A fé tem uma força curativa.
Cura as atitudes. As missas de cura são muito apreciadas. Mas é preciso também
curar nossas atitudes. A fé em Jesus não é a crença em uma série de verdades. É
uma vida nova que transforma nosso modo de ser e viver entre as pessoas. O
modelo é Deus que não faz acepção de pessoas. Eis o sinal que tempos novos
estão chegando.
Um
gesto transformador
O gesto de Jesus
é usado no rito batismal no qual o celebrante dizendo effeta, tocando os ouvidos e a boca do batizando, diz: “O Senhor,
que fez os surdos ouvirem e os mudos falarem, conceda-te que possas logo ouvir
a sua palavra e professar a fé para o louvor e glória de Deus Pai”. A fala
estão em relação com a Palavra. O batismo nos faz idôneos para ouvir o
Evangelho e proclamá-lo. O salmo convida ao louvor pelo bem que Deus que faz
aos sofredores, em particular os pobres. O profeta Isaias faz as promessas que
se realizam em Jesus. Esta atitude de acolhimento vai ao concreto da
comunidade. A transformação provocada pela fé incide fortemente sobre a vida da
comunidade. Tiago trata da distinção que se faz entre pessoas. No
relacionamento com os pobres há questões profundas. A riqueza da fé que é garantia do Reino de
Deus é muito superior. Os pobres têm outro tesouro. Os pobres julgam os ricos
poderosos para fazê-los ricos do único Tesouro que permanece, a fé que os torna
dignos herdeiros do Reino do Céu. Deus dá o Reino a quem O ama. Se a conversão
leva à mudança, são herdeiros.
Aprendendo do milagre
Atualizando o
ensinamento desse milagre somos chamados a ter ouvidos atentos à Palavra de
Deus, não só escrita, mas à Palavra viva e eficaz, presente no mundo. É o
momento de saber falar as línguas do Espírito, isto é, proclamar o Evangelho em
todas as linguagens do momento presente. Os novos meios de comunicação são um
dom antes de ser um problema. Esta é a atitude fundamental do Servo de Javé:
“Ele me desperta cada manhã e me excita os ouvidos, para prestar atenção como
um discípulo” (Is. 50,4). Deus ao terminar a obra da criação
“viu tudo que havia feito era muito bom” (Gn 1,31). De Jesus se
dizia: “Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos
falar”. É a nova criação. Nossa missão será fazer novas todas as coisas ouvindo
e o anúncio da Palavra.
Leituras: Isaias 35, 4-7ª; Salmo 145; Tiago 2,1-5; Marcos 7,31-37
1.
Os
milagres de Jesus são a realização das promessas messiânicas. A grande mudança
é tomar atitudes novas a partir de Jesus. Não fazer distinção de pessoas. É um
resultado da fé. O milagre do surdo-mudo explica que temos que de ouvir para
proclamar o Evangelho.
2.
O
rito batismal retoma o gesto de Jesus ao curar o doente. O batismo nos faz
idôneos para ouvir e proclamar o Evangelho. Crer nos faz viver melhor na
comunidade não nos deixando fazer distinção de pessoas. Os pobres julgarão os
ricos poderosos para fazê-los ricos do único tesouro que é a fé.
3. Atualizando o
ensinamento do milagre somos chamados a ter ouvidos atentos à Palavra de Deus
viva e eficaz no mundo. Como o Servo de Javé, somos chamados a sermos
aprendizes fazendo o bem por toda parte. É a nova criação. Nossa missão será
fazer novas todas as coisas ouvindo o anúncio da Palavra.
Orelha
de pau
Continuando o
anúncio do Reino, Jesus faz milagres que não só ajudam as pessoas em suas
necessidades, mas também explicam sua missão de implantar o Reino de Deus no
mundo.
Numa região distante, no mundo pagão,
Tiro e Sidônia, Jesus cura um homem surdo que falava com dificuldades. Numa
atitude solene Jesus afasta-se com ele do grupo, coloca o dedo em seus ouvidos,
toca-lhe a língua com sua saliva e, olhando para o alto, suspira e diz: “Effata”
que quer dizer abre-te. E o homem começou a ouvir e a falar. O milagre comoveu
o povo que via naquele ato a realização das promessas sobre o Messias.
Há também um lado importante que é um
símbolo para o Reino. Como que invocando o Espírito, que é o Sopro Divino,
abriu os ouvidos do surdo para indicar que no Reino temos que ouvir a Palavra
de Deus. Tocou a língua do homem com sua saliva, como que colocando em seus
lábios a Palavra de Deus a ser anunciada.
Manda que não façam publicidade para não
dar a impressão que seu modo de ser Messias não corresponde às expectativas
grandiosas dos professores do povo.
O povo manifestou sua admiração: “Ele tem
feito bem todas as coisas: Aos surdos faz ouvir, e aos mudos, falar. Não podemos ter orelha de pau para
acolher o Reino nem boca fechada diante do que nos é dado a comunicar.
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