Evangelho segundo S. João 19,28-37.
Naquele
tempo, sabendo que tudo estava consumado e para que se cumprisse a Escritura,
Jesus disse: «Tenho sede». Estava ali um vaso cheio de vinagre. Prenderam a
uma vara uma esponja embebida em vinagre e levaram-Lha à boca. Quando Jesus
tomou o vinagre, exclamou: «Tudo está consumado». E, inclinando a cabeça,
expirou. Por ser a Preparação da Páscoa, e para que os corpos não ficassem
na cruz durante o sábado – era um grande dia aquele sábado – os judeus pediram a
Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e Jn fossem retirados. Os soldados
vieram e quebraram as pernas ao primeiro, depois ao outro que tinha sido
crucificado com ele. Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe
quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma
lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu é que dá testemunho e o seu
testemunho é verdadeiro. Ele sabe que diz a verdade, para que também vós
acrediteis. Assim aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: «Nenhum
osso lhe será quebrado». Diz ainda outra passagem da Escritura: «Hão de
olhar para Aquele que trespassaram».
Da Bíblia Sagrada -
Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja
Homilias sobre o Cântico dos Cânticos, n° 61, 3-5
«Tirareis água com alegria das fontes da salvação» (Is
12,3)
Onde poderá a nossa fragilidade encontrar
repouso e segurança senão nas chagas do Salvador? […] Perfuraram-Lhe as mãos e
os pés e, com uma lança, o lado. Por esses orifícios abertos posso saborear o
mel dos rochedos (cf Sl 80,17) e o óleo que corre da pedra dura, isto é,
«saborear e ver como o Senhor é bom» (cf Sl 33,9). Ele concebia pensamentos de
paz (cf Jer 29,11) e eu não sabia. «Quem conheceu o pensamento do Senhor? Quem
Lhe serviu de conselheiro?» (Rom 11,34) Mas o cravo que nele penetrou tornou-se
para mim a chave que abre o mistério dos seus desígnios.
Temos de
ver através dessas aberturas. Os pregos e as chagas gritam que, verdadeiramente,
na pessoa de Cristo, Deus Se reconcilia com o mundo. O ferro trespassou o seu
ser e tocou o seu coração para que Ele nunca mais ignore como Se há-de
compadecer das minhas fraquezas. O segredo do seu coração aparece a nu nas
chagas do seu corpo; vê-se a descoberto o grande mistério da sua bondade, essa
ternura misericordiosa do nosso Deus, «que das alturas nos visita como sol
nascente» (Lc 1,78). E como poderia essa ternura deixar de se manifestar nas
suas chagas? Seria difícil mostrar mais claramente que pelas tuas chagas,
Senhor, que Tu és manso e compassivo e duma grande misericórdia, pois não há
maior amor do que dar a vida (Jo 15,13) pelos condenados à morte
Todo o meu mérito é, pois, a piedade do Senhor e nunca me faltará
mérito enquanto não Lhe faltar piedade. Se as misericórdias de Deus se
multiplicarem, os meus méritos serão numerosos. Mas que acontecerá se eu tiver
uma grande quantidade de faltas a censurar-me? «Onde abundou o pecado,
superabundou a graça» (Rom 5,20). E se «a bondade do Senhor é para sempre» eu,
por mim, «cantarei eternamente as misericórdias do Senhor» (Sl 102,17; 88,2).
Será esta a minha justiça? Senhor, farei memória da tua justiça, porque ela é a
minha justiça, pois para mim Te tornaste justiça de Deus (cf Rom 1,17).
Nenhum comentário:
Postar um comentário