PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Não faça mal a si mesmo!
Somos um universo de sentimentos, tendências, atitudes que fervem dentro de nós como um vulcão. Tudo é muito bom e muito saudável. Diz Maria Celeste Crostarosa, fundadora das Monjas Redentoristas (1696-1755), que as “paixões são boas, basta domesticá-las”. A raiva, o rancor, a falta de perdão, a dureza de coração atingem o próximo de modo violento. Esse furacão causa danos piores a nós mesmos. Um dia um ‘evangélico’ comentou comigo que ‘o mau pensamento surra a alma’, quer dizer: o mal que pensamos e que faz aos outros faz mal a nós mesmos. Encontrei essa citação em Provérbios: “O homem bondoso faz bem a sua própria alma; mas o cruel faz mal a si mesmo” (Prov 11,17). Quando estamos com raiva de alguém, e mesmo que não demonstremos, nós sofremos. Esses sentimentos levam a prejudicar nosso relacionamento com Deus (Eclo 27,38-28,9): ‘Nossa oração não será ouvida, os pecados não serão perdoados’. Temos muita facilidade em viver uma situação de ódio e em fazer nossa vida espiritual, como se fossemos outra pessoa. O relacionamento com o próximo tem uma relação direta com o relacionamento com Deus. Por isso é o mau relacionamento é chamado de pecado. Para amansar nosso coração, a Palavra de Deus nos anima a pensar em nosso fim, nossa morte, para sabermos que nossas atitudes e exigências para com os outros são inúteis e ignorantes. Não é a toa que, ao rezarmos o Pai Nosso, nós condicionamos o perdão de Deus ao modo como perdoamos os outros. Jesus é esperto demais.
É para o Senhor que vivemos
Deus nos trata tão bem e não fica lembrando nossos pecados (Sl 102). A vida não tem sentido a não ser a partir de Deus: “Ele é o Deus dos vivos e dos mortos” (Rm 14,9). A razão de nossa vida se funda em Deus. Não se trata de ficar só pensando nEle, mas que nossa vida O tenha como referência primeira. Nós o fazemos quando vivemos o amor, o perdão (tão difícil), o sentimento de bondade. Viver para Deus é viver para a felicidade dos outros. O próximo é o próximo de Deus. O que fazemos aos outros estamos fazendo a Deus, pois todos estão unidos a Deus. NEle vivemos, nos movemos e existimos (At 17,28). O bem que fazemos aos outros é o maior bem que fazemos a nós mesmos, pois estamos fazendo para nós. Como damos a medida do perdão de Deus ao perdão que damos, assim também Deus condiciona o bem que nos dá ao bem que fazemos aos outros.
Perdão é caminho de vida
A perspectiva da liturgia da Palavra de hoje é a necessidade de perdoar. Deus perdoa nossos imensos pecados. Nós aceitamos alegremente o perdão, mas nos esquecemos que devemos perdoar como Deus nos perdoa. É o que nos diz a parábola que termina com a afirmação: “Assim o Pai fará convosco se cada um não perdoar de coração seu irmão” (Mt 14,35). Vivamos sem rancor e raiva, pois no perdão seremos premiados por Deus. Mais que nos preocuparmos em perdoar ou não perdoar, é necessário criar um ambiente de reconciliação onde não haja necessidade de ofensas. É esse o modelo que Jesus criou para a comunidade de seus discípulos quando ensina o serviço humilde, a procura dos últimos lugares e a dedicação à vida, como Ele próprio o fez. Amou-nos até o extremo do amor.
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