Evangelho segundo S. Lucas 17,26-37.
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Como sucedeu nos dias de Noé, assim
sucederá também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, os homens
casavam-se e as mulheres eram dadas em casamento, até ao dia em que Noé entrou
na Arca e veio o dilúvio, que os fez perecer a todos. O mesmo sucedeu nos
dias de Lot: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam, construíam; mas,
no dia em que Lot saiu de Sodoma, Deus fez cair do céu uma chuva de fogo e
enxofre, que os matou a todos. Assim será no dia em que o Filho do Homem se
revelar. Nesse dia, quem estiver no terraço e tiver as suas coisas em casa
não desça para as tirar; e, do mesmo modo, quem estiver no campo não volte
atrás. Lembrai-vos da mulher de Lot. Quem procurar salvar a vida, há-de
perdê-la; e quem a perder, há-de conservá-la. Digo-vos que, nessa noite,
estarão dois numa cama: um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres
estarão juntas a moer: uma será tomada e a outra será deixada. Dois homens
estarão no campo: um será tomado e o outro será deixado.» Tomando a palavra,
os discípulos disseram-lhe: «Senhor, onde sucederá isso?» Respondeu-lhes: «Onde
estiver o corpo, lá se juntarão também os abutres.»
Da
Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Gregório de Nissa (c. 335-395),
monge, bispo
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, n°11, 1
«Comiam, bebiam, compravam, vendiam»
O Senhor fez muitas recomendações aos seus
discípulos, para que o seu espírito sacudisse como poeira tudo o que é terreno
por natureza e se elevasse ao desejo das realidades sobrenaturais. Isto porque,
quando nos voltamos para a vida do céu, temos de ser mais fortes do que o sono e
de manter sempre o espírito vigilante. […] Refiro-me à letargia daqueles que
estão afundados na mentira de vida, por esses sonhos ilusórios que são as
honras, as riquezas, o poder, a ostentação, o fascínio dos prazeres, a ambição,
a sede da fruição, a vaidade, e tudo aquilo que os homens superficiais procuram
loucamente, levados pela imaginação. Todas estas coisas desaparecem com a
natureza efémera do tempo; elas pertencem ao campo do parecer […]; mal parecem
existir, logo desaparecem como as ondas no mar. […]
É para que o
nosso espírito se liberte destas ilusões que o Verbo, a Palavra de Deus, nos
convida a sacudir dos olhos da alma este sono profundo, para que não nos
afastemos das verdadeiras realidades, apegando-nos ao que não tem consistência.
É por isso que Ele nos propõe a vigilância, ao dizer-nos: «Estejam cingidos os
vossos rins e acesas as vossas lâmpadas» (Lc 12,35). Porque, ao brilhar diante
dos olhos, a luz espanta o sono, e os rins cingidos com o cinto impedem que o
corpo sucumba. […] Aquele que está cingido pela temperança vive na luz de uma
consciência pura; a confiança filial ilumina a sua vida como uma lâmpada. […] Se
vivermos assim, entraremos numa vida semelhante à dos anjos.
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