Evangelho segundo S. Lucas 6,27-38.
Naquele
tempo, Jesus falou aos seus discípulos, dizendo: «Digo-vos, porém, a vós que me
escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os
que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam. A quem te bater numa das
faces, oferece-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, não impeças de
levar também a túnica. Dá a todo aquele que te pede e, a quem se apoderar do
que é teu, não lho reclames. O que quiserdes que os outros vos façam,
fazei-lho vós também. Se amais os que vos amam, que agradecimento mereceis?
Os pecadores também amam aqueles que os amam. Se fazeis bem aos que vos
fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo. E,
se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agradecimento mereceis?
Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto. Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada
esperar em troca. Então, a vossa recompensa será grande e sereis filhos do
Altíssimo, porque Ele é bom até para os ingratos e os maus. Sede
misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso.» «Não julgueis e não
sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis
perdoados. Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada,
transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros
será usada convosco.»
Da Bíblia Sagrada - Edição dos
Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano de Estrasburgo
Sermão 39 para
o 4º Domingo após a Solenidade da Santíssima Trindade
«Uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante»
Nosso Senhor menciona quatro tipos de
medidas que serão dadas ao homem: uma boa medida, uma medida cheia, uma medida
recalcada e uma medida transbordante. […] Compreendei primeiro o que é a boa
medida. Ela consiste no facto de o homem voltar a sua vontade para Deus, viver
segundo os mandamentos de Deus e da santa Igreja […], na prática dos sacramentos
e no arrependimento dos pecados, no amor a Deus e ao próximo. […] Eis uma vida
verdadeiramente cristã […]; pode-se dizer que é o estritamente necessário. […]
Quando o homem se inicia na vida espiritual, propõe-se boas práticas exteriores,
tais como orações, prostrações, jejuns e outras formas particulares de devoção.
Em seguida, é-lhe dada a medida cheia, a saber, um exercício interior, íntimo,
pelo qual o homem emprega todo o seu zelo a procurar a Deus nas profundezas do
seu coração, pois é aí que está o Reino de Deus (Lc 17,21). Meus filhos, esta
vida é tão diferente da primeira como correr é diferente de estar sentado. […]
Vem em seguida a medida recalcada: é o amor que se difunde. Este
amor atrai tudo a si: as boas obras, a vida, o sofrimento. Ele traz para o seu
vaso todo o bem que se faz no mundo, quer seja feito pelos bons ou pelos maus
[…]; tudo está na caridade. […] O amor absorve todo o bem que há no céu, nos
anjos e nos santos, nos sofrimentos dos mártires, e atrai para si tudo o que há
de bom nas criaturas do céu e da terra, de que uma parte tão grande se perde, ou
pelo menos parece perder-se; mas a caridade não a deixa perder. […]
Vem em seguida a medida transbordante. Esta medida está tão cheia, é
tão abundante, tão generosa, que transborda por todos os lados. Nosso Senhor
toca o vaso com um dedo e logo a plenitude dos dons sobe rapidamente,
ultrapassando tudo o que o vaso havia recolhido em si e acima de si. […] Tudo se
difunde e tudo se perde em Deus e se torna um com Ele. Deus ama-Se nesses
homens, opera todas as suas obras neles. […] É assim que a medida dos corações
transbordantes se difunde por toda a Igreja.
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