PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
1457.
Pobreza que enriquece
As
tentações de Jesus no deserto são as nossas tentações. Ele venceu e nós
vencemos Nele. Ali mostrou o mal que nos atinge. Quando falamos de pobreza,
castidade e obediência temos a resposta concreta às tentações. Quando os votos
são vividos por padres, religiosos e freiras, dizemos que é uma obrigação
deles. Mas é uma oferta para todos. Jesus é sempre o modelo de todos. Ele,
contudo, não impõe seu modo de viver, mas como viver. Jesus, depois de 40 dias
teve fome. Esta sua fome é o desejo de ter bens como solução para a vida. Jesus
diz claramente: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da
boca de Deus” (Mt 4,4 – Ex 8,3). Quando alguém
fala de pobreza cristã, não se refere ao sofrimento do povo. Está dizendo que a
Palavra de Deus tem força para orientar o uso de todos os bens. Inclusive os
dedicados ao serviço religioso não podem justificar que são pobres se vivem
ricamente, sem se preocuparem com a orientação do uso dos bens numa vida doada.
Não adianta ter a Palavra de Deus na boca se não for assumida para orientar a
vida. Há os que dizem que prosperidade que bênção de Deus. Se o tesouro não estiver no Céu, a traça rói e
o ladrão rouba (Mt 6,19). A ganância pelos bens sob
desculpa de garantia do futuro pode empobrecer mais ainda os necessitados. Pior
ainda é ser rico à custa da pobreza de outros. Não podemos dar o salário maior
porque é muito elevado, mas podemos fazer gastos elevados e inúteis com o que
ganhamos com o trabalho dos outros que lutam com necessidades. O jogo econômico
nem sempre é evangélico. A integridade humana passa também pela justiça no uso
dos bens. O desapego nos faz ricos com o pouco que possamos ter. A quem Deus é
a riqueza, todo o que toca se torna ouro.
1458.
Corpo transformado
A
espiritualidade teve dificuldades em relação ao corpo. Como Deus considera o
corpo? O Filho de Deus teve um corpo. É no corpo que vivemos e nos santificamos.
Jesus deu o estímulo do amor para vivermos bem a corporeidade com tudo o que ela
tem de bonito, bom e com tantas tendências. Castidade sem amor é doença. Deus
colocou em nós as paixões para serem usadas no amor para com todos. O amor é a
escola para vivermos as riquezas do corpo e da mente. O amor não é só um bem
querer que pode ser egoísta, mas uma entrega de vida um ao outro e aos filhos
no casamento e uma vida de doação a quem escolheu o caminho do celibato. Pureza
não é puritanismo que é repressão do ser humano em suas potencialidades. É
força do amor presente em nós. A integridade liberta. A castidade promove o
amor. A resposta à tentação da adoração ao prazer é a adoração ao Pai. Jesus
disse: Somente a Deus adorarás (Mt 4,10;Dt 6,13).
1459.
Compondo juntos
O
terceiro grau da integridade se refere a uma questão que toca a totalidade do
ser, pois está presente em tudo. Corpo se controla, bens materiais se
equilibram, mas a vontade toca o interior que tudo rege. Chamamos de
obediência. Esta causa muitas dificuldades, pois toca o orgulho e a
prepotência. O mal dessa tentação está em se colocar no lugar de Deus. O bem
que dela resulta é saber compor como corpo para viver para o bem. A palavra
obediência vem de ouvir. Deixar tocar o coração, sair de si, sem se perder. O
salmo 94 reza: “Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor”.
Jesus, em resposta ao orgulho que se fecha e vive só para si, diz: “Não
tentarás o Senhor teu Deus” (Mt 4,7). Foi esse o
pecado de Adão. Foi aqui que Jesus nos salvou. A pessoa é integra, quando sai
de si.
A obediência não
é dominação nem servidão, mas compor juntos para o Reino.
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