PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
64. As pequenas coisas de cada
dia
Ao discorrer sobre a oração, os livros
sempre trazem tanta coisa bonita, tanta teologia e tanta elevação que a gente
acaba por dizer: “acho que não sei rezar”. De fato, não fomos formados para a
oração. O que sobra, então, se não temos uma oração bem esclarecida? Sobra
nossa oração frágil, mas cheia de confiança, muito pequenina, como as crianças
que chegam desmanchadas em lágrimas por um dedinho que bateu em qualquer lugar.
Aí se dá um beijinho e diz que passou. Creio que a oração tem muito de
pequenino. Penso que Deus, quando ouve nossos solenes discursos com palavreado
chic, diz olhando de lado: de quem é que estão falando? Certamente são orações
de grandíssimo valor, que diante de Deus serão também como o dedinho que bateu
e provocou tantas lágrimas. Podemos perguntar: podemos rezar pedindo coisas
materiais, como por exemplo, um dinheirinho a mais, a solução de um problema
concreto de trabalho, estudo, negócios, cura de doenças, livrar-nos de apertos
e até de complicações, até conquistar o amor difícil. A oração não se mede pela
casca mas pelo conteúdo de nosso diálogo com Deus e Sua presença em nós. Aliás,
a oração pedindo coisas materiais mostra-nos que até nas coisas materiais
queremos depender de Deus. O salmo reza: “Este infeliz clamou e Deus o ouviu e
de todos os temores o livrou” (Sl 34,6). Certamente que este é um nível
necessário da oração. Devemos continuar aprendendo a entrar em diálogo com Deus
sempre em maior profundidade. Não nos esqueçamos de agradecer quando as coisas
dão certo. E mesmo quando algo não dá certo é preciso dizer: Deus sabe o que
faz. Será que Deus não quer provar nossa confiança?
65. Salvai-nos, Senhor, pois
perecemos!
Deus
estende sua mão para nos socorrer nos momentos de maiores angústias, quando
afundamos no mar profundo das dificuldades e mesmo dos riscos de vida.
Lembramos o texto que narra a tempestade do mar. E Jesus dormia no barco. Eles
gritam: “Senhor estamos perecendo” (Lc 8,24). Lembramos o texto onde Jesus
aparece andando sobre as águas. Pedro também querendo caminhar sobre as águas,
tem medo e começa a afundar. E grita: “Senhor, salva-me!” (Mt 14,30). Há
momentos em que queremos o socorro imediato, senão estamos perdidos. O
desespero, em determinadas situações, faz-nos gritar a Deus. É oração, pois
sabemos, mesmo que não tenhamos muita fé nem devoção, Deus é o último refúgio.
Não tenhamos remorso de chamar a Deus quando sentimos que não merecemos, pois
Ele nos tem sempre a todos como filhos. Que pai ou mãe não acode o filho que
não lhes trata bem?
66. Oração que não é ouvida.
Às vezes clamamos tanto e não
somos ouvidos. Aí nos revoltamos. Não que Deus não nos ouça. Ele sempre nos dá
o melhor, mesmo que,para nós, tal não pareça o melhor para nós. O próprio Jesus
pediu para ser libertado da morte e foi ouvido, não na morte, mas na
ressurreição. Ele pediu “entre clamores e lágrimas” (Hb 5,7). Penso que a maior
graça que Deus nos dá quando não recebemos o que pedimos é a capacidade de
viver bem a situação dolorosa que enfrentamos. Deus não dá um sofrimento que
não possamos carregar. Ele atendeu. Deus dá forças para viver. Muita gente,
depois de rezar, pedindo uma graça, e não conseguí-la, revolta-se contra Deus.
Lembremos sempre que a oração não é para convencer a Deus, mas para
convencer-nos a respeito de Deus. Se não recebe a graça, continue a rezar.
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