A Palavra de Deus do 31º Domingo Comum é um dos últimos ensinamentos públicos de Jesus, antes da Paixão. O capítulo seguinte (24) é reservado aos discípulos, ensinando-lhes sobre o fim dos tempos. Provavelmente está no templo o coração do povo de Israel. Ali estavam 4 sinagogas para a instrução do povo. Era a cátedra de Moisés. Era como se Moisés ensinasse através desses mestres. Jesus tinha como justo o ensinamento desses homens, mas criticava seu procedimento pessoal, que destoava de seu ensinamento. Por isso diz Jesus: “Observem o que dizem, mas não imitem o que fazem” (23,3), e apresenta seus erros: Primeiro a incoerência: pregam uma coisa e fazem outra; fazem leis duras para os outros. Jesus diz de si mesmo: “Seu fardo é leve e seu peso é suave”. O segundo pecado é o exibicionismo. A Bíblia ensina, em Deuteronômio 6,8, que cada um deve ter a Palavra de Deus diante dos olhos. Eles o faziam materialmente. Jesus também usava franja na túnica, pois uma mulher chega e quer tocá-las para se curar. Os fariseus usavam-nas longas para aparecer. O terceiro pecado é a busca de honras. Eles queriam sempre aparecer entre os grandes, e o povo permanecia sempre distante. O compromisso de ser formador do povo não lhe dá o direito de estar no lugar de Deus. O maior é aquele que serve (11). Jesus nos diz que o ensinamento deve ser acompanhado pela coerência.
Riscos que corremos
Somos chamados, por esse texto, a um exame de nossa consciência de sacerdotes, bispos e pessoas que estão a serviço do povo de Deus. Este evangelho nos põe em aperto. Ouvem-se muitos lamentos do povo de Deus por causa de alguns de nós que às vezes nos deixamos levar por modos que não espelham Jesus. Há vícios que, como diz o profeta Malaquias, fazem o povo de Deus tropeçar e afastar-se da Igreja. O profeta nos acusa de não tomar a peito a glória de Deus. Qual é nossa preocupação? Fala-se dos padres do CCCC (casa, celular, conta bancária e carro). Nós ainda usamos outras letras do alfabeto: manias de ritualismo na liturgia, discriminação, desprezo dos humildes e preferência pelos grandes, coisas que Malaquias já recriminava. Não sujamos os pés para ir ao encontro do povo. Não temos compromisso com a classe empobrecida que é a maioria da Igreja. São pecados que escandalizam. Pergunto: A Igreja precisa passar vergonha por causa da imoralidades de alguns de seus padres? E paga caro: perde a autoridade moral e até seus bens conseguidos muitas vezes com as moedinhas dos pobres. O resultados desses males e de tantos outros é o descrédito da missão. Mas tudo tem remédio.
Ternura de Deus
Paulo, na carta aos Tessalonicenses, faz o retrato do ministro: “Foi com ternura que nos apresentamos a vós como uma mãe que acalenta seus filhinhos” (1Tes 2,7b). O ministro tem seu colo no coração terno do Pai onde aprender a fazer como faz Deus. Essa ternura chega ao desejo de dar não só a Palavra, mas a própria vida, “de tanto que amamos vocês”, escreve Paulo. Creio que, se amarmos o povo, ele certamente compreenderá nossa fraqueza humana e espiritual e seremos ajudados a crescer pois, nós que deixamos a família encontramos outra. Amamos as pessoas para vivermos juntos a Palavra de Deus.
Leituras: Malaquias 1,14b-2,2.8-9; Sl 130;
1Tessalonicenses 2,7-9.13;Mateus 23,1-12.
Ficha:
1. Jesus dá seus últimos ensinamentos ao povo. Está no templo, coração do povo de Deus. Ali estão os mestres para ensinar. Jesus não critica sua pregação, mas a incoerência de suas vidas. Eles colocam peso sobre a comunidade, gostam de aparecer, procuram honras. Seu ensinamento não lhes dá direito a tomar o lugar de Deus. Jesus ensina que o mestre deve ser aquele que serve. A crítica serve também para nós.
2. Nós, ministros do povo corremos o mesmo risco. Sofremos os mesmos males que Malaquias critica em seu tempo. Além da incoerência, corremos o risco do desejo da honra, dos melhores lugares e do exibicionismo. Temos outros pecados que prejudicam as pessoas. Assim envergonhamos a Igreja e fazemos que ela perca o crédito.
3. Paulo nos ensina a ternura de Deus. O amor pelos fiéis leva-nos ao desejo de dar não só a Palavra, mas a própria vida. O amor é o melhor caminho para nosso crescimento.
Homilia do 31º Domingo do Tempo Comum
EM OUTUBRO DE 2005
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