São Gregório, o Iluminador, e o Rei Tirídates III são figuras transcendentes na
história armênia. Graças a eles o povo armênio se fez cristão, total e definitivamente.
Assim o cristianismo imprime um novo rumo à vida política, social e cultural dos
armênios. Gregório, educado na Capadócia grega, Tirídates, formado em Roma e
protegido do Imperador Diocleciano, darão à Armênia uma orientação clara do mundo
greco- romano.
No campo social, a nova religião é força fundamental que guia a vida familiar, a
educação, os costumes e a vida moral do povo; a Igreja é inseparável da vida quotidiana
de seus fiéis, é sua protetora, sua dirigente, sua educadora. As virtudes cristãs dapiedade
e da caridade são o principal adorno da mulher e do homem armênios. É em seu paísque
aparecem os primeiros hospitais. A literatura e as artes são de inspiração genuinamente
cristãs. Membros da família Mamikonyan, Vartan, Vahan e o sacerdote Ghevont
(Leôncio) são os antecessores e símbolos de todos aqueles que, através dos séculos, lutam
para assegurar à sua pátria a liberdade de viver a sua fé cristã.
Há cristãos na Armênia antes de São Gregório, o Iluminador. Missionários do
Leste e do Sul vem para evangelizar a Armênia. Segundo uma tradição venerável, os
Apóstolos Tadeu e Bartolomeu pregam na Armênia e ali são martirizados. O historiador
Eusébio de Cesareia nos fala desses núcleos cristãos armênios. Cita um bispo Armênio
chamado Meruzanes. Porém, essas comunidades, vivendo e atuando na clandestinidade,
não tem maior importância na vida da Armênia.
Com a conversão de Tirídates e a ação apostólica de Gregório, o cristianismo se
transforma em religião de Estado e atua em plena luz. O próprio Rei, secundado por sua
irmã Khosrovidukht e a Rainha Ashkhen, desenvolve um apostolado intenso e valioso
para converter seu povo ao cristianismo. Seguindo o exemplo dado pelo Rei, diz-nos o
historiador Agatângelo, são levados ao batismo os nakharark’ (senhores provinciais) com
todos os seus súditos.
Torna-se difícil crer que as massas aceitaram o cristianismo sem apresentar
resistência e que toda a nobreza fosse sincera em sua conversão. Nem os nobres, nem o
povo estavam preparados para uma mudança tão radical, nem dispostos à renunciar a vida
pagã, a seus caros deuses, como Aramazd, Anahit, Asdjik e tantas outras divindades
complacentes a fim de adorar um novo Deus, ciumento, o qual não admite nenhuma outra
divindade, que exige de seus fiéis uma vida santa, uma vida sacrificada, que manda amar
os inimigos e perdoar as ofensas. A classe sacerdotal pagã é poderosa, dona de imensas
propriedades, com milhares de servos a seu serviços, apoiada pelo Império persa protetor
da religião masdeísta.
Nem o exemplo dado pelo Rei, nem sua autoridade real são motivos suficientes
para impor a nova religião, se não mediasse a personalidade avassaladora de Gregório,
com sua grande santidade. O homem de Deus, movido por sua sabedoria e seu amor ao
povo, usa de sua prudência. Enquanto os homens a mando do Rei destroem os templos
pagãos e erguem igrejas cristãs, Gregório distribui aos operários e pobres as riquezas dos
templos e cede aos camponeses parte das terras pertencentes ao culto pagão. Sem essas
medidas, não chegariam a frear o furor dos mais exaltados, abrem os olhos dos demais
para descobrir virtudes desconhecidas na nova religião: caridade, justiça social e novas
relações humanas que enobrecem as pessoas.
Os primeiros historiadores armênios exaltam a obra e as virtudes de Gregório.
Agatângelo recolhe seus ensinamentos e relata a história da conversão da Armênia e as
obras maravilhosas de seu herói. O povo armênio capta tão genuinamente a mensagem de
seu Apóstolo que lhe dá o epíteto de Lussavoritch, “o Iluminador”. E quando o Império
russo exigiu da Igreja Armênia um nome específico, chamou-a de Lussavortchakan
Yekeghetsi, isto é, “Igreja Iluminadora”, que, no Ocidente, soou “Igreja gregoriana”.
Em um estilo ameno, o autor quer penetrar no significado profundo da vida e obra
do Apóstolo da Armênia. Ele segue seus passos através das antigas fontes, da reflexão
dos historiadores e dos filólogos, mostrando assim que São Gregório, o Iluminador, é
mais do que alguém que buscou isoladamente a Deus. Ao ler essas páginas, não somente
para conhecer a história cativante do Iluminador, em sua versão tradicional, mas com
piedade, admirando as maravilhas que Deus realiza em favor do povo armênio por meio
de seu Confessor Gregório.
O grande Pascal invocava o “Deus de Abraão, Isaac e Jacó e não o Deus dos
filósofos”, querendo com isso dizer: o Deus de amor, amigo do ser humano, o Deus
Salvador e não o Deus Primeiro Motor ou Causa das Causas. O mesmo digo eu de São
Gregório, o Iluminador: Não o Gregório submetido em sua vida e em sua obra ao bisturi
da crítica dos eruditos, mas o Gregório que converte ao Cristianismo o povo armênio, o
Gregório venerado e amado com devoção por seu povo ao longo de toda sua história. É
isso que quer fazer o autor deste texto.
Mons. Dr. Pascual Tekeyan
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